Donald Trump jogava golfe em seu resort Trump International Golf Course, em West Palm Beach, na Flórida, quando agentes do Serviço Secreto dos Estados Unidos identificaram um homem armado com um fuzil AK-47, por volta das 13h30 deste domingo (15/9) (14h30 em Brasília), perto de um bosque. O suspeito estava posicionado a uma distância de entre 275m e 455m do candidato republicano à Casa Branca. Segundo o jornal The Washington Post, um dos agentes estava apenas um buraco à frente de Trump.
Ao avistar o cano do fuzil saindo de uma cerca, o policial confrontou o potencial atirador, que escapou e foi capturado durante uma blitz na rodovia interestadual I-95, a 64km ao norte do campo de golfe. Uma testemunha viu o suspeito sair dos arbustos e entrar em um carro preto da marca Nissan. Ela conseguiu fotografar a placa do veículo e repassou as imagens às autoridades. Ao ser abordado, o homem parecia "relativamente calmo". Para realizar a prisão, a polícia bloqueou o trânsito na I-95.
Em nota, Steven Cheung, diretor de Comunicações da campanha de Trump, garantiu que o magnata está "são e salvo após disparos na sua proximidade". "O ex-presidente está seguro", confirmou o Serviço Secreto. "O FBI respondeu a um incidente em West Palm Beach, Flórida, e está investigando o que parece ser uma tentativa de assassinato do ex-presidente Trump", disse a polícia federal dos Estados Unidos, por meio de um comunicado.
O fuzil com mira telescópica, duas mochilas e uma câmera GoPro — encontrados no local — estariam sendo periciados. No início da noite, a imprensa norte-americana divulgou a identidade do suspeito: Ryan Wesley Routh, 58 anos, morador do Havaí. "Não estamos certos se o indivíduo conseguiu disparar contra nossos agentes", explicou Rafael Barros, agente do FBI.
Em 13 de julho, Trump escapou da morte (leia Memória), ao ser atingido de raspão na orelha, durante comício na cidade de Butler (Pensilvânia). Na ocasião, o atirador foi abatido pelo Serviço Secreto. Pouco depois do incidente de ontem, Trump usou um e-mail para a arredacação de fundos de campanha para anunciar que estava bem. "Houve tiros nas imediações, mas antes de rumores começarem a ficar fora de controle, quero que vocês ouçam: 'Estou seguro e bem'. Nada vai me atrapalhar. Nunca me renderei", escreveu. Horas depois, tornou a utilizar outro e-mail de coleta de doações para comentar o incidente. "Minha determinação só ficou mais forte depois de outra tentativa contra minha vida."
A Casa Branca emitiu uma nota segundo a qual "o presidente (Joe Biden) e a vice-presidente (Kamala Harris) foram informados sobre o incidente de segurança no Trump International Golf Course. (...) Eles estão aliviados em saber que o ex-presidente está a salvo". Candidata democrata nas eleições de 5 de novembro, Kamala também publicou, nas redes sociais, que "a violência não tem lugar na América".
"Bom humor"
O senador J.D. Vance, vice na chapa do Partido Republicano, contou que conversou com Trump ao telefone, depois do incidente. "Falei com ele antes que a notícia se tornasse pública e ele estava, surpreendentemente, de bom humor. Ainda há muito que não sabemos, mas vou abraçar meus filhos com mais força esta noite e fazer uma oração de gratidão", afirmou.
"O Serviço Secreto e a polícia da Flórida reagiram de forma apropriada e rápida. Isso novamente destaca a dificuldade de proteger figuras públicas proeminentes e de manter suas agendas precisas privadas", disse ao Correio, por e-mail, Karen Hult, especialista em Presidência dos Estados Unidos pelo Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (Virginia Tech). Ela não acredita que o novo atentado surta tanto impacto sobre a votação em Trump. "Parece provável que isso mobilize ainda mais seus apoiadores, ao mesmo tempo em que, possivelmente, amplificará sua desconfiança no FBI e no Serviço Secreto. Também pode aumentar os níveis de animosidade dos simpatizantes do ex-presidente em relação ao governo Biden, ao Departamento de Justiça e à chapa Kamala Harris-Tim Walz."
