Pelo segundo dia consecutivo, milhares de manifestantes ocuparam, ontem, as ruas de Caracas e de outras cidades venezuelanas contra a reeleição do presidente Nicolás Maduro. Também alvo de pressões de parte da comunidade internacional, que lançou suspeitas de fraudes sobre o resultado da votação de domingo, o líder chavista apertou o cerco contra seus adversários e aumentou a repressão às mobilizações.
De acordo com informações de ONGs, pelo menos 12 pessoas morreram nos protestos, incluindo dois menores de idade. Mais de 80 ficaram feridas. O número de detenções nas primeiras 24 horas de manifestações chegou a 749, segundo o Ministério Público da Venezuela. Familiares se aglomeraram do lado de fora do comando da Guarda Nacional, onde estão detidas várias mulheres, incluindo menores de idade.
"Minha filha tem 16 anos, está com uma amiga que tem 25 anos. Elas saíram ontem por volta das 11 ou 12 horas para dar uma volta e foram detidas", disse à agência de notícias France Presse (AFP) uma mulher de 50 anos, que pediu anonimato. A seu lado, um médico de 32 anos também aguardava informações sobre um familiar preso. "Infelizmente, estamos sofrendo perseguição deste governo", disse o homem, que também preferiu não revelar seu nome por motivos de segurança.
No início da tarde, o partido Vontade Popular (VP), denunciou que o líder opositor Freddy Superlano havia sido preso e sequestrado pelas autoridades venezuelanas. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou o momento da abordagem. Nas imagens, é possível ver que Superlano joga fora seu celular, mas um policial recolhe o aparelho. Horas depois, a oposição anunciou a possível prisão de outro dirigente.
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Terrorismo
O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, asseverou que aqueles que destruíram o patrimônio público serão processados por "atos de terrorismo". Essa acusação, disse ele, poderá ser estendida à líder antichavista María Corina Machado e a Edmundo González Urrutia, oponente de Maduro nas urnas, que "instigaram" a população a ir às ruas.
O presidente venezuelano, que recebeu ontem uma declaração de "apoio incondicional e lealdade absoluta" das Forças Armadas, culpou o candidato da oposição e Maria Corina pela violência nas manifestações. "Responsabilizo você, senhor González Urrutia, por tudo o que está acontecendo na Venezuela, pela violência criminosa, pelos delinquentes, pelos feridos, pelos mortos, pela destruição. Estamos vivenciando uma tentativa de desestabilização em massa", disse Maduro, no palácio presidencial de Miraflores. "A justiça vai chegar", advertiu.
María Corina Machado afirma ter cópias de 84% das atas de apuração que comprovariam a suposta fraude, projetando uma vitória de González Urrutia com 6,27 milhões de votos contra 2,75 milhões de Maduro. A divulgação desses registros também é uma exigência da comunidade internacional, incluindo Colômbia, Brasil e Estados Unidos.
A Casa Branca considerou "inaceitável" a repressão aos manifestantes, enquanto o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, e o responsável pela diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediram respeito à manifestação pacífica dos opositores.
A despeito das ameaças do governo, González Urrutia e María Corina estiveram à frente de uma marcha contra Maduro em Caracas. "Liberdade, liberdade!", bradavam os manifestantes. Em um clima bem mais tranquilo, os seguidores de Maduro também realizaram um grande ato de apoio ao presidente, que se estendeu até o Palácio de Miraflores.
"Devemos permanecer nas ruas, não podemos permitir que nos roubem os votos tão descaradamente. Isso precisa mudar", disse a administradora Carley Patiño, de 47 anos, à agência de notícias France Presse (AFP).
Durante a concentração, González Urrutia pediu calma às tropas de Maduro, após a forte repressão da véspera. "Senhores da Força Armada: não há razão alguma para reprimir o povo da Venezuela, não há motivo para tanta perseguição", disse o opositor.
Pela manhã, a ONG de defesa dos direitos humanos Foro Penal relatou que pelo menos 11 civis morreram nos protestos, incluindo dois menores de idade. Horas depois, mais um óbito foi divulgado. "Preocupa-nos o uso de armas de fogo nestas manifestações. É um número alarmante", considerou Alfredo Romero, diretor da Foro Penal.
A ONG Encuesta Nacional de Hospitales informou que 84 civis ficaram feridos nas manifestações. O Ministério da Defesa mencionou que 23 militares sofreram ferimentos.
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