O regime de Nicolás Maduro aumenta a pressão sobre os adversários políticos do presidente venezuelano, que teve sua reeleição ratificada na semana passada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) — sob protestos de parte da comunidade internacional. Sob investigação, após denunciar fraude na votação realizada no fim de julho, o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, foi convocado pelo Ministério Público a depor, às 10h de hoje, sobre a divulgação de supostas atas eleitorais.
A oposição reivindica a vitória de Edmundo González, alegando ter cópias de atas eleitorais que comprovariam a derrota de Maduro. O Ministério Público quer interrogá-lo justamente sobre os fatos relacionados à publicação e manutenção do site https:resultadosconvzla.com.
González está escondido desde 30 de julho, quando participou de uma manifestação contra a vitória de Maduro. Ele tem se limitado a publicações nas redes sociais. O presidente pediu a prisão dele e da líder antichavista María Corina Machado.
A intimação do MP destaca que ele é investigado por supostos crimes de "usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, crimes de informática, associação para cometer crimes e conspiração".
Mobilização
Em reação, María Corina, que inicialmente enfrentaria Maduro nas urnas, convocou os venezuelanos para irem às ruas depois de amanhã, data em que se completa um mês das polêmicas eleições. "Nós nos encontramos novamente nas ruas. Neste 28 de agosto, em família, com seus filhos, netos, e com sua ata nas mãos", publicou María Corina no X.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro reeleito com 52% dos votos, sem publicar os resultados mesa por mesa, como exige a lei. Enquanto isso, a oposição insiste que seu candidato venceu com 67% da preferência do eleitorado, segundo as cópias das atas divulgadas na Internet. O chavismo sustenta que os documentos são "forjados".
Há quatro dias, em resposta a um recurso de Maduro, o TSJ, dominado pelo regime, validou os resultados e acusou Edmundo González Urrutia de "desacato" por se recusar a comparecer às audiências do "processo de perícia" do material eleitoral.
Outras investigações estão em andamento, envolvendo tanto María Corina quanto Edmundo González. Em 5 de agosto, a Procuradoria Geral da República anunciou uma ação contra ambos por "instigação à insurreição", entre outros crimes, após publicarem uma carta nas redes sociais, na qual pediram ao Exército que cessem a "repressão" aos protestos e se afastem de Maduro.
O procurador-geral Tarek William Saab considera os dois líderes opositores responsáveis pelos atos de violência nos protestos que deixaram 27 mortos — dois deles militares —, quase 200 feridos e mais de 2,4 mil presos. "Terão que dar as caras", enfatizou Saab na última sexta-feira.
Repúdio
A convocação de Edmundo González ocorre em um momento de forte descrédito internacional da Venezuela. Na sexta-feira, por meio de um comunicado conjunto, os Estados Unidos e 10 países latino-americanos repudiaram a decisão do TSJ que sacramentou a vitória de Maduro.
Para o ministério venezuelano das Relações Exteriores, a contestação é um "erro grosseiro" e faz parte de um "desrespeito contínuo" a Caracas. O chanceler Yván Gil chamou as reações de "um ato inaceitável de interferência".
Em declaração, no sábado, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), aderiu às cobranças. "Somente resultados completos e verificáveis de forma independente serão aceitos e reconhecidos para garantir que a vontade do povo venezuelano seja respeitada", disse Borrell.
Também no sábado, em nota conjunta, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, insistiram na necessidade de publicação das atas da eleição presidencial. Na avaliação de ambos, só assim "a credibilidade do processo eleitoral somente poderá ser restabelecida".
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