O primeiro — e talvez o único — debate entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos em 2024, Kamala Harris e Donald Trump, ocorreu na noite desta terça-feira (10/9), no National Constitution Center, na Filadélfia, com transmissão e organização da ABC News. Logo após o término do embate uma pergunta está sendo feita pelas campanhas democrata e republicana: quem venceu o debate?
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De acordo com os principais veículos que fizeram pesquisas qualitativas sobre o debate, a candidata Kamala Harris se saiu melhor, na visão dos eleitores indecisos.
De acordo com a pesquisa com eleitores indecisos do jornal The Washington Post, 91% dos entrevistados declararam que Kamala Harris foi melhor no debate, contra cerca de 9% que escolheram Donald Trump.
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Os eleitores foram questionados sobre as falas de Trump em relação aos imigrantes, levando em conta que o ex-presidente declarou que imigrantes estavam “comendo cães e gatos” na cidade de Springfield, em Ohio — história que foi desmentida ao vivo pelo jornalista David Muir, moderador do debate da ABC News.
26% dos entrevistados disseram que as falas de Trump sobre imigração "fazem sentido". 74% discordam.
Em relação ao aborto, 64% declaram que Kamala Harris foi melhor, contra 36% que escolheram Trump. No entanto, sobre como os candidatos lidaram com os temas econômicos, 52% disseram que Trump se saiu melhor, contra 48% de Kamala.
Novas pesquisas qualitativas sobre o debate devem ser divulgadas até o final desta semana.
O que disseram os principais jornais dos Estados Unidos?
O USA Today classificou que o debate teve Kamala com posicionamento agressivo e Trump na defensiva. O veículo lembrou que Trump "eliminou" Biden da corrida presidencial de 2024 no último debate, mas "o republicano se viu repetidamente derrubado na noite de terça-feira ao enfrentar sua nova oponente: Kamala Harris."
"Harris tentou abalar e atrair Trump, e muitas vezes conseguiu, levando a respostas defensivas, raivosas e desconexas", diz a análise do USA Today. O veículo destacou que Trump voltou-se repetidamente para o tema imigração, mas acabou se sustentando em afirmações falsas que foram corrigidas pelos moderadores.
O The New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, classificou o debate como "acirrado", mas destacou que Kamala colocou Trump na defensiva. O jornal diz ainda que Trump "frequentemente mordia a isca, respondendo às críticas de Harris com uma saraivada de desinformação e ataques pessoais", disse.
A Fox News criticou a atuação dos moderadores do debate da ABC. "Checagem agressiva de fatos sobre Trump e tratamento fácil de Harris", diz manchete do site após o debate.
O jornal The Los Angeles Times declarou que o "debate foi definido em parte por inverdades e tangentes bizarras, especialmente de Trump".
O site da CNN dos Estados Unidos classificou que Kamala provocou mais Trump e estava "extensivamente preparada". O ex-presidente estava "frequentemente fora de controle", de acordo com o site. "Trump repetiu uma teoria da conspiração sobre imigrantes comendo animais de estimação e mentiu sobre os democratas apoiarem abortos após o nascimento dos bebês — o que é assassinato e ilegal em todos os lugares", disse o site.
O que disseram os especialistas?
Em entrevista ao Correio, Tabitha Bonilla — especialista em comportamento político e comunicação e professora da Northwestern University (em Illinois) — explicou que Kamala fez questão de ser inclusiva na retórica, ao prometer, por várias vezes, ser presidente para todos os norte-americanos. "Ela também afirmou que elevará a classe média e criar uma economia de oportunidades. Tentou apresentar um futuro otimista. Trump, no entanto, foi negativo, atribuiu os problemas ao governo Biden e aos imigrantes 'que eles deixam entrar'. O republicano levantou a falsa história de que os imigrantes estão comendo cães", comentou.
Professora de retórica, política e cultura da Universidade de Wisconsin-Madison, Allison M. Prasch considerou interessante que Kamala tenha se apegado a respostas polidas, bem articuladas e alimentadas com fatos. "Ela procurou falar aos eleitores indecisos, ao lembrar às pessoas que existe uma 'sala para elas'. Trump, por sua vez, conversou mais com a sua base, mas o fez de maneira que possa ser desanimadora para o eleitor 'relutante' a votar nele", disse à reportagem.
Por sua vez, David Karol — professor do Departamento de Governo e Política da Universidade de Maryland — destacou o fato de os moderadores do debate terem verificado os fatos e corrigido declarações imprecisas de Trump. "Isso não ocorreu no debate com Biden", lembrou, por e-mail. "Kamala mostrou-se imperturbável. Trump, muito enérgico, mas irritado. Não creio que Trump conquistará o apoio de alguém que ainda não o avalize."
James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island), falou ao Correio de Berlim, enquanto o debate transcorria. "Ficou evidente que Trump não conseguiu ter argumentos fortes e utilizou medo, racismo e xenofobia para incentivar a base republicana. Kamala tentou ser positiva sobre o futuro do país. Isso a ajudará muito nas eleições", analisou.
(Colaborou Rodrigo Craveiro)
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