Estados Unidos

Estados Unidos: Trump se silencia e Biden tenta salvar a campanha

Presidente democrata Joe Biden reconhece que se comportou mal no primeiro debate, mas defende legado no governo. Vídeo vazado de Trump mostra republicano despejando insultos no adversário e na vice

Mais uma vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 81 anos, reconheceu a atuação desastrosa no duelo com o republicano Donald Trump, em 27 de junho. "Eu me comportei mal em um debate", afirmou, durante entrevista a uma emissora de rádio local de Wisconsin. "No entanto, 90 minutos no palco não apagam o que fiz durante três anos e meio",  acrescentou. A Casa Branca informou que o líder democrata foi examinado por seu médico dias depois do debate, enquanto se recuperava de um resfriado.

Biden comandou solenidades em homenagem ao Dia da Independência dos Estados Unidos e, na quarta-feira (3/7), se reuniu com governadores de seu partido, os quais teriam mostrado unidade em torno da candidatura e descrito o encontro como uma conversa aberta, honesta e franca. O presidente confirmou aos governadores que está com "fadiga". Fontes disseram à emissora CNN que Biden prometeu não mais estar presente em eventos após as 20h e "dormir mais".

Apesar de Trump não se pronunciar publicamente sobre a condição do adversário, um vídeo obtido pelo site Daily Beast mostra o magnata despejando insultos contra Biden, após uma partida de golfe. "Biden está desistindo da corrida. Eu o tirei. Ele é uma pilha velha de lixo quebrado. Agora, temos Kamala (Harris). Ela é tão ruim", diz o ex-presidente nas imagens, enquanto anda em um carrinho de golfe. Nesta sexta-feira, o líder democrata terá uma prova de fogo: participará de um comício de campanha, em Madison, no estado-chave de Wisconsin, quando tentará convencer a opinião pública de que está apto a mais quatro anos de mandato. 

Vice-diretor da Faculdade de Política, Segurança e Assuntos Internacionais da Universidade da Flórida Central, Aubrey Jewett acredita que Biden manterá sua nomeação dentro do Partido Democrata. "Seria algo sem precedentes um abandono de campanha tão tarde. Em 1968, o então presidente Lyndon Johnson decidiu não disputar a reeleição, mas fez o anúncio no fim de março, o que permitiu ao partido tempo suficiente para escolher outro nome", afirmou ao Correio. "Biden enfrenta pressão para deixar a corrida à Casa Branca por parte de um número crescente de democratas. Se ele for capaz de participar de vários eventos públicos e entrevistas e parecer apto, capaz e coerente, com o tempo, o clamor pela renúncia à candidatura vai desaparecer. No entanto, se ele tiver um ou dois problemas, em que pareça demasiadamente velho, o pedido de renúncia poderá atingir um nível febril, impossível de ser ignorado."

Segundo Jewett, mesmo que Biden desista, a maioria das pesquisas de opinião pública sugerem que outros democratas não teriam desempenho melhor contra Trump. "Um candidato mais jovem e mais vigoroso poderia agitar a corrida eleitoral e colocar um freio no argumento mais poderoso dos republicanos: o de que Biden é velho demais para um segundo mandato. Acho que o nome mais provável para substituí-lo seria a vice-presidente Kamala Harris. Na condição de afro-americana, ela poderia obter apoio entre os eleitores negros, que normalmente votam nos democratas, mas poderiam considerar seriamente avalizar Trump", acrscentou. 

Em relação a outros potenciais substitutos de Biden, Jewett cita os governadores Gavin Newsom (Califórnia); Gretchen Whitmer (Michigan); J.B. Prizker (Illinois); e o secretário dos Transportes, Pete Buttigieg, que fez uma sólida campanha contra Biden pela indicação democrata, em 2020.

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Aubrey Jewett, vice-diretor da Faculdade de Política, Segurança e Assuntos Internacionais da Universidade da Flórida Central

"Os democratas não deveriam estar em pânico, mas preocupados. Biden pareceu velho e incoerente em muitos pontos do debate e isso pode colocar fim às chances de reeleição. As pesquisas mostram que a disputa entre ele e Trump está acirrada, mas o republicano ganhou terreno desde o duelo na tevê. Os democratas precisam decidir rapidamente sobre se darão apoio total a Biden e criar uma estratégia para convencer o eleitorado. Se Biden desistir, precisa fazê-lo o quanto antes, para permitir ao partido encontrar outro candidato e começar uma campanha por votos."

Aubrey Jewett, vice-diretor da Faculdade de Política, Segurança e Assuntos Internacionais da Universidade da Flórida Central

Reprodução - Capa da revista The Economist

"Não é jeito de comandar um país" 

A edição de 6 de julho da revista The Economist reforçou a pressão sobre o presidente Joe Biden e não poupou em polêmica, acusada de etarismo. A capa traz um andador com o brasão da Presidência dos Estados Unidos e o título "Não é jeito de comandar um país", na tradução literal. O artigo da The Economist, que defende abertamente que o democrata desista da candidatura à Casa Branca, afirma que "o debate presidencial foi terrível para Joe Biden, mas o acobertamento tem sido pior. Foi uma agonia ver um velho homem confuso lutando para lembrar palavras e fatos. Sua incapacidade de argumentar contra um oponente fraco era desanimadora", afirma o texto. "Mas a operação da sua campanha para negar o que dezenas de milhões de americanos viram com os seus próprios olhos é mais tóxica do que qualquer outra coisa, porque a sua desonestidade provoca desprezo."

 

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Arquivo pessoal - Aubrey Jewett, vice-diretor da Faculdade de Política, Segurança e Assuntos Internacionais da Universidade da Flórida Central
Reprodução - Capa da revista The Economist