Palestinos

Oriente Médio: Israel lança ampla ofensiva militar na Cisjordânia

Centenas de soldados invadem quatro cidades do território palestino e dois campos de refugiados, apoiados por ataques de drones, em uma "operação antiterrorista". Liderança do grupo extremista Hamas defende retomada de atentados suicidas

Enquanto as atenções do mundo se voltavam para a Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel (IDF) lançaram a maior operação militar na Cisjordânia desde 2002. Pelo menos 11 palestinos foram mortos na incursão terrestre apoiada por bombardeios de drones. Centenas de soldados israelenses e blindados invadiram quatro cidades — Nablus, Jenin, Tulkarem e Tubas — e dois campos de refugiados palestinos. A operação teve a participação do serviço de segurança Shin Bet.

Horas depois do início da incursão, Khaled Mashaal, um dos líderes do movimento extremista islâmico Hamas, exortou a facção a retomar atentados suicidas na Cisjordânia. "Queremos retornar às operações (suicidas). Essa é uma situação que somente pode ser resolvida com conflito aberto. (...) Eu reitero meu apelo para que todos participem, em frentes múltiplas, na atual resistência contra a entidade sionista", disse Mashaal. Um porta-voz da Jihad Islâmica, facção armada aliada do Hamas, denunciou a tentativa de Israel de "anexar a Cisjordânia".  

De acordo com Israel Katz, ministro das Relações Exteriores israelense, as IDF buscam desmantelar infraestrutura terrorista islâmico-iraniana estabelecida em campos de refugiados de Jenin e Tulkarem. "O Irã trabalha para desestabilizar a Jordânia e estabelecer uma frente de terror oriental contra Israel, seguindo os modelos da Faixa de Gaza e do Líbano, ao financiar, armar terroristas e contrabandear armas avançadas para a Jordânia, a Judeia e a Samaria", escreveu na rede social X. "Devemos lidar com essa ameaça com todos os meios necessários, inclusive, em alguns casos de combate intenso, permitindo à população a retirada temporária de um bairro para outro."

Morador de Nablus, o designer gráfico Ahmad Mohamed Amer, 24 anos, contou ao Correio que as forças israelenses realizam incursões em várias áreas da Cisjordânia. No campo de refugiados de Nur Shams, a 39km dali, soldados e membros de facções palestinas travaram combates. "Graças a Deus, as batidas não incluíram o bairro onde eu vivo, mas posso escutar as explosões e o barulho de tiros", relatou. "A principal arma da resistência são os dispositivos explosivos plantados no chão. Quando uma viatura se aproxima, o artefato é detonado. Por isso, as escavadeiras entram antes e começam a destruir as ruas e partes de casas."

Direitos humanos

Segundo Amer, as tropas não diferenciam civis de integrantes de grupos armados. "Os israelenses não se importam". "As violações dos direitos humanos e das crianças ocorrem diariamente na Cisjordânia. Eu me lembro que, uma vez, um soldado israelense agarrou uma criança de cerca de 13 anos e começou a espancá-la, sem razão. Outra foi levada por uma patrulha. Quando o carro ganhou velocidade, os soldados a lançaram de lá e ela teve graves ferimentos."

Ronaldo Schemidt/AFP - Palestino chora diante de corpo de jovem morto pelas forças israelenses, no necrotério de Tubas

Professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, Alon Ben-Meir explicou ao Correio que a incursão em Jenin foi uma resposta a vários ataques de extremistas palestinos. "Infelizmente, o ciclo de violência não irá parar enquanto a ocupação continuar. Isso prosseguirá durante meses, ou anos, a menos que Israel e os palestinos cheguem a um acordo", previu. Ele criticou a sugestão de Katz de repetir na Cisjordânia a estratégia usada em Gaza. "O que aconteceu em Gaza é uma tragédia para os palestinos. Ambos os lados devem cair em si, sentar-se e encontrar uma solução de uma vez por todas."

Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou à reportagem que evidências confirmam a "continuação da guerra sistemática de extermínio contra o povo palestino". Ele comentou os ataques de colonos judeus em assentamentos ocupados na Cisjordâni. "Os colonos não atuam à margem das decisões do governo israelense, e o fazem de maneira coordenada. A incapacidade das instituições internacionais encorajara a escalada do ciclo de sangue inocente em toda a Palestina. A expansão do ciclo de guerra destrutiva, que não poupará ninguém." A reportagem entrou em contato com a Embaixada de Israel, mas até o fechamento desta edição não houve pronunciamento sobre a operação na Cisjordânia.

EUA impõem sanções

Os Estados Unidos anunciaram novas sanções contra colonos israelenses na Cisjordânia e pediram a Israel que combatesse esses grupos "extremistas". "A violência dos colonos extremistas na Cisjordânia provoca intenso sofrimento humano, prejudica a segurança de Israel e compromete as perspectivas de paz e estabilidade", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou ainiciativa. "Israel considera muito grave a imposição de sanções contra cidadãos israelenses. A questão é objeto de discussões intensas com os Estados Unidos." 

Mais Lidas