Venezuela

Venezuela: ordem de prisão contra González gera onda de repúdio internacional

Na clandestinidade há mais de um mês, Edmundo González Urrutia descarta, pelo menos por enquanto, pedido de asilo para escapar da detenção ordenada pela Justiça. Estados Unidos estudam medidas contra o regime de Nicolás Maduro

Rival de Maduro nas eleições de julho, líder antichavista exigiu mais uma vez, ontem, a divulgação das atas de votação       -  (crédito:  AFP)
Rival de Maduro nas eleições de julho, líder antichavista exigiu mais uma vez, ontem, a divulgação das atas de votação - (crédito: AFP)

A comunidade internacional reagiu enfaticamente à ordem de prisão emitida pelo regime venezuelano contra o líder antichavista Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho. Os Estados Unidos, o chefe da diplomacia da União Europeia e nove países da América Latina, além da Organização dos Estados Americanos (OEA), repudiaram a decisão, classificada como perseguição política. Washington estuda medidas contra Caracas.

González Urrutia, que reivindica a sua vitória nas urnas, não é visto em público há mais de um mês. Após a ordem de prisão, fez uma postagem em uma rede social cobrando a divulgação das atas de votação das eleições presidenciais, das quais afirma ter saído vitorioso.

O diplomata de 75 anos teve a captura determinada por um tribunal com competência para julgar terrorismo por ignorar três intimações judiciais, que considerava armadilhas para sua prisão. O rival de Maduro é procurado por crimes que incluem "desobediência às leis", "conspiração", "usurpação de funções" e "sabotagem".

Numa entrevista concedida em frente à residência de González Urrutia, o advogado José Vicente Haro disse que seu cliente descarta, por enquanto, pedir asilo em alguma embaixada na Venezuela. "É uma questão que a família ou o senhor Edmundo González Urrutia não levantaram", declarou, acrescentando: "Temos pouco conhecimento sobre esse processo judicial".

Até o fechamento desta edição, o mandado de prisão, que está a cargo da polícia judiciária, não havia sido executado. Nicolás Maduro chamou o opositor de covarde por estar "enconchado", gíria popular para quem se esconde das autoridades, e afirmou que ele está preparando a fuga.

"Cúmplice da quadrilha criminosa que tratou de incendiar o país", classificou o chanceler venezuelano, Yván Gil, "agora faz birra quando a justiça chega aos organizadores da violência e do desconhecimento dos poderes públicos". "Respeitem o nosso país e a nossa soberania, continuaremos a avançar apesar de seu ódio e pretensões neocoloniais".

"Ações ilegítimas"

Os Estados Unidos, que não mantêm relações formais com a Venezuela há cinco anos, pretendem aumentar a pressão sobre Caracas. Washington considera "uma série de opções" para mostrar a Maduro "que suas ações ilegítimas e repressivas na Venezuela têm consequências", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.

"Esse é apenas mais um exemplo dos esforços do senhor Maduro para manter o poder pela força", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, enquanto Brian Nichols, representante dos EUA para a América Latina e o Caribe, qualificou o mandado de prisão como "injustificado".

Washington já impôs em 2019 uma série de sanções contra o país caribenho, mas flexibilizou várias delas nos últimos anos, especialmente no que se refere à exploração petrolífera.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, rejeitou "categoricamente" a ordem de prisão contra González Urrutia, enquanto um porta-voz da ONU disse que o secretário-geral, António Guterres, "acompanha com preocupação" os eventos na Venezuela e reiterou seu "apelo à proteção total e ao respeito pelos direitos humanos".

Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai também condenaram "de forma inequívoca e absoluta" a medida contra González. "O mandado de prisão busca silenciar o senhor González, desconhecer a vontade popular venezuelana e constitui perseguição política", indicaram em um comunicado. "Em um país onde não há separação de poderes nem garantias judiciais mínimas e onde abundam as detenções arbitrárias, condenamos essas práticas ditatoriais."

Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não publicou o detalhamento da apuração como exige a lei. A oposição afirma que a vitória de González é comprovada pelas cópias de mais de 80% das atas de votação que foram publicadas em um site, documentos que o chavismo desconsidera e diz serem forjados.

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postado em 04/09/2024 06:00
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