Casados há 46 anos, Peter e Christine Scott agora querem morrer juntos. Ela, de 80 anos, foi diagnosticada com demência vascular e, por isso, decidiu passar pela eutanásia. A decisão também envolve pôr fim à vida de Peter, de 86 anos. O casal de britânicos buscou a empresa suíça The Last Resort para o procedimento, que envolve a construção de uma cápsula exclusiva para o caso, em que os dois consigam acionar, ao mesmo tempo, o botão que desencadeará suas mortes.
A expectativa é que o equipamento fique pronto em janeiro de 2025. Ao Daily Mail, Peter refletiu sobre como o envelhecimento enfraqueceu os dois. “Tivemos vidas longas, felizes, saudáveis e realizadas, mas aqui estamos na velhice e isso não faz bem a você. A ideia de assistir à lenta degradação das habilidades mentais de Chris em paralelo ao meu próprio declínio físico é horrível para mim”, disse.
Ele também explicou porque eles optaram pela eutanásia em vez de tentar um cuidador. “Obviamente, eu cuidaria dela a ponto de não poder, mas ela cuidou de pessoas com demência o suficiente durante sua carreira para ser inflexível de que quer permanecer no controle de si mesma e de sua vida. A morte assistida lhe dá essa oportunidade e eu não gostaria de continuar vivendo sem ela. Entendemos que outras pessoas podem não compartilhar nossos sentimentos e respeitamos a posição delas. O que queremos é o direito de escolher. Acho profundamente deprimente não podermos fazer isso aqui no Reino Unido”, afirmou.
“Não quero ir para um centro de tratamento, ficar deitado na cama babando e incontinente — não chamo isso de vida”, desabafou. Atualmente, ele busca a papelada necessária para o requerimento da morte assistida.
Enquanto isso, Christine faz plano para seus últimos dias de vida. “Gostaria de caminhar com Peter nos Alpes Suíços, perto de um rio. Eu comeria um belo prato de peixe na minha última ceia e apreciaria uma ótima garrafa de Merlot. Eu faria uma playlist incluindo ‘Wild cat blues’ e ‘The young ones’ de Cliff Richard e leria um poema chamado ‘Miss me but let me go’, que resume exatamente como me sinto.'
História de amor
Peter e Christine se conhecerem em um clube de jazz e se apaixonaram à primeira vista. Ela era enfermeira e tinha uma filha pequena do primeiro casamento. Juntos, eles tiveram um filho juntos. Seus descendentes pedem para que os pais se mudem para uma casa de repouso, mas os dois já estão obstinados.
“É uma vida adorável, mas tenho esse diagnóstico, e isso cristalizou nosso pensamento. A medicina pode retardar a demência vascular, mas não pode pará-la. No momento em que pensei que estava me perdendo, eu diria: 'É isso, Pete, não quero ir mais longe’”, contou Christine.
“Eu disse a ela: 'Você toma a decisão e eu estarei com você.' A morte não é problema algum para mim. Eu apenas lhe daria um grande abraço e diria: 'Espero vê-la mais tarde.'”, completou Peter. Com o tempo, os filhos acabaram dizendo que respeitariam seus desejos.
Como vai funcionar?
A cápsula de morte assistida do casal já foi projetada e será impressa em uma impressora 3D. A tecnologia funciona substituindo o ar por 100% de nitrogênio, deixando o ocupante inconsciente e impedindo-o de respirar em minutos, levando-os à morte.
A morte assistida é ilegal no Reino Unido. Por isso, eles procuraram a empresa na Suíça. Para passar pelo procedimento, os dois devem fazer avaliações psiquiátricas rigorosas. Eles esperam morrer nos braços um do outro após um casamento longo e feliz.
No início deste ano, o primeiro-ministro holandês Dries van Agt e sua esposa Eugenie, ambos com 93 anos, morreram de mãos dadas por eutanásia. O caso aumentou o número de casais interessados no procedimento em toda Europa.