Em dezembro de 2023, completaram-se 110 anos desde que a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, voltou a seu lugar no Museu do Louvre em Paris, depois de uma ausência de dois anos.
O roubo da obra-prima italiana solidificou seu status como a pintura mais famosa do mundo.
No entanto, o homem que a roubou, Vincenzo Peruggia, não era o ladrão engenhoso que aparece em tantos filmes de Hollywood.
Ele conseguiu entrar no Louvre e sair com a pintura de Da Vinci com o mínimo de preparação, mas o feito causou sensação e criou um ícone.
O roubo aconteceu em uma segunda-feira, em 21 de agosto de 1911, um dia em que o museu estava fechado.
A ausência do quadro só foi notada na terça-feira. A polícia começou uma investigação e o centro permaneceu fechado durante uma semana em meio ao escândalo.
La Joconde ("A Gioconda") — como os franceses chamam a Mona Lisa — desapareceu por mais de dois anos e foi recuperada em 10 de dezembro de 1913, quando Peruggia foi capturado ao entregar a obra a Alfredo Geri, um vendedor de antiguidades de Florença, na Itália.
Segundo o historiador da arte americano Noah Charney, autor do livro Os roubos da Mona Lisa, este foi o primeiro delito contra a propriedade a receber a atenção da imprensa internacional.
- Mona Lisa: a cadeira escondida que transforma o significado da obra-prima de Da Vinci
- Leonardo da Vinci, 500 anos depois: como o gênio transformou as nossas vidas
- Em 2017, mais brasileiros foram ao Louvre, em Paris, do que ao Museu Nacional
Celebridade
É fácil presumir que o incidente causou tal sensação porque a Mona Lisa era "a pintura mais famosa do mundo", mas naquele momento, ela não era. O que realmente a catapultou para a fama foi o roubo.
A cobertura midiática que ela teve durante o tempo em que esteve perdida foi o principal motivo de sua fama mundial. Antes disso, muita gente nunca a tinha visto.
"A imagem começou a aparecer em noticiários cinematográficos, caixas de chocolate, postais e anúncios publicitários. De repente, ela se transformou em uma celebridade como estrelas de cinema e cantores", escreveu o escritor britânico Darian Leader, autor do livro Roubando a Mona Lisa: o que a arte não nos deixa ver.
Multidões passaram a ir ao Louvre só para ver o espaço vazio onde o pequeno retrato da mulher do século 16 costumava estar.
Antes disso, o Louvre já tinha muitas obras de destaque, como a estátua Vênus de Milo, a pintura Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix, e o quadro A balsa de Medusa, de Théodore Géricault. Mas após o roubo, a Mona Lisa conquistou uma fama única.
O furto tornou-se assunto de Estado e despertou discussões apaixonadas na mídia francesa.
Segundo o jornalista francês Jerome Coignard, autor do livro Uma mulher desaparece, uma vez que os jornais franceses descreveram as circunstâncias do roubo, não tinham mais o que dizer. Por isso, começaram a inventar histórias sobre o quadro, como a de que Leonardo Da Vinci teria se apaixonado pela modelo.
A polícia seguiu muitas pistas sem sucesso. O poeta vanguardista Guillaume Apollinaire chegou a ser preso por uma semana e seu amigo, o pintor espanhol Pablo Picasso, também foi suspeito do roubo. Ambos eram inocentes.
Não foi tão difícil
Apesar da fama, a verdade é que o ato aparentemente espetacular do ladrão não necessitou de nenhum plano grandioso.
O museu tinha um sistema de segurança duvidoso e poucos guardas. De fato, o trabalho que se fazia para melhorar a má segurança das obras foi o que inspirou Peruggia.
O italiano havia trabalhado no Louvre em 1910 e instalado pessoalmente a porta de vidro que protegia a obra-prima. Ele ainda tinha o uniforme branco que os empregados do museu usavam e sabia como a pintura estava presa.
"Todos estes conhecimentos se juntaram quando ele teve uma oportunidade", diz Charney.
Após sua captura, Peruggia alegou que sua motivação era patriótica - ele teria pensado que Napoleão havia roubado a pintura da Itália e que sua missão era levá-la de volta para casa.
Ele estava enganado. O quadro havia sido comprado pelo rei francês Francisco 1º no século 16, por uma quantia considerável de dinheiro.
Como imigrante italiano, Peruggia também argumentou que havia sido vítima de racismo por parte de seus colegas franceses.
No entanto, segundo Noah Charney, ele havia feito uma lista de colecionadores de arte americanos, o que indicava que ele tinha planos de vender a obra.
Esquecimento
Há outras hipóteses sobre os motivos do ladrão, mas até hoje a verdadeira razão permanece um mistério.
Peruggia não era um conhecedor de arte. Parte do motivo pelo qual ele escolheu a Mona Lisa era o seu tamanho pequeno: o quadro mede 53 por 77 centímetros.
Desde do retorno do quadro ao Louvre, pessoas de todas as partes do mundo vão visitar a Mona Lisa, mas, segundo Coignard, este pequeno e íntimo retrato requer calma e tempo para ser realmente apreciado.
É por isso que poucos realmente "veem" a pintura; o que importa é estar ali e poder dizer que a viram, avalia o escritor francês.
Apesar do mito, o ladrão foi rapidamente esquecido depois de capturado, especialmente por causa da Primeira Guerra Mundial, que começaria no ano seguinte, 1914.
"As pessoas pensam nele como alguém extravagante e adorável, que se apaixonou por uma obra de arte e que não a danificou", diz Charney.
Reportagem publicada originalmente em dezembro de 2013.
- Olimpíada: conheça as novidades desta edição e os detalhes da delegação brasileira
- Como skate no Brasil foi da proibição à disputa pelo ouro olímpico
- 3 fatos fascinantes sobre o rio Sena, protagonista da abertura dos Jogos Olímpicos e da história da França
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br