Muitos conservadores linha-dura do Irã estão ficando preocupados com a falta de atitude do país, à medida que Israel ataca o grupo armado libanês Hezbollah, seu aliado mais próximo e de longa data.
Quando o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, discursou na Assembleia Geral da ONU na terça-feira (24/9), ele criticou a guerra de Israel em Gaza e alertou que os ataques ao Líbano não poderiam ficar sem resposta.
Mas Pezeshkian, eleito em julho, adotou um tom mais conciliador do que seus antecessores linha-dura, evitando a retórica voltada para a aniquilação do arqui-inimigo da República Islâmica.
"Buscamos a paz para todos, e não temos intenção de entrar em conflito com nenhum país", ele declarou.
O presidente também anunciou a disposição do seu governo de retomar as negociações nucleares com as potências ocidentais, dizendo: "Estamos prontos para interagir com os participantes do acordo nuclear de 2015".
Outras autoridades iranianas de alto escalão e comandantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) também estavam sendo excepcionalmente contidos ao manifestar suas intenções de se vingar de Israel pelas ações contra seu país e seus principais aliados, o Hamas e o Hezbollah.
Mas o ataque de Israel nesta sexta-feira (27/9) que matou o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pode mudar o cenário.
O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, disse que o ataque "não ficará sem vingança".
Segundo Khamenei, a ofensiva contrária a Israel se tornará "ainda mais poderosa".
Ele disse ainda que, embora a frente de resistência tenha perdido um "porta-estandarte notável" e o Líbano tenha perdido um "líder incomparável", o Hezbollah se tornará mais forte.
Relação entre Irã e Hezbollah
O Irã armou, financiou e treinou o Hamas e o Hezbollah, mas os líderes de Teerã contam com o Hezbollah como um importante meio de dissuasão para impedir ataques diretos de Israel ao seu país.
O apoio iraniano tem sido fundamental para a transformação do Hezbollah na força armada e ator político mais poderoso do Líbano desde que o IRGC ajudou a fundar o grupo na década de 1980.
O Irã é o principal fornecedor das armas que o Hezbollah pode usar contra Israel, especialmente mísseis avançados e drones, e os EUA já alegaram anteriormente que o país também disponibiliza cerca de US$ 700 milhões em fundos anualmente.
Na semana passada, Mojtaba Amani, embaixador do Irã no Líbano, ficou gravemente ferido quando seu pager explodiu na embaixada em Beirute. Outros milhares de pagers e walkie-talkies usados por membros do Hezbollah também explodiram em dois ataques que mataram 39 pessoas no total.
O Irã culpou Israel, mas não fez nenhuma ameaça pública imediata de retaliação.
Em contrapartida, quando Israel atacou o consulado iraniano em Damasco, capital da Síria, em abril, matando oito comandantes de alto escalão das Forças Quds do IRGC, o Irã respondeu rapidamente lançando centenas de drones e mísseis contra Israel.
O Irã também prometeu retaliar depois de culpar Israel pelo assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, no fim de julho, embora ainda não tenha anunciado nenhuma operação.
Um ex-comandante do IRGC disse à BBC que ameaçar Israel repetidamente, sem cumprir as ameaças, estava prejudicando ainda mais a credibilidade da força entre seus apoiadores dentro do Irã e seus representantes no exterior.
Na segunda-feira (23/9), o presidente Pezeshkian disse a membros da imprensa americana, em Nova York, que Israel estava tentando atrair o Irã para uma guerra.
"O Irã está pronto para aliviar as tensões com Israel e depor as armas, se Israel fizer o mesmo", ele insistiu.
Alguns conservadores linha-dura próximos ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, criticaram o presidente por falar em aliviar as tensões com Israel, afirmando que ele deveria reconhecer sua posição e evitar dar entrevistas ao vivo.
Pezeshkian deveria participar de uma coletiva de imprensa em Nova York na quarta-feira (25/9), mas ela foi cancelada. Não ficou claro se ele foi forçado a cancelar por causa de seus comentários.
No Irã, o poder está nas mãos do aiatolá Khamenei e do IRGC. São eles que tomam as principais decisões estratégicas, e não o presidente.
Barak Ravid, um jornalista israelense do site de notícias americano Axios, informou na terça-feira que duas autoridades israelenses e diplomatas ocidentais indicaram que o Hezbollah estava pedindo ao Irã que ajudasse o grupo a atacar Israel. As autoridades israelenses afirmaram que o Irã havia dito ao Hezbollah que "o momento não é adequado", segundo Ravid.
Na semana passada, o apresentador do programa iraniano de televisão Maydan, conhecido por ter vínculos com o IRGC, citou fontes da inteligência iraniana afirmando que Israel também "havia realizado uma operação especial no mês passado, matando membros do IRGC e roubando documentos".
Ele afirmou que a imprensa iraniana havia sido proibida de noticiar o incidente, que supostamente aconteceu no interior do Irã, e que as autoridades estavam tentando controlar a narrativa.
Em resposta, a agência de notícias Tasnim, que também é ligada ao IRGC, negou as alegações.
A República Islâmica se encontra em uma situação precária. O país teme que um ataque a Israel possa provocar uma resposta militar dos EUA, arrastando o país para um conflito mais amplo.
Com uma economia estagnada devido às sanções dos EUA e à contínua turbulência interna, um potencial ataque dos EUA contra o IRGC poderia enfraquecer ainda mais o aparato de segurança do regime, encorajando possivelmente os opositores iranianos a rebelarem mais uma vez.
No entanto, se o Irã se abster de intervir diretamente no conflito do Hezbollah com Israel, corre o risco de enviar um sinal a outras milícias aliadas na região de que, em tempos de crise, a República Islâmica pode priorizar sua própria sobrevivência e interesses, em detrimento dos delas.
Isso poderia enfraquecer a influência e as alianças do Irã em toda a região.
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