O terceiro aniversário da tomada de poder pelo movimento fundamentalista islâmico Talibã, no Afeganistão, foi comemorado com uma parada militar na antiga base aérea norte-americana de Bagram, a 60km ao norte da capital, Cabul. Os talibãs desfilaram com Humvees, helicópteros e blindados abandonados pelos Estados Unidos em 2021, após a saída das tropas e dos diplomatas norte-americanos. Em entrevista exclusiva ao Correio, Mohammad Suhail Shaheen — chefe do escritório político do Talibã em Doha (Catar) — fez um balanço do governo comandado pela facção e criticou a comunidade internacional por impor sanções ao país.
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Como analisa esses três anos de Talibã no poder? Quais as principais conquistas neste período?
Nossas conquistas importantes nos últimos três anos incluem a manutenção da segurança em todo o país; o progresso econômico, com o lançamento de megaprojetos no Afeganistão; o fim da corrupção; a anunciada extinção do cultivo de papoula (matéria-prima do ópio); e a tomada de medidas drásticas contra o tráfico de drogas. Além disso, nós aumentamos as pensões de mais de 500 mil viúvas, órfãos e pessoas incapacitadas. Estes são os mais proeminentes feitos que tivemos nos últimos três anos. Tudo isso ocorreu no momento em que sofremos sanções da comunidade internacional. A União Europeia aplicou sanções contra o Afeganistão. Se não tivéssemos sofrido essas sanções, teríamos conseguido mais façanhas.
Qual foi o impacto do sistema judicial e do restabelecimento da pena de morte sobre a redução da criminalidade?
Os índices de criminalidade foram reduzidos em todo o território afegão. As pessoas podem viajar de um canto a outro do país sem terem medo ou sem se preocuparem. Isso propiciou o florescimento de negócios e de comércio no Afeganistão. Também permitiu que exportássemos nossas riquezas em um nível sem precedentes.
De que modo o Talibã vê as críticas à segregação contra as mulheres do Afeganistão?
Cerca de 150 mil mulheres, incluindo enfermeiras, médicas e outras trabalhadoras da área da saúde, atuam no Ministério de Saúde Pública do Afeganistão. Além disso, em torno de 90 mil mulheres, entre elas professoras, trabalham no Ministério da Educação. As mulheres trabalham, também, no Ministério do Interior, na função de policiais e no Departamento de Investigação. Como você vê, o panorama não é desagradável como o retratado pela mídia.
Que avaliação faz do trabalho de diplomacia realizado desde agosto de 2021?
Nós anunciamos que desejamos relações positivas com todas as nações, incluindo os Estados Unidos. Não queremos criar nenhum bloqueio contra países. Geralmente, nosso país está aberto a investimentos estrangeiros e à cooperação com outras nações. Temos uma política externa equilibrada. Nossos diplomatas foram aceitos em 38 países, que estão em contato com o Ministério das Relações Exteriores, no mais alto nível. Essas nações ainda não anunciaram o reconhecimento de nosso goverrno, mas, na prática, nossos diplomatas atuam nelas.
Quais os planos do Talibã para o Afeganistão?
Queremos que o futuro do Afeganistão seja pacífico, próspero e desenvolvido. Queremos relações positiva com outros países do mundo.
Existe algum simbolismo na exibição de equipamentos militares dos EUA na parada militar em Bagram?
Nós temos armamentos datadas das invasões da União Soviética e dos EUA. Nós estamos celebrando o nosso Dia da Independência. Não significa que mostramos nossos músculos para ninguém. De qualquer modo, celebrar nosso terceiro aniversário é o nosso direito. Trata-se de um dia de festividades.
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