À frente com María Corina Machado, principal líder da oposição, manifestantes saíram às ruas ontem em Caracas em protesto contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Os oposicionistas convocaram um "protesto mundial" em 350 cidades em vários países onde há comunidades de venezuelanos. O objetivo é fazer Maduro reconhecer a derrota nas eleições presidenciais de 28 de julho, embora o Conselho Nacional Eleitoral tenha declarado que ele é o vitorioso.
Paralelamente, simpatizantes de Maduro marcaram manifestação para o mesmo momento em que a oposição protestava em Caracas. Em número menor, caravanas com apoiadores do atual governo partiram de locais diferentes da capital para a concentração no centro da cidade. Não há informações sobre confrontos entre os dois grupos adversários. Agentes da Guarda Nacional e da força militar com funções de ordem pública, além de policiais em motos se colocaram em posições estratégicas.
María Corina chamou o sábado de "dia histórico". "Temos que nos manter firmes e unidos", disse ela na rede social X antes da concentração. "Tentam nos assustar, nos dividir, nos paralisar, nos desmoralizar, mas não conseguem porque estão absolutamente entrincheirados em sua mentira, em sua violência, em sua falta de legitimidade."
A opositora demonstrou que mais manifestações virão. "Não vamos deixar as ruas", avisou María Corina, que saiu da clandestinidade para liderar o protesto na capital. "Com inteligência, prudência, resiliência, audácia e pacificamente porque a violência convém a eles (governo). O protesto pacífico é nosso direito."
Edmundo González Urrutia, o candidato de oposição, não participou do ato e está sem aparecer em público desde 30 de julho. "(Os protestos) são uma força que fará respeitar a decisão de mudança e paz pela qual milhões de nós votamos", expressou nas redes sociais. "Temos os votos, as atas, o apoio da comunidade internacional e dos venezuelanos decididos a lutar pelo nosso país."
Com bandeiras, cartazes e faixas, além das cópias impressas dos boletins eleitorais dos centros de votação, os opositores gritavam palavras de ordem e reivindicavam a vitória. As atas são folhas semelhantes a um recibo de supermercado que a máquina de votação imprime com o resultado exato de cada aparelho, são o argumento central da oposição liderada por María Corina para provar que o resultado da eleição foi fraudado.
Medo
María Corina disse temer por sua vida. De cima de um caminhão, ela comandou o protesto. "Se ficarmos em silêncio, isso não terá sentido", disse à AFP Adriana Calzadilla, uma professora de 55 anos, no início da manifestação em Caracas. "Este é um governo criminoso que quer se perpetuar no poder. (...) Sinto o cheiro da liberdade, não tenho nada a temer", acrescentou ela.
"Estou defendendo o que todos sabemos, o que todo mundo sabe: Edmundo González é o presidente eleito por todos nós", expressou a administradora Yelitza García, de 41 anos. Venezuelanos também fizeram protestos em Madri, na Espanha, em frente ao cartão-postal da Puerta del Sol e, em Buenos Aires, no bairro da Recoleta. "Temos fé de que vamos sair da ditadura", disse Andreina Escalante.
Líderes internacionais
Os governos dos Estados Unidos, de países que integram a União Europeia e a Argentina, entre outros, rejeitaram, numa declaração conjunta, a repressão dos manifestantes e apelaram à publicação imediata de todas as atas originais e à verificação imparcial e independente dos resultados.
Inicialmente, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, propuseram uma solução na qual Nicolás Maduro convocasse novas eleições ou formasse um governo de coalizão. Porém, María Corina rechaçou a sugestão. Lula exige agora a apresentação das atas como forma de legitimar os resultados das urnas. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não publicou a contagem detalhada mesa por mesa, pois alega que o sistema de votação sofreu um "ataque ciberterrorista". Os Estados Unidos e a União Europeia desconheceram o resultado da votação.
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