ENTREVISTA

"As mulheres afegãs são altamente respeitadas", garante líder do Talibã

Suhail Shaheen, chefe do Escritório Político do Talibã, movimento fundamentalista islâmico do Afeganistão, afirma ao Correio que mulheres têm papel de destaque na sociedade e usufruem de direitos, mas diz que elas devem seguir inteiramente as leis islâmicas

Suhail Shaheen:
Suhail Shaheen: "Não existe nenhuma restrição às mulheres" - (crédito: Dimitar Dilkoff/AFP)

Nas últimas semanas, a milícia fundamentalista islâmica afegã Talibã reforçou leis draconianas contra as mulheres. As novas normas proíbem as afegãs de levantar suas vozes ou de cantar em público, assim como recitar o Corão em meio a aglomerações ou mesmo de olhar para outros homens. Elas também passam a ser obrigadas a cobrir a metade inferior do rosto. A legislação de 114 páginas e 35 artigos — imposta pelo Ministério do Talibã para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício — impede, ainda, as mulheres de viajarem sem um homem guardião. Em entrevista exclusiva ao Correio, Suhail Shaheen, chefe do escritório político do Talibã em Doha (Catar), minimizou as novas medidas e garantiu "não existe nenhuma restrição às mulheres, à exceção das normas e valores à luz das regras islâmicas e das tradições da sociedade afegã". De acordo com ele, as mulheres afegãs são altamente respeitadas como mães, irmãs e esposas e ocupam cargos de importância nos Ministérios da Saúde Pública, da Educação e do Interior, em Cabul. 

O Talibã está sendo acusado de impor duras restrições às mulheres no Afeganistão. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Não existe nenhuma restrição às mulheres, à exceção das normas e valores à luz das regras islâmicas e das tradições da sociedade afegã. As mulheres continuam a trabalhar no Ministério da Saúde Pública. Elas atuam como médicas de ponta, enfermeiras e funcionárias da área de saúde. São cerca de 150 mil mulheres nessas condições. Além disso, há mulheres trabalhando no Ministério da Educação, nas funções de professoras e de funcionárias. Também temos mulheres atuando como policiais junto ao Ministério do Interior. Outras mulheres suprem as necessidades do governo e trabalham em outros ministérios. 

Afegãs usam burca, em foto de 2014: parte inferior do rosto também não pode ser exibida
Afegãs usam burca, em foto de 2014: parte inferior do rosto também não pode ser exibida (foto: SHAH MARAI)

Qual é a importância da mulher na sociedade afegã?

Em nossa sociedade, as mulheres são altamente respeitadas como mães, irmãs e esposas. Legalmente, elas têm o direito de escolher seus maridos, de acordo com as leis islâmicas. Também possuem direito à herança, e podem começar negócios próprios. O número de mulheres empreendedoras aumentou nos últimos três anos. Quase 125 mil mulheres trabalham em negócios no Afeganistão. 

Por que o Talibã proibiu as mulheres de falarem em público ou de saírem de casa sozinhas?

Como eu disse, as mulheres podem trabalhar como professoras ou empresárias, sem que haja qualquer restrição. De acordo com a nova lei, uma mulher não pode cantar em público, principalmente quando estiver entre muitas pessoas. Mas isso também não era permitido no passado. Basicamente, a lei atual não muda o status quo. 

E por qual motivo elas são proibidas de estudar?

De acordo com o que foi estabelecido por um mecanismo para a educação de mulheres no Afeganistão, as mulheres têm que observar o uso do hijab (véu islâmico) para estudar. Então, estamos aguardando a decisão de um comitê, o qual encontrará uma solução plausível. 

Há sinais de que algumas afegãs demonstram desespero ante a falta de liberdade...

As mulheres afegãs não estão enfrentando desespero por causa das leis islâmicas. No entanto, suas crianças sofrem por conta das sanções econômicas impostas pela comunidade internacional contra o Afeganistão. Sofrem, também, por causa da pobreza, do desemprego. Tais sanções deveriam ser removidas. Se a comunidade internacional quer aliviar o sofrimento das mulheres afegãs e das militantes do feminismo, deveriam remover essas sanções e lançar projetos de desenvolvimento no Afeganistão, a fim de fornecer oportunidades de trabalho e reduzir a pobreza prevalente no país. 

O senhor acha justo obrigar as mulheres a se submeterem à sharia (lei islâmica)?

De uma vez por todas, as garotas e mulheres afegãs são muçulmanas. Elas seguem inteiramente as leis islâmicas. É a mídia que torna os ressentimentos delas maiores do que a realidade. Atualmente, no islã, as mulheres encontram garantia, conforto espiritual, justiça e respeito. Você pode perguntar a qualquer mulher de nosso país sobre isso. 

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postado em 07/10/2024 20:00 / atualizado em 07/10/2024 20:37
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