A beligerante situação no Oriente Médio se agravou, ontem, após a morte do líder político do movimento palestino Hamas, Ismail Haniyeh, durante um ataque aéreo em Teerã. A ofensiva foi atribuída a Israel tanto pelo Irã quanto pelo grupo islamista, que prometeram vingança, e aumentou o temor de que a guerra na Faixa de Gaza, iniciada há quase 10 meses, espalhe-se por todo o Oriente Médio. Vários países condenaram a ação, inclusive, o Brasil, preocupados com suas possíveis consequências.
Israel se recusou a comentar o ataque, ocorrido depois de o Exército israelense bombardear um subúrbio da capital do Líbano, na terça-feira, e matar Fuad Shukr, comandante militar do Hezbollah. Em um pronunciamento à nação, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu enfatizou que o país desferiu ‘golpes esmagadores’ aos inimigos, falando explicitamente sobre a morte de Shukr, mas sem citar Haniyeh.
“Cidadãos de Israel, dias desafiadores estão à frente. Há ameaças vindo de todos os lados. Nós estamos preparados para qualquer cenário e ficaremos unidos e determinados ante qualquer ameaça. Israel vai cobrar um preço alto por qualquer agressão contra nós”, declarou, acrescentando: Qualquer um que mate nossas crianças, qualquer um que assassine nossos cidadãos, qualquer um que faça mal a nosso país… Sua cabeça tem um preço.”
“Duro castigo”
O guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, prometeu um “duro castigo” a Israel e afirmou que Teerã considera que é seu “dever buscar vingança”. Segundo informações divulgadas pelo jornal norte-americano The New York Times, Khamenei ordenou, ontem mesmo, um ataque ao território israelense.
O chefe do gabinete político do Hamas, de 61 anos, vivia no exílio entre Turquia e Catar. Ele estava em Teerã para prestigiar a posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian. Durante a cerimônia, foi saudado com entusiasmo por políticos dos países da região. Em um comunicado, Pezeshkian advertiu que “os sionistas verão em breve as consequências do seu ato terrorista e covarde”. As políticas de Israel “chegaram a um beco sem saída”, acrescentou.
O Irã decretou três dias de luto oficial pela morte de Haniyeh. Hoje, será realizada uma cerimônia funerária “oficial e pública” em Teerã. Em seguida, o corpo será levado para a capital do Catar, Doha, onde será enterrado na sexta-feira, indicou o Hamas. “O assassinato do líder Ismail Haniyeh é um ato de covardia e não ficará impune”, destacou Musa Abu Marzuk, integrante do gabinete político do grupo islamista.
“Escalada perigosa”
As reações à morte de Haniyeh foram imediatas. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou que os bombardeios em Beirute e em Teerã constituem uma “escalada perigosa em um momento em que todos os esforços deveriam levar a um cessar-fogo em Gaza”. Muitos países, incluindo Turquia, China, Rússia, Catar e Brasil, condenaram a ação e alertaram para o risco de agravamento e propagação do conflito.
Em um comunicado, o Itamaraty repudiou “o flagrante desrespeito à soberania e à integridade territorial do Irã”, considerando que os fatos “não contribuem para a busca por estabilidade e paz duradouras no Oriente Médio”.
Principal aliado de Israel, os Estados Unidos também expressaram preocupação, afirmando que os ataques “não ajudam” a reduzir a tensão, embora não prevejam uma conflagração “iminente”, segundo o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
Protestos
Em vários países da região, manifestações se multiplicaram. Centenas de pessoas protestaram contra a morte do líder islamista em Teerã, Amã, Rabat, Tunes, Istambul e nos campos de refugiados palestinos no Líbano.
Presidente da Autoridade Palestina e rival político do Hamas, Mahmud Abbas também criticou o assassinato. Ele pediu aos palestinos que permaneçam “unidos, mantenham a paciência e sigam firmes contra a ocupação israelense”.
O Ministério Relações Exteriores do Catar, que abriga a liderança política do grupo palestino e é um país-chave nas negociações para um cessar-fogo entre Israel e Hamas, advertiu que o ataque “pode mergulhar a região no caos e minar as possibilidades de paz”.
A guerra em Gaza eclodiu em7 de outubro de 2023, depois que terroristas do Hamas mataram1.197 pessoas no sul de Israel, em sua maioria civis, e sequestraram251 pessoas — estima-se que 111pessoas continuam no cativeiro em Gaza. Em resposta, o governo de Netanyahu lançou uma campanha militar que matou pelo menos39.445 pessoas no enclave palestino, segundo o Hamas
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