Progressista convicto, defensor do direito ao aborto, avesso ao racismo e um político conhecido pela autenticidade e pela dureza nas críticas. Aos 60 anos, Tim Walz, governador de Minnesota, é o escolhido de Kamala Harris como candidato a vice pela chapa do Partido Democrata nas eleições de 5 de novembro. O ex-professor e veterano da Guarda Nacional estreou na campanha às 18h desta terça-feira, 6/8 (19h em Brasília), durante comício com Kamala, no Girard College, na Filadélfia (Pensilvânia).
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Ambos entraram no palco sob aplausos, e caminharam, lado a lado, até o púlpito. Kamala iniciou o discurso da mesma forma que nos comícios anteriores. "Desde o dia que anunciei minha candidatura, eu disse que escolheria um parceiro que me ajudaria a construir um futuro brilhante. Um líder que ajudará a nossa nação a mover-se adiante. Um guerreiro pela classe média. Um patriota que acredita, assim como eu, na promessa extraordinária da América", declarou Kamala. "Pensilvânia, estou aqui porque eu encontrei tal líder: o governador Tim Walz, do grande estado de Minnesota."
A candidata destacou o papel de Walz enquanto governador, pai, congressista por 12 anos, veterano, professor do ensino médio e técnico de futebol americano. "Daqui a 91 dias, a nação conhecerá o técnico Walz por outro nome: vice-presidente dos Estados Unidos", disse Kamala, enquanto a multidão gritava "Tim! Tim! Tim!". Ela ressaltou que o governador inspira as pessoas a sonharem alto e a sentirem pertencimento na sociedade.
"Obrigado por me devolver a alegria", disse Walz, ao tomar lugar no púlpito. Depois de fazer um apelo bem-humorado — "Nunca subestimem os professores" —, o candidato a vice afirmou que não poderia se sentir mais orgulhoso pela indicação de Kamala. Ele lembrou que os pais o ensinaram a ser generoso com os vizinhos e a trabalhar pelo bem comum. "Meu pai serviu no Exército, durante a Guerra da Coreia. Encorajado por ele, aos 17 anos, eu me recrutei na Guarda Nacional. Por 24 anos, vesti, com orgulho, o uniforme desta nação", lembrou. "Meu pai era um professor. Eu e meus três irmãos seguimos os passos dele. Durante quase duas décadas, tive o privilégio de lecionar em uma escola de ensino médio e de ser técnico de futebol americano."
Depois de recordar o trabalho na Câmara dos Representantes e no governo de Minnesota, Walz prometeu levar à Casa Branca os valores que o moldaram ao longo das décadas e atacou os adversários. "Donald Trump vê o mundo de forma um pouco diferente de nós. Em primeiro lugar, ele nada sabe sobre o que é servir. Ele não tem tempo, porque está ocupado demais servindo a si mesmo. Trump enfraquece a nossa economia, para fortalecer suas próprias mãos", criticou.
"Caos e divisão"
"Trump semeia caos e divisão. Nada temos a dizer sobre seu histórico como presidente. Durante a crise da covid-19, ele se congelou. (...) Crimes violentos sofreram uma escalada, sob a gestão Trump. Nem estamos contando os crimes que ele cometeu", disparou. Walz alertou que um novo governo Trump será "muito pior" do que o anterior. Sobre J.D. Vance, candidato a vice republicano, o governador de Minnesota avisou: "Mal posso esperar para debater com o cara".
Natural do Nebraska, no centro-oeste, Walz tem pouca fama fora das fronteiras de Minnesota, mas é visto como potencial aglutinador de votos dos indecisos. Conhecido por sua postura moderada, adotou medidas consideradas progressistas no comando do estado, como a legalização da maconha para uso recreativo; restrições para a compra de armas, apesar de se declarar caçador; e a ampliação da proteção federal para os trabalhadores.
Após a decisão da Suprema Corte dos EUA, em junho de 2022, que derrubou as proteções constitucionais para o aborto, ele se comprometeu a tornar o Minnesota um refúgio para mulheres que buscam a interrupção assistida da gravidez.
Kamala confirmou o nome de Walz por meio da rede social X, na manhã desta terça-feira. "Tenho orgulho de anunciar que pedi a Tim Walz para ser meu companheiro de chapa. Como governador, treinador, professor e veterano, ele fez a diferença para famílias trabalhadoras como a dele", escreveu a democrata. Walz utilizou a mesma plataforma para responder à presidenciável democrata. "É a honra da minha vida me unir a Kamala em sua campanha."
O presidente Joe Biden elogiou a escolha. "A primeira grande decisão que um indicado do partido faz é a escolha do vice-presidente. E Kamala Harris tomou uma grande decisão", escreveu o titular da Casa Branca, que desistiu de disputar a reeleição, em 21 de julho, e endossou a candidatura da vice.
Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), sublinhou ao Correio que não há evidências de que um candidato a vice faça qualquer diferença no resultado de uma eleição presidencial. "O que importa é a compatibilidade entre os dois candidatos, e creio que isso foi importante na escolha de Kamala por Walz. O que também interessa são as qualificações do escolhido para exercer o cargo de vice-presidente e, se necessário, assumir o governo do país", comentou.
De acordo com Lichtman, o ataque do Partido Republicano a Walz, ao chamá-lo de "esquerdista radical", foi "pré-planejado". "Eles teriam lançado essa crítica contra qualquer candidato, mesmo alguém conservador, como o senador Joe Manchin. O ataque não atingirá Walz, que venceu várias eleições legislativas em um distrito relativamente moderado a conservador", acrescentou.
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