O Irã lançou dezenas de mísseis contra Israel nesta terça-feira (1/10).
A ação é mais um passo na escalada de tensões no Oriente Médio com os ataques de Israel contra o Hezbollah no Líbano.
Não há informações de mísseis terem atingido áreas urbanas ou moradias, mas o Irã já anunciou que haverá uma nova onda de ataques ainda mais intensa.
Israel já está empenhado na guerra em Gaza e também enfrenta crescentes combates transfronteiriços com o grupo libanês Hezbollah.
Mas qual o tamanho do poder militar entre Irã e Israel? Algum deles está em vantagem?
Qual lado está em vantagem?
A BBC tentou responder a esta questão utilizando as fontes listadas abaixo, embora cada país possa ter uma capacidade significativa que é mantida em segredo.
O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) compara o poder de fogo das forças armadas de ambas as nações, utilizando uma variedade de métodos oficiais e de código aberto para produzir as melhores estimativas possíveis.
Outras organizações, como o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, também fazem avaliações, mas a precisão pode variar em países que muitas vezes não fornecem números.
No entanto, Nicholas Marsh, do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (PRIO), afirma que o IISS é visto como uma referência para avaliar a força militar dos países em todo o mundo.
O IISS afirma que Israel gasta mais no seu orçamento de Defesa do que o Irã, o que proporciona ao país uma força significativa em qualquer conflito potencial.
O IISS diz que o orçamento de defesa do Irã foi de cerca de 7,4 bilhões de dólares em 2022 e 2023, enquanto o de Israel foi mais que o dobro disso, chegando a cerca de 19 bilhões de dólares.
Os gastos de Israel com sua defesa, em comparação com o seu Produto Interno Bruto (uma medida da sua produção econômica), são também o dobro dos do Irã.
Vantagem tecnológica
Os números do IISS mostram que Israel tem 340 aeronaves militares prontas para o combate, o que lhe confere uma vantagem em ataques aéreos de precisão.
Entre os jatos estão aviões F-15 com alcance de ataque de longa distância, F-35 – aviões “stealth” de alta tecnologia que podem escapar do radar – e helicópteros de ataque rápido.
O IISS estima que o Irã tenha cerca de 320 aeronaves com capacidade de combate. Os jatos datam da década de 1960 e incluem F-4, F-5 e F-14 (este último é o avião que ficou famoso no filme Top Gun de 1986).
Mas Nicholas Marsh, do PRIO, diz que não está claro quantos desses aviões antigos podem realmente voar, porque seria extremamente difícil obter peças de reparo.
Domo de Ferro e Arrow
A espinha dorsal da defesa de Israel são os seus sistemas Domo de Ferro e 'Arrow' (Flecha).
O engenheiro de mísseis Uzi Rubin é o fundador da Organização de Defesa de Mísseis de Israel no Ministério da Defesa do país.
Agora pesquisador sênior do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém, ele disse à BBC como se sentiu “seguro” quando viu o Domo de Ferro e os aliados internacionais destruindo quase todos os mísseis e drones que o Irã disparou contra Israel no sábado.
"Me senti muito satisfeito e muito feliz... É muito especializado contra os seus alvos. É uma defesa antimísseis de curto alcance. Não há nada semelhante a isso em qualquer outro [sistema]."
Qual é a distância entre Irã e Israel?
Israel fica a mais de 2.100 km do Irã. Seus mísseis são a principal forma de atacar o país, disse Tim Ripley, editor do Defence Eye, à BBC.
O programa de mísseis do Irã é considerado o maior e mais diversificado do Oriente Médio.
Em 2022, o general Kenneth McKenzie, do Comando Central dos EUA, disse que o Irã tinha “mais de 3.000” mísseis balísticos.
De acordo com o Projeto de Defesa contra Mísseis CSIS, Israel também exporta mísseis para vários países.
Mísseis e drones do Irã
O Irã realizou um extenso trabalho nos seus sistemas de mísseis e drones desde a guerra com o vizinho Iraque, de 1980 a 1988.
Desenvolveu mísseis e drones de curto e longo alcance, muitos dos quais foram recentemente disparados contra Israel.
Analistas que estudam mísseis direcionados à Arábia Saudita pelos rebeldes houthi concluíram que foram fabricados no Irã.
