Mais do que uma tentativa de defender a guerra na Faixa de Gaza e renovar apoio à ofensiva contra o grupo extremista palestino Hamas, a visita do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao presidente dos EUA, Joe Biden, teve o objetivo de corrigir ruídos nas relações entre os dois países. Além de se reunir com Biden, o premiê foi recebido pela vice, Kamala Harris, potencial presidenciável do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump. Nesta sexta-feira (26/7), Netanyahu e o magnata republicano terão um encontro na mansão de Mar-a-Lago, na Flórida. A conversa com o atual chefe de Estado norte-americano foi tensa. Biden pressionou o visitante a alcançar "logo" um cessar-fogo no território palestino.
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"De um orgulhoso judeu sionista a um orgulhoso sionista irlandês-americano, quero agradecer pelos 50 anos de serviço público e pelos 50 anos de apoio ao Estado de Israel", afirmou Netanyahu, ao render uma homenagem ao anfitrião. "E estou ansioso para conversar com você hoje e trabalhar com você nos próximos meses", acrescentou. Na véspera, um funcionário do governo dos EUA revelou à imprensa que as negociações para uma suspensão das hostilidades em Gaza estão nas "etapas finais". Pouco depois, Kamala e o israelense trocaram um aperto de mãos protocolar, em uma foto na qual o semblante mais sério prevaleceu. "É hora de fechar este acordo", cobrou a ex-senadora, ao avisar que "não ficará calada" diante do sofrimento palestino.
Por e-mail, Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York e especialista em Oriente Médio, admitiu ao Correio que o propósito da ida de Netanyahu ao Salão Oval da Casa Branca é corrigir a relação bilateral. "Netanyahu quer alcançar um cessar-fogo com o Hamas por seis semanas e libertar todos os reféns, mas Biden gostaria que a negociação prosseguisse até a obtenção de uma trégua permanente. O premiê não concorda com isso porque deseja ter certeza de que o Hamas jamais estará em uma posição para se reconstruir e governar a Faixa de Gaza", observou. Ele entende que a posição de Kamala não será diferente da de Biden. "Trump, no entanto, será mais complacente com Netanyahu, caso se torne presidente, pois ambos são desonestos, extremamente egoístas e egocêntricos."
Professor de direito internacional da Universidade de Princeton e relator especial da ONU para a Palestina Ocupada entre 2008 e 2014, Richard Falk disse ao Correio que Netanyahu busca transmitir a ideia de neutralidade nas eleições, ao se encontrar com Biden, Kamala e Trump. "Ele quer deixar claro que não tem preferência por democratas ou republicanos nas eleições de 5 de novembro. O discurso significativamente controverso e boicotado no Congresso dos Estados Unidos, na quarta-feira, foi uma resposta ao convite bipartidário", explicou.
Para Falk, Netanyahu usará o encontro com Trump, hoje, justamente para projetar a imagem de imparcialidade no processo eleitoral. "É uma forma de manter o apoio de ambos partidos a Israel, o qual tem sido severamente colocado à prova por seu comportamento na Faixa de Gaza e por sua atitude desafiadora em relação às instituições internacionais", disse.
O palestino-americano Hani Almadhoun, que conseguiu arrecadar US$ 1 milhão para combater a fome dos desabrigados na Faixa de Gaza e perdeu 151 familiares durante bombardeios israelenses, criticou a estratégia da Casa Branca. "Eu gostaria que Biden e Kamala se encontrassem com alguns dos palestinos que enterraram seus parentes. Pelo que eu saiba, nenhum deles se reuniu com lideranças palestinas, nem mesmo com cidadãos palestinos que perderam seus entes queridos", desabafou ao Correio, por telefone.
EU ACHO...
"Um objetivo secundário da visita de Netanyahu a Trump envolve o planejamento de uma estratégia cooperativa na busca mais ampla de seu governo de coalizão para completar a expansão de Israel até a Cisjordânia e partes da Faixa de Gaza. Tais ambições, se colocadas em prática, provocarão a resistência dos palestinos e iniciativas de solidariedade em todo o mundo, talvez recordando a campanha anti-apartheid contra o regime racista da África do Sul entre os anos 1970 e 1980."
Richard Falk, professor de direito internacional da Universidade de Princeton e relator especial da ONU para a Palestina Ociupada entre 2008 e 2014
"Netanyahu busca transmitir a impressão de que Israel está no caminho certo e que defende a democracia. Ele quer vender a imagem de que seu país é a potência capaz de impedir o Irã de expandir sua influência no Oriente Médio. Pessoalmente, não confio nele. Seus históricos ao longo dos últimos 17 anos demonstram isso de forma inequívoca."
Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York
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Eu acho...
"Um objetivo secundário da visita de Netanyahu a Trump envolve o planejamento de uma estratégia cooperativa na busca mais ampla de seu governo de coalizão para completar a expansão de Israel até a Cisjordânia e partes da Faixa de Gaza. Tais ambições, se colocadas em prática, provocarão a resistência dos palestinos e iniciativas de solidariedade em todo o mundo, talvez recordando a campanha anti-apartheid contra o regime racista da África do Sul entre os anos 1970 e 1980."
Richard Falk, professor de direito internacional da Universidade de Princeton e relator especial da ONU para a Palestina Ociupada entre 2008 e 2014
"Netanyahu busca transmitir a impressão de que Israel está no caminho certo e que defende a democracia. Ele quer vender a imagem de que seu país é a potência capaz de impedir o Irã de expandir sua influência no Oriente Médio. Pessoalmente, não confio nele. Seus históricos ao longo dos últimos 17 anos demonstram isso de forma inequívoca."
Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York
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