Na manhã de sexta-feira (26/7), ex-presidentes de países da América Latina convidados a Caracas pela ex-deputada opositora para atuarem como observadores nas eleições deste domingo foram impedidos de viajar da Cidade do Panamá para a Venezuela. Entre os políticos presentes no voo da Copa Airlines, estava o ex-presidente da Bolívia Jorge Quiroga. Do Panamá, ele falou com exclusividade ao Correio, na tarde de ontem. Além da proibição da viagem, dez congressistas e eurodeputados do Partido Popular (PP) espanhol, assim como uma parlamentar da Colômbia e outra do Equador, foram deportados ao chegarem no aeroporto de Maiquetía, que serve a Caracas.
- Venezuela: Opositores a Maduro vão do horror à esperança de mudança
- 4 mudanças profundas na Venezuela desde que Maduro assumiu o poder
- Quem é María Corina, candidata barrada com papel decisivo na eleição da Venezuela
- "Maduro terá que aceitar a derrota", diz o candidato da oposição na Venezuela
Como ocorreu a retenção do avião onde o senhor e outros ex-presidentes estavam?
O narcotirano Maduro, que liderou um regime criminoso e delinquente, uma tirania feroz e atroz, chegou a níveis inverossímeis ontem (sexta-feira). Ele deportou, massivamente, deputados europeus, deputadas mexicanas e equatorianas, a ex-prefeita de Bogotá (Claudia López) e congressistas argentinos. No nosso caso, uma delegação de ex-presidentes conhecidos, como eu, Vicente Fox (México), Mireya Moscoso (Panamá) e Ángel Rodríguez (Costa Rica). Em março de 2018, fui deportado de Cuba. Jamais tinha visto que a tirania realizasse sequestros extraterritoriais de aviões comerciais, além de aeronaves dentro da Venezuela. Fizeram centenas de passageiros como reféns, até que abandonássemos o avião. Somos cinco-ex-mandatários democráticos que defenderíamos a liberdade democrática na Venezuela. Foram dois ou três aviões impedidos pelo Panamá de decolar para entrar na Venezuela. Isso ocorreu às 11h37 de sexta-feira (13h37 em Brasília). Outro avião da Copa Airlines, cheio de passageiros, não pôde sair de Caracas, até que saíssemos do voo.
De que modo o senhor avalia essa postura do regime venezuelano?
São os últimos estertores de uma ditadura decadente, em fase terminal, que busca incutir medo e evitar que a jornada eleitoral de domingo se converta em um evento referencial para o mundo inteiro, ao testemunhar como a Venezuela recuperará a democracia e a liberdade, com presença de olhos de ex-presidentes, deputados, senadores e políticos de todo o mundo. Essa tirania gerou êxodo de 8 milhões de venezuelanos, quase 25% da população.
O senhor espera uma eleição justa e transparente, hoje?
Essa eleição não será nem justa, nem transparente, nem limpa. María Corina Machado, e agora Edmundo González Urrutia, não tiveram um segundo na televisão aberta, nem espaço de publicidade em rádio ou jornal. María Corina, eleita com 92% dos votos da oposição em primárias reconhecidas pelo governo, foi impedida de se registrar como candidata, em uma falsa e manipulada inabilitação política. Ao considerar toda a manipulação, ao devolver mesas e rejeitar observadores internacionais, e evitar que 4 milhões de venezuelanos votem no exterior, é claro que isso é uma vantagem do aparato institucional nunca antes vista. Mas, confiamos na capacidade de organização de María Corina Machado. Apesar da falta de missões da OEA e da ONU, impedidas de estar na Venezuela, confiamos na mobilização e na logística da oposição para a contagem dos votos. Estaremos atentados a denunciar qualquer ato irregular. Amanhã (hoje), se define, na Venezuela, o destino da liberdade e da democracia no país e na América Latina.
O que espera sobre o papel do Brasil?
Os únicos olhos nos quais o mundo pode confiar, em alguma medida, com uma margem de dúvida, são os de Celso Amorim, enviado especial especial de Lula. Está claro que os supostos 600 ou 700 convidados por Maduro são funcionários do regime. Esperamos de Amorim duas coisas: mostrar que está em Caracas como representante do Estado brasileiro, e não para aplaudir Maduro. Que ele se reúna com Edmundo González e com María Corina Machado. Seria insólito se não o fizesse. Lula disse que quem ganhar deve governar e que, quem perder, que volte para casa. Amorim precisa se encontrar com Vladimir Padrino López, ministro da Defesa, e com as Forças Armadas, pois são quem maneja a logística eleitoral, são os encarregados de abrir e fechar os centros de votação. Que não se permita a abertura das seções eleitorais até meia-noite, como ocorreu antes de 2015. Esperamos que Amorim peça às Forças Armadas que não reprimam o povo. (RC)