'Punir' com ataque de longo alcance
Tim Ripley, da Defense Eye, diz que é altamente improvável que Israel se aventure em uma guerra terrestre com o Irã: "A grande vantagem de Israel é o seu poder aéreo e as suas armas guiadas."
Ripley diz que é mais provável que Israel mate autoridades e destrua instalações petrolíferas pelo ar.
"'Punir' está no cerne disso... Os líderes militares e políticos israelenses usam essa palavra o tempo todo. Faz parte de sua filosofia que eles tenham que infligir dor para fazer seus oponentes pensarem duas vezes sobre sua oposição a Israel. "
No passado, figuras militares e civis iranianas de alto perfil foram mortas em ataques aéreos, incluindo na destruição, em 1 de abril, de um edifício do consulado iraniano na capital síria, que desencadeou o ataque do Irã.
Israel não assumiu a responsabilidade por isso ou por uma série de ataques contra autoridades iranianas proeminentes.
Mas também não negou a responsabilidade.
Forças navais
A envelhecida Marinha do Irã tem cerca de 220 navios, enquanto a de Israel tem cerca de 60, segundo relatórios do IISS.
Ataques cibernéticos
Israel tem mais a perder do que o Irã num ataque cibernético.
O sistema de defesa do Irã é menos avançado tecnologicamente do que o de Israel, pelo que um ataque eletrônico às forças armadas de Israel poderia conseguir muito mais.
A Direção Nacional Cibernética do governo israelense diz: “a intensidade dos ataques cibernéticos é maior do que nunca, pelo menos três vezes maior, e com ataques em todos os setores israelenses. A cooperação entre o Irã e o Hezbollah (a organização militante e política libanesa) aumentou durante a guerra.”
O órgão relata que ocorreram 3.380 ataques cibernéticos entre os ataques de 7 de outubro e o final de 2023.
O chefe da Organização de Defesa Civil do Irã, Brigadeiro-General Gholamreza Jalali, disse que o Irã frustrou quase 200 ataques cibernéticos no mês que antecedeu as recentes eleições parlamentares.
Em dezembro, o Ministro do Petróleo do Irã, Javad Owji, disse que um ataque cibernético causou perturbações a nível nacional nos postos de gasolina.
Ameaça nuclear
Presume-se que Israel possua as suas próprias armas nucleares, mas mantém uma política oficial de ambiguidade deliberada. O país não é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear não estando portanto sujeito às inspeções regulares da Agência Internacional de Energia Atômica.
Não se acredita que o Irã tenha armas nucleares e, apesar das muitas acusações, o país nega que esteja tentando usar o seu programa nuclear civil para se tornar um Estado com armas nucleares.
O Irã é um país muito maior do que Israel e a sua população (quase 89 milhões) é quase dez vezes superior à de Israel (quase 10 milhões).
Também tem cerca de seis vezes mais soldados em serviço que Israel. Há 600 mil soldados em exercício no Irã, enquanto Israel tem 170 mil, diz o IISS.
O que é a 'guerra por procuração' de Israel e do Irã
Embora Israel e o Irã não tenham travado uma guerra formal até a a publicação deste texto, ambos os países têm estado em conflito não oficial.
Importantes figuras iranianas em outros países são mortas em ataques amplamente atribuídos a Israel, incluindo no Irã, enquanto o Irã tem como alvo Israel através dos seus representantes.
O grupo militante e político Hezbollah está travando a maior das 'guerras por procuração' do Irã contra Israel a partir do Líbano. O Irã não nega apoiar o Hezbollah.
O apoio do país ao Hamas em Gaza é semelhante. O Hamas organizou os ataques de 7 de outubro contra Israel e há décadas dispara foguetes da Faixa de Gaza contra territórios israelenses.
Israel e as potências ocidentais acreditam que o Irã forneça armas, munições e treinamento ao Hamas.
Os houthis no Iêmen são amplamente vistos como outro representante iraniano. A Arábia Saudita diz que os mísseis houthi disparados contra o país são fabricados no Irã.
Os grupos apoiados pelo Irã também detêm um poder considerável no Iraque e na Síria. O Irã apoia o governo sírio e acredita-se que utilize o território sírio para ataques a Israel.
Reportagem adicional de Jeremy Bowen, Ahmen Khawaja, Carla Rosch, Reza Sabeti e Chris Partridge.
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