O ex-deputado Biagio Pilieri fez uma videochamada para colegas, às 14h desta quarta-feira (28/8) (15h em Brasília), no momento em que o seu carro era perseguido por outro veículo. "Estamos sendo seguidos, com certeza, pela segurança do Estado. Acabamos de sair da atividade, onde acompanhamos María Corina (Machado). Eles estão nos seguindo há 20 minutos", afirmou, ofegante, o integrante da equipe da líder opositora. Pouco depois, o celular de Pilieri foi rastreado na região do Helicoide, centro de detenção de Caracas. Ele e o filho, Jesús Pilieri, foram presos pelo Serviço de Inteligência Bolivariano Nacional (Sebin).
María Corina Machado tinha acabado de desafiar o regime de Nicolás Maduro, ao participar de um protesto para marcar um mês das eleições de 28 de julho. "Dizem que o regime não vai ceder. Saibam que vamos fazê-lo ceder. E ceder significa respeitar a vontade manifestada em 28 de julho", disse a deputada opositora inabilitada politicamente, ao discursar da caçamba de uma camioneta.
"Nós estamos avançando. (...) Sabemos como administrar e fazer crescer a nossa força. Nós o fazemos nas comunidades. Os comanditos, aqui, têm uma grande tarefa: garantir que a chegue a verdade e que defendamos uns aos outros", acrescentou María Corina. "Isso não tem volta. Nós seguiremos adiante. Temos que refletir sobre o que fizemos este mês; é uma fase dura e nós sabíamos disso. Temos uma estratégia robusta e ela está funcionando. Este protesto é imparável." A multidão gritava "Liberdade! Liberdade!" e "Corajosa! Corajosa!".
Durante o discurso, María Corina afirmou que é preciso recordar o que o regime de Maduro fez nessas quatro últimas semanas: "Eles implantaram a campanha de repressão mais brutal da história da Venezuela". "Enquanto estamos aqui, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) reporta o que chamamos de prática de terrorismo de Estado. São mais de 2.500 pessoas detidas, incluindo mais de 150 crianças presas e sequestradas por Nicolás Maduro. Isso não tem nome."
Ela também expressou "repúdio absoluto" ante o "sequestro" de Biagio e Jesús. "Biagio é um grande amigo e um grande aliado, um homem que, quando dá sua palavra, se compromete. Ele sabia do risco que corria e, ainda assim, acompanhou os venezuelanos em Caracas, como um testemunho de responsabilidade e de entrega a esta causa", enfatizou Machado. Outro deputado opositor, Juan Pablo Guanipa, confirmou que escapou de ser preso. "Estou bem e em resguardo. Novamente, me livrei de uma tentativa de detenção por parte dos gorilas de Maduro", escreveu em seu perfil na rede social X.
Também ontem, Maduro discursou em frente ao Palácio de Miraflores e celebrou o "triunfo". "Um mês da vitória do povo da Venezuela frente às correntes fascistas, a Venezuela triunfou outra vez em paz, mobilizados nas ruas", declarou a simpatizantes.
Ameaça
Edmundo González Urrutia, candidato que se proclamou vencedor das eleições, não compareceu ao protesto de ontem. Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, disse à imprensa que o Ministério Público emitirá uma nova convocação para que ele preste depoimento. "Caso falte, o Ministério Público anunciará a ação correspondente, com base na lei", declarou Saab, sem detalhar qual medida será tomada.
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De Madri, onde encabeçou um protesto ao lado de venezuelanos asilados e partidários da oposição, Antonio Ledezma — ex-prefeito de Caracas e ex-preso político — disse ao Correio que o ato em Caracas mostra a disposição de luta. "O povo venezuelano não se renderá, não baixará os braços e se manterá muito firme nos esforços para fazer valer o triunfo obtido em 28 de julho", explicou, por telefone. "São dois objetivos entrelaçados: a proclamação de Edmundo González como presidente legítimo e o início da transição rumo à democracia", acrescentou Ledezma, que ocupa o posto de coordenador do Conselho Político Internacional de María Corina Machado.
EU ACHO...
"Na Venezuela, todos são considerados suspeitos se contrariam o regime. Conscientes de todos os riscos que correm, María Corina Machado e Edmundo González, eles não se intimidam nem se afastam do cumprimento do compromisso de liderarem essa luta. Se o regime chegar ao extremo de detê-los, haverá uma resposta, não somente dos venezuelanos, como também de toda a comunidade internacional."
Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas, ex-preso político exilado em Madri e coordenador do Conselho Político Internacional de María Corina Machado
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