A desistência da candidatura à reeleição do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tomou conta do noticiário internacional e mobilizou políticos ao redor do mundo, inclusive, no Brasil. O democrata comunicou que não irá mais concorrer à Casa Branca por meio de uma carta aberta publicada nas redes sociais e designou a vice Kamala Harris para seguir em seu lugar. Mas, isso ainda não é uma certeza, o que pode ainda movimentar ainda mais os cenários político e econômico globais uma semana após o republicano Donald Trump ter sido vítima de um atentado. As análises sobre as eleições na maior economia do planeta começam a ser revisadas, e a grande expectativa será em torno de quem serão os adversários de Trump e J.D Vance nessa corrida eleitoral.
"A desistência de Biden era desejada pelos democratas e temida pelos republicanos. Biden nunca esteve à frente de Trump nas pesquisas, nunca. Isso inviabiliza sua permanência na disputa dados os sinais que ele foi dando ao longo da campanha", destacou o cientista político Felipe Nunes, fundador e diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa. "Agora, o jogo zera e o Partido Democrata vai ter a função de se reorganizar internamente para uma nova disputa interna sobre quem poderá vencer Trump. Essa nova disputa interna é decisiva para o futuro da eleição", ressaltou o analista e especialista em pesquisas políticas. Para ele, é importante que o partido de Biden defina logo quem será o cabeça da chapa contra Trump. "Se os democratas demorarem a decidir ou se desgastarem na decisão, o caminho fica mais fácil para o republicando. Se eles agirem rápido e mostrarem unidade para vencer Trump, com um candidato mais jovem e adorado pelas diversas facções do partido, o jogo pode mudar", acrescentou.
O economista e consultor André Perfeito, também acredita que a desistência de Biden pode ser uma oportunidade para o Partido Democrata virar o jogo na corrida presidencial contra Trump. "Talvez, os democratas tenham uma chance de reverter o favoritismo de Trump ao simplesmente deixarem sem nenhum candidato óbvio até a convenção do próprio partido. Isso irá forçar a campanha de Trump a atirar para todo o lado sem ter um alvo definido", destacou.
Na avaliação de Perfeito, a decisão do presidente Biden em desistir de concorrer à Casa Branca para sua reeleição mostra grande mal-estar dentro do partido democrata. "Num comunicado no X, Biden desiste de concorrer num gesto que parece ter sido feito por alguém contrariado. Um momento que nem esse era para ser usado como vitrine de unidade partidária, mas soou como alguém jogando a toalha", analisou. Ao ver dele, Biden colocou uma faca no pescoço da elite do partido, que vinha reduzindo as doações para a campanha, nomeando, de forma unilateral, Kamala Harris, como sua sucessora. "Tirar ela da disputa agora seria visto como um duplo ato de traição ao presidente", adicionou.
O economista ainda não consegue arriscar qual será o comportamento dos mercados financeiros nesta segunda-feira, pois, se o mercado gostar de Kamala, o dólar tende a cair porque os juros caem lá fora, na contramão da reação pós atentado de Trump, quando a divisa norte-americana se valorizou. "Mas, tá muito embaralhado ainda", afirmou.
O economista lembrou que vai ser bastante difícil o reposicionamento das duas campanhas. "Se para os democratas é difícil bater em alguém que quase foi assassinado. Também não é simples para os Republicanos bater numa mulher negra sem ao menos saber se ela será de fato a candidata", afirmou Perfeito.
Mundo
Líderes de diversos países também comentaram a desistência. O presidente de Israel, Isaac Herzog, agradeceu ao presidente americano "por seu apoio inabalável ao povo israelense". "Quero expressar meus mais sinceros agradecimentos a Joe Biden por sua amizade e seu apoio inabalável ao povo israelense ao longo de décadas de sua longa carreira", publicou Herzog.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que a decisão merece "respeito". "Meu amigo Joe Biden realizou muitas coisas: para seu país, para a Europa, para o mundo", escreveu Scholz no X, acrescentando: "Sua decisão de não voltar a se candidatar merece respeito", completou.
