As tropas ucranianas avançaram pelo menos 30 km dentro da Rússia, na região de Kursk, no que se tornou a incursão mais profunda e significativa desde que Moscou começou sua invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Na noite de sábado (10/08), o presidente Volodymyr Zelensky reconheceu diretamente o ataque pela primeira vez, dizendo que a Ucrânia estava empurrando a guerra para "o território do agressor".
"A Ucrânia está provando que pode de fato restaurar a justiça e garantir a pressão necessária sobre o agressor", disse Zelensky ao país em seu discurso noturno de Kiev.
Ele agradeceu aos "guerreiros" da Ucrânia e disse que havia discutido a operação na Rússia com o principal comandante militar do país - o general Oleksandr Syrskyi.
O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças enfrentaram tropas ucranianas perto das cidades de Tolpino e Obshchy Kolodez, enquanto a ofensiva ucraniana na região de Kursk ia para o sexto dia.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, acusou Kiev de "intimidar a população pacífica da Rússia".
Um alto funcionário ucraniano disse à agência de notícias AFP que milhares de tropas estavam envolvidas na operação, muito mais do que a pequena incursão inicialmente relatada pelos guardas de fronteira russos.
Enquanto grupos de sabotagem apoiados pela Ucrânia lançaram incursões transfronteiriças intermitentes, a ofensiva de Kursk marca o maior ataque coordenado em território russo pelas forças de Kiev.
"Estamos na ofensiva. O objetivo é desafiar as forças do inimigo, infligir o máximo de perdas e desestabilizar a situação na Rússia, pois eles são incapazes de proteger sua própria fronteira", disse o funcionário.
O Ministério da Defesa da Rússia disse no domingo que suas forças "frustraram tentativas de grupos móveis inimigos com veículos blindados de invadir profundamente o território russo".
Mas em uma aparente admissão de que as forças de Kiev agora avançaram profundamente na região da fronteira de Kursk, o Ministério da Defesa relatou o envolvimento de tropas ucranianas perto das aldeias de Tolpino e Obshchy Kolodez - que ficam a cerca de 25 km e 30 km da fronteira Rússia-Ucrânia.
Imagens que circulam online e verificadas pela BBC também parecem mostrar um ataque russo perto da vila de Levshinka, a cerca de 25 km da fronteira.
Tropas ucranianas alegaram ter capturado vários assentamentos na região de Kursk. Em Guevo, uma vila a cerca de 3 km dentro da Rússia, soldados se filmaram removendo a bandeira russa de um prédio administrativo.
Também surgiram vídeos de tropas ucranianas tomando prédios administrativos em Sverdlikovo e Poroz, enquanto intensos combates foram relatados em Sudzha - uma cidade de cerca de 5 mil pessoas.
Tropas ucranianas já se filmaram fora de Sudzha em uma grande instalação de gás envolvida no trânsito de gás natural da Rússia para a UE via Ucrânia, que continuou apesar da guerra.
Estado de emergência
Em Sumy, que faz fronteira com a região de Kursk, repórteres da BBC testemunharam um fluxo constante de veículos blindados de transporte de pessoal e tanques se movendo em direção à Rússia.
Os comboios blindados usam insígnias triangulares brancas, aparentemente para distingui-los da identificação usada na própria Ucrânia. Enquanto isso, fotos aéreas parecem mostrar tanques ucranianos dentro da Rússia.
Fotos analisadas pela BBC Verify (o serviço de verificação da BBC) também parecem mostrar a Rússia construindo novas linhas defensivas perto da usina nuclear de Kursk. Forças ucranianas teriam avançado a 50 km da instalação.
Contrastando imagens de satélite do mesmo local capturadas ontem com imagens de alguns dias antes, é possível ver várias linhas de trincheiras recém-construídas nas proximidades, com a mais próxima a cerca de 8 km (5 milhas) da usina.
A Rússia diz que 76 mil pessoas foram evacuadas de áreas de fronteira na região de Kursk, onde um estado de emergência foi declarado pelas autoridades locais.
O governador regional em exercício Aleksei Smirnov também disse que 15 pessoas ficaram feridas na noite de sábado quando os destroços de um míssil ucraniano abatido caíram em um prédio de vários andares na capital regional de Kursk.
Oleksiy Goncharenko - um parlamentar ucraniano - saudou a operação e disse que ela estava levando o país "muito mais perto da paz do que cem cúpulas de paz".
"Quando a Rússia precisa lutar em seu próprio território, quando o povo russo está fugindo, quando as pessoas se importam, essa é a única maneira de mostrar a eles que precisam parar com essa guerra", disse ele à BBC.
A ofensiva de Kursk acontece após semanas de avanços russos no leste, onde uma sucessão de vilas foi capturada pelas forças do Kremlin.
Alguns analistas sugeriram que o ataque de Kursk é parte de um esforço para forçar a Rússia a realocar forças para longe do leste da Ucrânia e aliviar a pressão sobre as defesas ucranianas sitiadas.
Mas o oficial ucraniano disse à AFP que houve pouca redução até o momento nas operações russas no leste.
No início desta semana, o presidente russo Vladimir Putin disse que a ofensiva foi uma "grande provocação".
Moscou já retaliou contra o ataque ucraniano.
Os serviços de emergência em Kiev disseram que um homem e seu filho de quatro anos foram mortos em um ataque de míssil na capital durante a noite.
As defesas aéreas da Ucrânia também destruíram 53 dos 57 drones de ataque lançados pela Rússia durante seus ataques aéreos noturnos, disseram autoridades da força aérea. Quatro mísseis fabricados pela Coreia do Norte também foram disparados como parte da barragem, disseram.
A Rússia foi forçada a recorrer ao estado asiático isolado para reabastecer suas munições. Os EUA afirmaram que grandes quantidades de equipamentos militares foram enviadas por Pyongyang.
*colaborou Benedict Garman
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