A Venezuela aguarda com tensão os resultados das eleições presidenciais deste domingo (28/7), consideradas uma das mais imprevisíveis dos últimos anos e nas quais a oposição aposta que pode alcançar um triunfo histórico após 25 anos de chavismo no governo.
A incerteza foi a sensação dominante nas ruas de Caracas neste domingo, quando o país viveu uma jornada eleitoral que transcorreu sem grandes incidentes mas com grande participação e longas filas para votar, relata Norberto Paredes, enviado especial da BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, à Venezuela.
O presidente Nicolás Maduro, que dirige o país desde 2013, tem se mostrado confiante na vitória, apesar do entusiasmo da oposição, que aparece na frente na maoria das pesquisas.
A líder da oposição María Corina Machado, inabilitada para exercer cargos públicos, transferiu seu apoio ao candidato Edmundo González, um ex-diplomata de 74 anos que fez campanha ao lado de Machado.
Na avaliação de analistas, desde 2013 a oposição não aparecia com tamanha possibilidade de derrotar o chavismo, apesar das denúncias de que o processo eleitoral não teve condições justas de competição, por conta da própria inabilitação de Machado ou as dificuldades para o voto dos milhões de venezuelanos que estão no estrangeiro devido à crise econômica e política do país.
"Há uma batalha entre o bem e o mal, entre os que odeiam e querem vingança e os que amamos a Venezuela. Passamos por todas as tempestades e queremos avançar em harmonia para que cada um continue com seu empreendimento e continue trabalhando para nossa recuperação econômica", disse Maduro, que afirmou que o resultado será "reconhecido".
Às 19h de Caracas (20h em Brasília), a maior parte dos centros eleitorais começaram a encerrar a votação, e a oposição intesificou os pedidos para que seus eleitores continuassem em “vigília” nos centros eleitorais. Machado também pediu que os oposicionistas atuando como fiscais exigissem atas de resultados nos centros de votação, citando que esse é um direito previto em lei.
A atmosfera era de crescente tensão à espera do pronunciamento do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
“Esperamos que os resultados sejam respeitados por todos”
O processo eleitoral foi seguido de perto pelos países vizinhos, mas teve uma reduzida participação de observadores internacionais, depois que o governo Maduro, que controla o CNE, retirou o convite para que uma missão da União Europeia acompanhasse o pleito.
O governo brasileiro enviou Celso Amorim, ex-chanceler e influente assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para temas internacionais, para Caracas. Neste domingo, Amorim divulgou nota celebrando que “a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta”, com “participação expressiva do eleitorado”.
“Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos”, disse o ex-chanceler.
A declaração reforça a mensagem de Brasília nos últimos dias de que o resultado, seja qual for, deve ser respeitado. Lula, um aliado do chavismo, marcou uma inusual distância do presidente venezuelano ao criticar a declaração de Maduro de que uma vitória da oposição levaria a “um banho de sangue”.
A grande participação eleitoral se traduziu em longas filas. Norberto Paredes, enviado da BBC Mundo, visitou o Liceo Andrés Bello, um dos maiores centros de votação da capital venezuelana, onde uma senhora contou que estava há duas horas na fila, mas que estava disposta a passar o dia todo ali, se fosse necessário.
A poucos quilômetros, no Colégio Amanda de Schnell, localizado no bairro El Valle, que no passado foi um bastião do movimento chavista, vários moradores, que haviam permanecido algumas horas sob o sol inclemente de Caracas para votar, contaram que a crise econômica os havia obrigado a votar na oposição pela primeira vez. “Já é impossível justificar o governo de Maduro”, disse um senhor que pediu para não ter seu nome revelado.
Um dos poucos centros onde não havia grandes filas foi no Colégio Manuel Palacio Fajardo, na bairro 23 de Janeiro, uma populosa área de Caracas conhecida por ser um dos grandes redutos do chavismo e onde fica o mausoléu de Hugo Chávez, morto em 2013.
Era lá que Chávez votava e lá ainda vota sua filha, María Gabriela Chávez. Quando Gabriela chegou para votar às 11:30 da manhã, havia apenas uma dezena de pessoas esperando para fazer o mesmo. A maioria disse que votaria no candidato opositor.
Enquanto tanto a oposição quanto o chavismo repetem estar seguros de que vão ganhar esta eleição, é difícil prever o que acontecerá quando o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, anunciar o vencedor da disputa.
Analistas não descartam que a incerteza se mantenha mesmo depois que os resultados forem anunciados.
- Quem é María Corina, candidata barrada com papel decisivo na eleição da Venezuela
- O abandono em massa das salas de aulas por professores na Venezuela
- Se Maduro for reeleito, 'milhões de venezuelanos vão fugir', diz líder da oposição na Venezuela
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br