Estados Unidos

"Meus valores não mudaram", diz Kamala na primeira entrevista após nomeação

Em entrevista inédita ao lado do vice, Tim Walz, candidata democrata à Casa Branca afirma que posições sobre a segurança na fronteira e clima não sofreram alterações. A vice de Joe Biden prometeu nomear um republicano para o gabinete, caso eleita

Kamala Harris e Tim Walz são entrevistados pela jornalista Dana Bash, da CNN: primeiro grande teste midiático da chapa democrata  -  (crédito: CNN)
Kamala Harris e Tim Walz são entrevistados pela jornalista Dana Bash, da CNN: primeiro grande teste midiático da chapa democrata - (crédito: CNN)

Na primeira entrevista desde a nomeação como candidata do Partido Democrata à Casa Branca, Kamala Harris assegurou que continua fiel aos seus valores em temas polêmicos, como a segurança na fronteira com o México, e admitiu escolher um republicano para compor o gabinete, caso se torne a primeira mulher ocupar a Presidência dos Estados Unidos, em 5 de novembro. "Acho que o aspecto mais importante e mais significativo de minha perspectiva e decisões políticas é que os meus valores não mudaram", declarou a vice-presidente e ex-senadora à jornalista Dana Bash, da emissora CNN, em Savannah, no estado da Geórgia.

Kamala estava acompanhada do candidato a vice, Tim Walz, governador do estado de Minnesota. "Minha convicção sobre nossas necessidades de garantir a segurança da fronteira (com o México) não mudou", acrescentou, ao prometer reforçar as leis na região fronteiriça e lembrar que é a única pessoa na corrida presidencial a servir como procuradora-geral. 

Sobre o tema do aquecimento global, Kamala defendeu que os EUA devem cumprir prazos em termos de emissões de gases do efeito estufa. "Sempre acreditei (...) que a crise climática é real, que é um assunto urgente."

A candidata sublinhou a importância de construir consenso. "Acho importante encontrarmos um lugar comum de compreensão sobre como podemos resolver problemas", declarou. Nesse sentido, ela afirmou ser importante ter à mesa pessoas de diferentes pontos de vista e experiências quando as decisões mais significativas forem tomadas. "Acho que seria do benefício da opinião pública americana ter um membro no meu gabinete que fosse republicano", avisou.

Kamala acusou Trump de encampar uma agenda, durante o mandato do republicano, que buscou dividir a nação. Trump não perdeu tempo e comentou a entrevista de Kamala antes mesmo de ela ser divulgada. "Ela não parece uma líder para mim. Eu não a vejo negociando com a China ou com Kim Jong-un (ditador norte-coreano)", ironizou. Mais cedo, durante comício em Michigan, ele chamou Kamala de "vira-casaca". "É uma incompetente, não sabe dar entrevistas."

Pesquisa

Horas antes de a entrevista de Kamala ir ao ar, a campanha democrata reforçou o otimismo, com a divulgação de nova pesquisa eleitoral. Na sondagem da agência de notícias Reuters e do instituto Ipsos, Kamala aparece com 45% dos votos contra 41% para Trump. Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, ambos esteriam tecnicamente empatados. A pesquisa revela um crescimento de Kamala entre as mulheres e os latino-americanos: 49% contra 36% para o magnata nas duas parcelas do eleitorado.

Professor de ciência política da Universidade Estadual da Geórgia, Robert M. Howard explicou ao Correio que a campanha democrata começou um processo de recuperação, com a candidatura de Kamala Harris. "Vejo uma tendência de crescimento para ela, antes de atingir a estabilização até o debate de 10 de setembro", afirmou. "Trump, por sua vez, tem um teto, um limite máximo de crescimento, entre 45% e 47% dos votos. Sua melhor esperança é vencer o Colégio Eleitoral, invertendo alguns estados-chave com margens estreitas. É preciso entender que o republicano também tem um 'piso', que varia de 43% a 45% dos votos. As eleições presidenciais norte-americanas tendem a ficar na faixa dos 4 a 5 pontos percentuais de diferença entre os candidatos, à exceção do pleito ganho por Barack Obama, em 2008."

De acordo com Howard, nos últimos 16 anos, Ohio e Flórida têm se inclinado para os republicanos. "Mesmo que Kamala corresponda ao total de votos de Trump, poderemos ver uma vitória da democrata no Colégio Eleitoral", admitiu. O especialista vê a entrevista de ontem à CNN como de "menor importância". "Eventos assim somente fazem diferença quando o candidato comete algum erro. Mesmo que ela o fizesse, teremos um curto ciclo de notícias até o próximo evento, o que faria com que o erro 'desaparecesse'. A menos que meios de comunicação, como o The New York Times ou o The Washington Post, o usassem para pintá-la como inexperiente", acrescentou.

Em relação à promessa de Kamala de convidar um republicano para o gabinete, Howard pensa ser uma estratégia da democrata de ganhar simpatia dos eleitores independentes e moderados. "Mas eu não ficaria surpreso se ela nomeasse o ex-deputado Adam Kizinger para alguma posição, como secretário de Defesa."

Também cientista política na Universidade Estadual da Geórgia, Jennifer McCoy ressaltou à reportagem que a maioria das sondagens mostram Kamala subindo nas pesquisas acima dos números do presidente Joe Biden quando candidato. "No entanto, também apontam Kamala e Trump praticamente empatados, dentro da margem de erro das pesquisas, independentemente de quem esteja no topo. As tendências estão a favor de Kamala", admitiu. 

EU ACHO...

Crédito: Arquivo Pessoal. Jennifer McCoy, cientista política da Georgia State University
Jennifer McCoy, cientista política da Universidade Estadual da Geórgia (foto: Arquivo Pessoal)

"A campanha de Donald Trump está voltada para a própria base, motivando-a a votar, e não dedicada a alargar o grupo de eleitores. Kamala Harris, por outro lado, tenta se expandir para os independentes e até mesmo para os republicanos que estão relutantes em apoiar Trump. Kamala também tem ampliado a campanha, em comparação com Joe Biden, a fim de tentar vencer em todos os estados decisivos."

Jennifer McCoy, professora de ciência política da Universidade Estadual da Geórgia

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postado em 30/08/2024 06:00
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