As temperaturas da superfície da Antártida Oriental estão mais de 28ºC acima do normalidade para esta época do ano. O continente enfrenta a segunda maior onda de calor dos últimos dois anos. O fenômeno pode permanecer por mais 10 dias, provando que as consequências de um mundo mais quente atingem também as áreas mais frias do planeta.
A onda de calor acontece em meio ao inverno antártico, em que as temperaturas ainda estão abaixo de -20ºC. Com o fenômeno, é esperado que as temperaturas fiquem de 20ºC a 30ºC mais elevadas nos próximos dias.
A Estação Polo Sul Amundsen-Scott registrou a maior temperatura desde 2002. Entre 20 e 30 de julho, a estação registrou -47,6ºC — uma temperatura esperada apenas para o fim do verão na Antártida, que ocorre em fevereiro.
"A onda de calor no Planalto Antártico é extraordinária mais pela sua duração do que pela sua intensidade, embora alguns valores sejam impressionantes", considera o analista de temperatura ártica Stefano di Battista ao The Washington Post.
De acordo com cientistas, ainda é muito cedo para determinar as causas dessa onda de calor. No entanto, é possível dizer que ela está ao menos parcialmente ligada ao que acontece na estratosfera.
Conforme explica a cientista atmosférica Amy Butler, a estratosfera contém uma região de ar frio e baixa pressão que gira em torno de cada polo terrestre, conhecida como vórtice polar. Este vórtice é estável e forte no inverno do hemisfério sul, mas este ano foi sacudido por ondas atmosféricas, o que o enfraqueceu e fez subir as temperaturas.
Outros fatores também contribuem para intensificar a onda de calor, como por exemplo a cobertura de gelo nos mares da Antártida, que é a segunda mais baixa registrada nesta época do ano (atrás apenas do ano passado). O gelo ajuda a manter a região fresca, refletindo a luz solar para o espaço.
"Com o aumento das temperaturas globais, aumentam as 'linhas de base' para as temperaturas médias. Consequentemente, eventos de aquecimento forte como este podem ocorrer com mais frequência e ter um impacto maior", alerta o meteorologista David Mikolajczyk ao The Washigton Post.