Para Allan Lichtman, historiador político da American University, a falta de controle sobre armas nos EUA coloca todos os cidadãos em perigo, incluindo crianças nas escolas e figuras políticas importantes. "Um americano está 20 vezes mais propenso a ser assassinado por uma arma do que moradores de países do G7 mais a Austrália. Assim como nos EUA, essas nações têm problemas com saúde mental, gangues e drogas. A diferença, aqui, são as armas", lamentou ao Correio.
A dinâmica do incidente
Fuzil localizado
Às 13h30 (14h30 em Brasília), o Serviço Secreto dos Estados Unidos identificou o cano de um fuzil saindo de uma cerca, em meio aos arbustos. Os agentes confrontaram o suspeito, que estava a uma distância de entre 275 e 455 metros do ex-presidente Donald Trump.
Tiros durante partida
Trump se movia entre os buracos cinco e seis de seu clube de golfe, acompanhado do amigo e doador de campanha Steve Witkoff, quando ambos foram surpreendidos por disparos. O Serviço Secreto tirou os dois do local e fechou o clube de golfe.
Testemunha-chave
Uma testemunha viu o momento em que o suspeito saiu correndo do meio dos arbustos e entrou em um carro preto da marca Nissan. A testemunha conseguiu fotografar o carro e a placa, e enviar as informações à polícia.
Prisão na rodovia
A polícia e o Serviço Secreto imediatamente bloquearam o trânsito na Rodovia Interestadual I-95. O carro do suspeito foi localizado e parado. Ao ser abordado pelo Serviço Secreto, o potencial atirador não demonstrou qualquer tipo de emoção, exceto calma.
EU ACHO...
"O acesso a armas nos EUA — com variações de acordo com leis estaduais e locais e outros fatores — é parte da história envolvendo o novo atentado contra Trump. A possibilidade de adquirir armamentos de força letal militar e policial, sem dúvida, coloca muitos em risco, incluindo o ex-presidente. Depois desse novo incidente, a segurança será reforçada em torno dos candidatos e dos eventos de campanha. Apesar dos apelos para diminuir a pressão e conter a animosidade entre os apoiadores dos dois lados, isso não parece muito provável."
Karen Hult, especialista em Presidência dos Estados Unidos pelo Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (Virginia Tech)
MEMÓRIA
Em julho, ele sobreviveu por um triz
Em 13 de julho passado, uma pequena inclinação da cabeça de Donald Trump salvou o magnata da morte. O candidato do Partido Republicano discursava em área aberta, na cidade de Butler (Pensilvânia), quando Thomas Matthew Crooks, 20 anos, disparou um fuzil AR 556, do alto de um telhado, a cerca de 150m do palanque. A bala resvalou na orelha direta de Trump, que foi imediatamente socorrido pelos agentes do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Antes de deixar o palanque, cerrou o punho direito, em um gesto desafiador.
Trump relatou o que ocorreu às 20h42 (hora local), em uma mensagem na sua rede Truth Social. "Atiraram contra mim com uma bala que atravessou a parte superior da minha orelha direita", escreveu. "Eu soube imediatamente que algo estava errado porque ouvi um zumbido, tiros e imediatamente senti a bala rasgando a pele." Um espectador foi atingido por um dos disparos e morreu; dois outros ficaram gravemente feridos.
O atentado provocou uma onda de críticas e levou à revisão independente sobre o mecanismo de segurança disponibilizado para presidentes e ex-presidentes. Dez dias depois da tentativa de assassinato, na Pensilvânia, Kimberly Cheatle — diretora do Serviço Secreto dos Estados Unidos — entregou o cargo. Amigos e conhecidos de Thomas Matthew Crooks descreveram o jovem atirador como "tranquilo e solitário". As autoridades descartaram que ele tivesse qualquer problema de saúde mental. O fuzil AR 556 foi comprado legalmente pelo pai do atirador.