Morador de Beirute, o engenheiro de redes libanês Shady Rizk, 40 anos, foi surpreendido pelo barulho dos caças israelenses, quase no fim da tarde. "Muitos aviões sobrevoaram a capital, às 16h45 (10h45 em Brasília) desta sexta-feira (20/9). Às 16h47, escutamos quatro explosões e um enorme prédio foi destruído", contou ao Correio, por meio do WhatsApp. "No prédio, havia membros do Hezbollah. Há caos e pânico por todos os lugares. As pessoas estão nas ruas para socorrer os feridos. A situação é insuportável." Dois dias depois das explosões de pagers e walkie-talkies, Israel golpeou o bairro de Dahiyeh, o coração da milícia xiita, no sul da capital do Líbano, e matou 14 pessoas, entre elas, Ibrahim Aqil, comandante militar e membro fundador da força de elite Radwan.
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Aqil era apontado pelos Estados Unidos como o responsável pelas explosões na Embaixada norte-americana em 18 de abril de 1983, quando 63 pessoas morreram, e no quartel dos fuzileiros navais, em 23 de outubro do mesmo ano, matando 241 marines.
No fim da noite desta sexta-feira (hora local), o Hezbollah confirmou a morte de Aqil. "Hoje, o comandante sênior Ibrahim Aqil (Haj Abdulganer) se uniu à procissão dos mártires, depois de uma vida abençoada cheia de luta, trabalho, feridas, sacrifícios, desafios, conquistas e vitórias. Foi apropriado para ele alcançar essa honra divina", afirmou o movimento xiita, por meio de um comunicado. "Com honra e orgulho, a resistência islâmica oferece um de seus líderes como mártir na estrada para Jerusalém e compromete-se com sua alma pura a permanecer leal às suas metas e esperanças até a vitória." O termo "estrada para Jerusalém" é usado para combatentes mortos por Israel.
O Hezbollah intensificou os ataques ao norte de Israel, ao lançar mais de 200 foguetes contra a região, ontem. "Nossas metas são claras, nossas ações falam por si mesmas", declarou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, anunciou: "A série de operações na nova fase da guerra continuará até alcançarmos nossa meta — garantir o regresso seguro das comunidades do norte de Israel às suas casa". "Nós continuaremos perseguindo nossos inimigos para defender nossos cidadãos, mesmo em Dahiyeh, em Beirute", avisou.
Conselho de Segurança
No campo diplomático, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) reuniu-se, a pedido da Argélia, para debater as explosões de pagers e de walkie-talkies, que deixaram 37 mortos e quase 3 mil feridos. O ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib, acusou Israel de cometer "um método de guerra sem precedentes por sua brutalidade e seu terror". O chanceler ressaltou que os ataques desta semana foram "simplesmente terrorismo". Por sua vez, Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, lembrou que o direito internacional "proíbe" o uso de artefatos explosivos que pareçam objetos "inofensivos". "É um crime de guerra cometer atos de violência destinados a semear o terror na população civil", acrescentou, durante a sessão, em Nova York.
Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, Alon Ben-Meir explicou ao Correio que, com a redução substancial dos combates na Faixa de Gaza, Israel se foca no norte e seu território. "As atenções se voltam para a determinação em devolver aos seus lares cerca de 80 mil israelenses que abandonaram as comunidades ao longo da fronteira com o Líbano, desde outubro. Para esse fim, Israel realocou grandes divisões militares para o norte, enviando um claro sinal ao Hezbollah de que não tolerará mais os ataques contínuos e a intimidação", avaliou.
De acordo com Ben-Meir, as explosões de pagers e de walkie-talkies, os bombardeios de 200 alvos no sul do Líbano e o ataque aéreo em Beirute enviaram um mensagem ao Hezbollah e ao Irã. "O recado é que Israel está pronto para escalar o conflito, e, se necessário, se engajar em uma guerra total para pôr fim a 'condições intoleráveis' na fronteira", disse. Apesar de o xeque Hassan Nasrallah, líder máximo do Hezbollah, ter ameaçado punir Israel pelos ataques desta semana, o especialista de Nova York não crê em uma guerra completa no Oriente Médio. "Isso poderia envolver o Irã e até mesmo atrair os EUA para a briga, algo que Teerã deseja evitar a todo o custo", afirmou.
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