MÉXICO

Protestos, caos e traições marcam aprovação da reforma judicial no México

Muitos dos manifestantes, principalmente funcionários do Judiciário em greve e estudantes universitários, invadiram o plenário onde os legisladores debatiam

Centenas de pessoas entraram em confronto com a tropa de choque da polícia após tentar entrar em uma antiga sede do Senado na Cidade do México. -  (crédito: ZENITH LR por Pixabay)
Centenas de pessoas entraram em confronto com a tropa de choque da polícia após tentar entrar em uma antiga sede do Senado na Cidade do México. - (crédito: ZENITH LR por Pixabay)

Manifestantes invadindo o Senado, acusações de traição e um caos que não se via em anos marcaram a aprovação final da polêmica reforma do presidente Andrés Manuel López Obrador para estabelecer a eleição popular de juízes.

Centenas de pessoas entraram em confronto com a tropa de choque da polícia após tentar entrar, na noite de terça-feira, em uma antiga sede do Senado na Cidade do México, onde se mobilizaram debaixo de chuva após invadirem a sede atual da Câmara alta.

"O poder Judiciário não vai cair, não vai cair!" e "Nem um passo atrás!", gritavam os críticos ao projeto, que transforma o México no primeiro país que elegerá todos os seus juízes e magistrados, incluindo os da Suprema Corte, pelo voto direto.

Muitos dos manifestantes, principalmente funcionários do Judiciário em greve e estudantes universitários, invadiram o plenário onde os legisladores debatiam, em cenas que lembraram a invasão do Capitólio, sede do Legislativo dos Estados Unidos em janeiro de 2021 por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.

"Senhor senador, detenha o ditador!", disseram os ocupantes, referindo-se ao presidente de esquerda, enquanto agitavam uma enorme bandeira do México e denunciavam que a reforma viola a independência dos juízes e acaba com a possibilidade de ascender pelo mérito.

Alguns se reuniram desde cedo nos arredores do Senado, após ter bloqueado, na semana passada, a Câmara dos Deputados, o que obrigou os legisladores votar e aprovar a reforma em um ginásio poliesportivo.

Antes de os manifestantes acabarem ocupando as tribunas, o presidente do Senado, Gerardo Fernández Noroña, suspendeu a sessão e culpou os opositores de mobilizar uma "operação formiga" para infiltrar os manifestantes em uma "tentativa de golpe" contra o Legislativo.

O debate foi retomado horas depois no Antigo Casarão de Xicoténcatl, onde o Senado funcionou até 2011.

- Oposição entrincheirada -

Para invadir o Senado, os manifestantes abriram caminho aos empurrões e derrubaram portas diante de uma escassa presença policial. "Não reprimimos", vangloriou-se Fernández Noroña.

No plenário, entoaram o hino nacional e gritaram frases como "Não estão sozinhos!", em apoio aos senadores da oposição.

"Perceberam que tínhamos a maioria qualificada (...) e tentaram atrapalhar a sessão", disse o presidente do Senado à imprensa.

Faltava apenas um voto ao partido governista Morena e seus aliados para conseguir este objetivo, enquanto os opositores PAN, PRI e Movimento Cidadão se comprometeram a votar contra.

Vários legisladores da oposição se entrincheiraram inclusive em hotéis antes do debate e pediram que ninguém lhes "virasse as costas". Uma senadora do conservador PAN também convidou a "linchar o cara" que traísse a oposição.

- "Traidor" -

No entanto, em círculos políticos e nas redes sociais cresceram os boatos sobre um "traidor" que se inclinaria para a situação.

Com o passar das horas, as sinalizações apontaram para o senador do PAN Miguel Ángel Yunes, que se declarou doente e foi substituído por seu pai, um questionado político do estado de Veracruz (leste).

"Teria sido mais decente, querido amigo, que você nos dissesse, 'Vou traí-los'", alfinetou o senador e presidente do PAN, Marko Cortés, para Yunes pai.

"Covarde e traidor é você!", retrucou Yunes.

Mais tarde, já em Xicoténcatl, o próprio Miguel Ángel Yunes filho por fim reapareceu para confirmar seu voto favorável à reforma, criticada por Estados Unidos, especialistas das Nações Unidas e organizações como Human Rights Watch.

Após a aprovação, na madrugada desta quarta-feira (11), por 86 votos a favor e 41 contra, as ruas vizinhas ficaram vazias, iluminadas apenas pelas luzes de patrulhas policiais.

yug/jla/axm/zm/mvv/aa

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Yussel GONZÁLEZ
postado em 11/09/2024 17:02
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