SAÚDE

Como pássaros, queijos e vinho podem causar doenças pulmonares

Há inúmeras substâncias, poluentes e partículas suspensas no ar que podem gerar muitas formas de doenças pulmonares.

Nossos pulmões são responsáveis pela conexão entre o sangue e o ar atmosférico.

Sua função principal é a oxigenação da nossa corrente sanguínea. E eles são afetados por muitos outros fatores, além da simples pressão do oxigênio e do dióxido de carbono.

Existem inúmeras substâncias, poluentes e partículas suspensas no ar que podem gerar muitas formas de doenças pulmonares.

A poluição urbana pode gerar a inalação de gases que incluem dióxido de nitrogênio. Já se demonstrou que esses gases afetam outras doenças respiratórias, como a asma.

O pó de carvão gera entre os mineiros uma condição conhecida como enfisema, hoje chamada de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Mas a inalação de certas partículas pode causar doenças específicas com nomes incomuns. E elas são mais frequentes em certas profissões – e até em certos passatempos.

O exemplo mais conhecido talvez seja o amianto.

A história do amianto é longa e, em última análise, mortal. Trata-se de uma substância de ocorrência natural – um material forte, durável e resistente ao calor. Ele já foi extensamente utilizado na construção civil e naval.

Ao se decompor, o amianto libera fibras no ar que podem ser inaladas facilmente. E, ao migrar para o trato respiratório, ele pode primeiramente afetar os pulmões, gerando uma espécie de cicatriz que impede que eles inflem normalmente. É a chamada asbestose.

O amianto também pode se mover em direção ao lado externo, irritando e espessando a pleura (a membrana que reveste os pulmões). Isso restringe ainda mais a expansão dos pulmões.

E o pior talvez ainda seja a associação do amianto à forma agressiva de câncer conhecida como mesotelioma, que é grave e, infelizmente, incurável.

O espectro de pacientes atingidos pelas doenças relacionadas ao amianto não se limita a homens no seu ambiente de trabalho. Muitas esposas que lavavam as roupas sujas dos maridos também foram expostas, bem como as crianças que moravam na mesma casa.

O primeiro diagnóstico confirmado de asbestose ocorreu em 1924.

O espantoso é o longo período que separa o primeiro reconhecimento das doenças (e até das mortes) relacionadas ao amianto no início do século 20 e a sua eventual proibição de uso em alguns países nos anos 1980 e 1990, quando sua remoção e descarte passaram a ser cuidadosamente regulamentadas.

Aves, latão e queijo azul

Não é apenas o seu trabalho que pode colocar você em risco de desenvolver certas doenças pulmonares.

Às vezes, o que você faz no seu tempo livre também é responsável.

Um exemplo são os adeptos da criação de aves, que criam pombos para competições ou mantêm aves em casa como animais de estimação.

Se você for uma dessas pessoas, mantenha-se atento aos sintomas do peito, como tosse persistente ou respiração curta. E, se eles aparecerem, trate com seriedade.

A patologia que estamos procurando aqui tem um nome sofisticado: alveolite alérgica extrínseca (AAE).

Resumidamente, trata-se de uma inflamação dos minúsculos sacos de ar do pulmão (os alvéolos), gerada por uma reação alérgica a uma partícula externa que entra no corpo. Ela tem várias características comuns com a asbestose: tosse, rigidez no peito e respiração curta.

A AAE pode ser diagnosticada com imagens radiográficas. Em um raio X do peito, os campos do pulmão apresentam nebulosidade, com aparência similar a vidro moído.

A doença também pode ser investigada com exames de sangue e um teste respiratório específico. Nele, o paciente sopra o ar em um tubo para medir seu volume pulmonar e o fluxo de ar durante a expiração. Chamamos este exame de espirometria.

Mas voltemos, agora, aos nossos amigos emplumados e aos problemas que eles causam.

A poeira das penas e as fezes das aves contêm proteínas aviárias que podem inflamar nossos pulmões quando inaladas. Elas podem vir de diversas espécies de aves diferentes.

A inflamação é observada em criadores de pombos, mas também atinge produtores e vendedores de aves.

Mesmo os pássaros pequenos, como canários e periquitos, podem trazer risco, da mesma forma que as aves maiores, como calopsitas e papagaios.

A AAE também tem outras causas, além da inalação constante de partículas das aves. A lista é extensa e curiosa. Ela inclui uma série de alérgenos provenientes de diversos campos de atividade.

No setor de alimentos, por exemplo, imagine a inalação dos fungos da crosta de queijos azuis, que causa a doença conhecida como pulmão do queijeiro. Ou os fungos das uvas mofadas e o desenvolvimento de pulmão do vinicultor.

Partículas similares podem ser liberadas por grãos de café, melaço, cogumelos e cevada. Cada uma delas cria sua própria forma de doença respiratória.

As pessoas que trabalham com capim seco ou feno – como os fazendeiros ou construtores de telhados de palha, por exemplo – também podem inalar fungos inflamatórios. Outras fontes incluem a serragem, fertilizantes e musgos.

Aparentemente, nem a música e a banheira quente estão totalmente livres de riscos.

Bactérias relacionadas àquelas que causam a tuberculose podem ser inaladas de instrumentos de sopro feitos de latão ou da água quente borbulhante. Estas doenças são coloquialmente chamadas de pulmão do músico e pulmão da sauna.

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Até os trompetes podem prejudicar a saúde: é o chamado 'pulmão do músico'.

A maior parte dessas condições pode ser tratada com esteroides, mas o principal é evitar a exposição ao alergênico em questão.

Para alguns, isso é mais fácil do que para outros. Pode ser mais difícil se desfazer de um animal de estimação do que mudar de carreira.

Parte da dificuldade pode ser determinar o que está causando o problema. Por isso, é sempre importante que o médico pergunte sobre a profissão e os hobbies do paciente durante uma consulta sobre sintomas respiratórios.

Não subestime os efeitos do ar que respiramos sobre os pulmões. O ar pode sempre exercer sua influência – tanto no campo, quanto na cidade.

* Dan Baumgardt é professor da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociências da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

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