Oriente Médio

Irã rejeita apelos do ocidente e prepara contra ofensiva em Israel

Teerã avisa que não "pede autorização" para retaliar inimigos, em resposta a pedidos dos EUA, França, Itália, Alemanha e Reino Unido para que desista de retaliar morte do líder do Hamas

Em Teerã, fotos do presidente Masoud Pezeshkian (D), e de Haniyeh  -  (crédito: AFP)
Em Teerã, fotos do presidente Masoud Pezeshkian (D), e de Haniyeh - (crédito: AFP)

Em meio a ameaças do Irã de atacar Israel, em retaliação à morte de Ismail Haniyeh — líder do movimento extremista Hamas —, Teerã rejeitou os apelos do Ocidente para desescalar a tensão e desistir de uma ofensiva. O regime teocrático islâmico ressaltou que não pede "autorização" para responder ao inimigo. Foi uma resposta direta aos governos de EUA, França, Itália, Alemanha e Reino Unido, um dia depois de pedirem ao Irã que "renuncie a suas ameaças contínuas de ataque militar contra Israel".

Existe o temor, por parte da Casa Branca, de que uma ofensiva iraniana frustre as negociações sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza, previstas para esta quinta-feira (15/8). Por sua vez, Teerã insiste que um acordo de trégua no enclave palestino teria o potencial de evitar, ou pelo menos adiar, uma resposta militar contra Israel. 

"A República Islâmica está determinada a defender sua soberania (...) e não pede a autorização de ninguém para usar seus direitos legítimos", declarou Nasser Kanani, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã. A Casa Branca acredita que "uma série de ataques amplos" por parte das forças iranianas e de aliados possa ocorrer ainda nesta semana. A ofensiva militar poderia contar com o envolvimento de Irã, da milícia xiita libanesa Hezbollah, dos rebeldes houthis no Iêmen e de grupos insurgentes no Iraque. 

Majid Rafizadeh, cientista político iraniano-americano e especialista em Oriente Médio pela Universidade de Harvard, afirmou ao Correio que, com base nos ataques retaliatórios ocorridos em abril, a tática de engajamento em conflitos indiretos, por meio de aliados, aparentemente chegou ao fim. "Essa mudança importante em direção a um confronto direto aumenta o risco de uma guerra total. O aumento de frequência desses ataques diretos sublinqua a escalada de tensões e o potencial de um conflito mais amplo", explicou. "Alguns analistas sugerem que o premiê Benjamin Netanyahu pode se sentir encorajado pela decisão de Joe Biden de não buscar a reeleição. O próprio Biden exortou os líderes israelenses a evitarem ações que pudessem levar  a uma guerra regional. Agora, Netanyahu pode perceber uma oportunidade para adotar uma abordagem mais agressiva em relação ao Irã."

De acordo com Rafizadeh, a dinâmica de uma guerra direta entre Irã e Israel pode modificar de modo significativo o panorama geopolítico do Oriente Médio e compelir os EUA a reavaliarem suas prioridades na região. "Sob a perspectiva do governo iraniano, ataques retaliatórios contra Israel poderiam ser um meio de manter sua posição depois do assassinato de um líder do Hamas em Teerã. O Irã busca projetar força para a própria base conservadora e para aliados regionais, destacando sua influência nas esferas regional e global", disse. Apesar de reconhecer que a eliminação de Haniyeh é um "duro golpe" ao prestígio do Irã e que o regime teocrático precisa reafirmar sua posição como potência regional dominante, o professor de Harvard acredita na necessidade de Teerã de evitar uma guerra aberta. 

Ainda segundo Rafizadeh, o Irã sabe que suas capacidades militares não têm comparação com aquelas das forças combinadas dos EUA e de Israel. Além disso, a economia iraniana, combalida pela inflação e pelo desemprego, seria incapaz de sustentar uma guerra a longo prazo. "Também é importante notar que os protestos espalhados pelo país destacaram a insatisfação da população com a situação econômica e sociopolítica. O envolvimento em um conflito exacerbaria o levante doméstico", observou.

 

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postado em 14/08/2024 06:05
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