Ucrânia

A difícil recuperação das crianças internadas em hospital bombardeado pela Rússia

Um míssil atingiu o departamento de toxicologia do principal hospital pediátrico da Ucrânia, danificando várias partes do local, onde 600 pacientes recebem tratamento

Antonina Malyshko, 33, não consegue conter as lágrimas ao lembrar do bombardeio russo da última segunda-feira (8) contra o hospital pediátrico de Kiev em que seu filho, de 6 meses, estava internado para tratar um câncer.

Martin recebia atendimento no hospital Okhmatdyt desde que foi diagnosticado com a doença, quando tinha 2 meses. "Achei que ele fosse chorar, como as outras crianças, mas ele apenas olhava para mim, com a chupeta na boca. Ele me segurou com força e ficamos agarrados o tempo todo. Estava tranquilo", conta Antonina.

Enquanto fala, a mulher olha para o filho, que dorme enquanto recebe uma transfusão de sangue em outra clínica de Kiev, para onde foi transferido após o ataque.

Um míssil atingiu o departamento de toxicologia do principal hospital pediátrico da Ucrânia, danificando várias partes do local, onde 600 pacientes recebem tratamento. O bombardeio provocou uma onda de condenações internacionais e colocou em risco a vida de crianças que dependem de aparelhos e de outras, como Martin, que trilham o caminho sinuoso da recuperação.

Adaptação

Fotos tiradas após o bombardeio mostram crianças doentes, sem cabelo, sendo atendidas na rua. Em uma hora, o Instituto Nacional contra o Câncer enviou uma equipe para cuidar de algumas delas e evitar que seu tratamento fosse interrompido.

Todas as crianças estão estáveis, informou hoje a diretora do instituto, Olena Yefimenko: "O tratamento não foi interrompido, elas receberam a terapia no mesmo dia."

O instituto já estava cheio antes do ataque, mas Olena conta que se organizou rapidamente para receber cerca de 30 pacientes. "A guerra nos ensinou a nos adaptar."

Um dos recém-internados é Dmytro, 13, que tem um sarcoma. "Se não tivéssemos saído, estaríamos mortos", diz, protegido por uma máscara. Sua mãe, Iryna Vyshnikina, tenta tranquilizá-lo: "Está tudo bem."

Os médicos do Instituto foram informados de que a maioria dos pacientes poderá retornar ao hospital bombardeado nos próximos dias. É o que espera Iryna, que diz ter formado "uma espécie de família" com os outros pacientes.

Outra mãe, Maryna Shchomak, 24, lembra como tremia ao visitar a área do bombardeio. "Havia sangue nas escadas. Foi tão chocante. Tudo estava bem ali. Você se acostuma com essa imagem de normalidade e, de repente, depara-se com esse caos."

Apresentação

Centenas de pessoas, incluindo equipes médicas que apresentavam marcas do bombardeio, como hematomas e cortes, reuniram-se hoje no entorno do hospital para uma apresentação em memória das vítimas. Uma nefrologista e um visitante morreram no ataque.

Diante de uma fachada cheia de buracos, a orquestra, dirigida por Herman Makarenko, apresentou-se para transmitir a ideia do perigo constante em que vivem os ucranianos desde que a Rússia iniciou sua invasão, em 2022, disse o diretor.

No Instituto contra o Câncer, Antonina Malyshko comenta: "Você não sabe onde nem quando eles poderão bombardear, não sabe o que esperar, nem entende o sentido de tudo isso."

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