Na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro Keir Starmer, enalteceu o pensamento de Biden em seus compatriotas. "Eu sei que, como fez ao longo de sua carreira notável, tomou sua decisão em função daquilo que considera ser o melhor para o povo americano", pontuou.
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, afirmou que Biden deixou "a democracia mais forte". "O senhor tomou muitas decisões difíceis, graças às quais a Polônia, os Estados Unidos da América e o mundo estão mais seguros e a democracia, mais forte", reagiu o dirigente.
O Kremlin anunciou que acompanha "com atenção" a evolução dos acontecimentos. "As eleições (nos Estados Unidos) são dentro de quatro meses. É muito tempo, durante o qual muitas coisas podem mudar. Devemos estar atentos, acompanhar o que vai acontecer", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Brasil
No Brasil, ministros e políticos repercutiram a saída de Biden na corrida para a reeleição, mas o Palácio do Planalto não comentou o assunto até o fechamento desta edição. Membros do alto escalão do governo Lula avaliavam a saída de Biden como positiva, no sentido de que agora o partido democrata ganhou força para derrotar Trump. Somente à noite, o Itamaraty se manifestou dizendo que o governo brasileiro não iria se pronunciar.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que a decisão de Biden demonstra uma enorme grandeza no meio político. "Política não é personalismo, mas, sim, serviço a favor das ideias e valores. Biden dá demonstração enorme de grandeza política ao compreender que os Democratas precisam de um fato novo para enfrentar o conservadorismo extremista que ameaça o mundo. Que os Democratas tenham o mesmo altruísmo e sabedoria na escolha para confrontar o extremismo", escreveu Tebet em um post na rede social X (antigo Twitter).
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse na mesma rede social que a desistência de Biden é uma grande decisão para derrotar a extrema direita americana. "Biden desiste de ser candidato a presidente dos EUA. Nova convenção escolherá o novo candidato dos Democratas. Grande decisão para derrotar a extrema direita norte-americana", escreveu.
Alguns parlamentares da oposição comentaram que isso pode sinalizar um certo desespero dentro do partido do atual presidente dos Estados Unidos. Os deputados Nicolas Ferreira (PL-MG) e Carla Zambelli (PL-SP), que vinham criticando fortemente a candidatura de Biden nos últimos dias nas redes sociais, comemoraram o anúncio do chefe da Casa Branca. "Joe Biden desiste de sua candidatura à presidência dos EUA. A esquerda americana está em desespero total", comentou Zambelli. "Se for a Kamala, vai ser chocolate", disse Nicolas se referindo que à vitória de Trump não será difícil.
Com o anúncio de Biden repercutindo fortemente no cenário brasileiro, o doutor em relações internacionais e ceo da Amero Consulting, Igor Lucena, avaliou que os impactos na política nacional serão poucos, visto que o governo Biden, na visão dele, não teve grandes relações com o Brasil durante os últimos anos. "Se você pegar tanto o governo Biden ou o governo Trump, pouca coisa andou. A relação está há muito tempo quase que estagnada. Você tem um nível de comércio importante, mas que vem decrescendo em relação à China", destacou Lucena.
Com a saída de Biden, a vice-presidente Kamala Harris foi destaque de comentários do candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos, deputado do PSol, que tem a petista Marta Suplicy como vice na chapa. "Já que, com a desistência do Biden, e a vice virou assunto, aproveite para saber quem são os candidatos a vice na principal eleição deste ano aqui no Brasil: a Prefeitura de São Paulo", escreveu Boulos. "Vice é importante. Fica de olho", comentou o deputado.
O presidente do Instituto Brasil África e doutor em relações internacionais, João Bosco Monte, reforça o destaque dado por Boulos."É importante saber quem é o candidato que vai compor a chapa. De um modo geral, é essencial a composição ser sólida, porque nos últimos tempos estamos vendo que os vices têm assumido um papel de destaque, alguns até se tornando presidentes", avaliou Bosco.
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