A comunidade internacional reagiu enfaticamente à ordem de prisão emitida pelo regime venezuelano contra o líder antichavista Edmundo González Urrutia, rival de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho. Os Estados Unidos, o chefe da diplomacia da União Europeia e nove países da América Latina, além da Organização dos Estados Americanos (OEA), repudiaram a decisão, classificada como perseguição política. Washington estuda medidas contra Caracas.
González Urrutia, que reivindica a sua vitória nas urnas, não é visto em público há mais de um mês. Após a ordem de prisão, fez uma postagem em uma rede social cobrando a divulgação das atas de votação das eleições presidenciais, das quais afirma ter saído vitorioso.
O diplomata de 75 anos teve a captura determinada por um tribunal com competência para julgar terrorismo por ignorar três intimações judiciais, que considerava armadilhas para sua prisão. O rival de Maduro é procurado por crimes que incluem "desobediência às leis", "conspiração", "usurpação de funções" e "sabotagem".
Numa entrevista concedida em frente à residência de González Urrutia, o advogado José Vicente Haro disse que seu cliente descarta, por enquanto, pedir asilo em alguma embaixada na Venezuela. "É uma questão que a família ou o senhor Edmundo González Urrutia não levantaram", declarou, acrescentando: "Temos pouco conhecimento sobre esse processo judicial".
Até o fechamento desta edição, o mandado de prisão, que está a cargo da polícia judiciária, não havia sido executado. Nicolás Maduro chamou o opositor de covarde por estar "enconchado", gíria popular para quem se esconde das autoridades, e afirmou que ele está preparando a fuga.
"Cúmplice da quadrilha criminosa que tratou de incendiar o país", classificou o chanceler venezuelano, Yván Gil, "agora faz birra quando a justiça chega aos organizadores da violência e do desconhecimento dos poderes públicos". "Respeitem o nosso país e a nossa soberania, continuaremos a avançar apesar de seu ódio e pretensões neocoloniais".
"Ações ilegítimas"
Os Estados Unidos, que não mantêm relações formais com a Venezuela há cinco anos, pretendem aumentar a pressão sobre Caracas. Washington considera "uma série de opções" para mostrar a Maduro "que suas ações ilegítimas e repressivas na Venezuela têm consequências", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.
"Esse é apenas mais um exemplo dos esforços do senhor Maduro para manter o poder pela força", declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, enquanto Brian Nichols, representante dos EUA para a América Latina e o Caribe, qualificou o mandado de prisão como "injustificado".
Washington já impôs em 2019 uma série de sanções contra o país caribenho, mas flexibilizou várias delas nos últimos anos, especialmente no que se refere à exploração petrolífera.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, rejeitou "categoricamente" a ordem de prisão contra González Urrutia, enquanto um porta-voz da ONU disse que o secretário-geral, António Guterres, "acompanha com preocupação" os eventos na Venezuela e reiterou seu "apelo à proteção total e ao respeito pelos direitos humanos".
Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai também condenaram "de forma inequívoca e absoluta" a medida contra González. "O mandado de prisão busca silenciar o senhor González, desconhecer a vontade popular venezuelana e constitui perseguição política", indicaram em um comunicado. "Em um país onde não há separação de poderes nem garantias judiciais mínimas e onde abundam as detenções arbitrárias, condenamos essas práticas ditatoriais."
Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que não publicou o detalhamento da apuração como exige a lei. A oposição afirma que a vitória de González é comprovada pelas cópias de mais de 80% das atas de votação que foram publicadas em um site, documentos que o chavismo desconsidera e diz serem forjados.
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