Barack Obama escolheu não criticar diretamente o aliado, imediatamente depois do desempenho pífio de Joe Biden no debate diante de Donald Trump, em 27 de junho. "Noites ruins de debate acontecem. Acreditem em mim", afirmou o ex-presidente dos Estados Unidos, em um texto modesto publicado na rede social X, o antigo Twitter. A insistência do atual inquilino da Casa Branca em buscar a reeleição e o impacto da tentativa de assassinato contra o republicano — o que impulsionou a popularidade de Trump — forçaram uma mudança de tom de um dos nomes mais respeitados do Partido Democrata.
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De acordo com a imprensa americana, Obama confidenciou a copartidários que o caminho de Biden para a vitória "tem diminuído bastante" e que o presidente precisa "seriamente" considerar a viabilidade da candidatura. Entre 2009 e 2017, Biden foi o vice de Obama. Segundo o site The Hill, o presidente fará "um grande anúncio" depois da Convenção Republicana. A expectativa entre os congressistas democratas é de que ele abandone a disputa e escolha a vice, Kamala Harris, como candidata.
Biden suspendeu a campanha, após ser diagnosticado com covid-19, na quarta-feira. Na véspera, durante compromissos em Las Vegas (Nevada), o democrata de 81 anos lutava contra o pigarro durante o discurso. Nesta quinta-feira (17/7), ele seguiu recomendação médica e se isolou em sua casa de praia em Delaware, no leste dos Estados Unidos.
Em entrevista à emissora Bet News, o líder americano admitiu como "legítimas" as preocupações com sua idade e forma física. "Acho que é uma coisa legítima da corrida eleitoral, contanto que eu possa demonstrar que isso não afeta minha capacidade de competir e minha capacidade de fazer as coisas, de literalmente liderar o mundo", declarou.
Se Obama tem atuado nos bastidores e evitado declarações públicas sobre o tema, a veterana Nancy Pelosi, ex-líder da Câmara dos Deputados, se pronunciou algumas vezes a favor de uma nova candidatura e chegou a telefonar para Biden. Pelosi alertou o presidente de que as mais recentes pesquisas indicam não apenas uma derrota do chefe de Estado democrata, mas também a perda de assentos nas eleições legislativas.
Peso
Costas Panagopoulos, professor de ciência política da Northeastern University (em Boston), ressaltou ao Correio que Obama representa uma voz influente no Partido Democrata. "É provável que sua posição sobre a reeleição de Biden tenha algum peso, em conjunto com o coro de outros líderes democratas que expressam dúvidas sobre as perspectivas de vitória do presidente, em novembro", explicou.
Segundo Panagopoulos, a estratégia de Biden parece ser aguentar o máximo tempo possível ou até que uma opção viável claramente apareça. "É uma estratégia arriscada, pois o tempo se esgota. Os democratas podem precisar rolar os dados e dar uma chance de substtituição da candidatura à presidência, a fim de maximizarem qualquer esperança de derrotar Trump em 5 de novembro", advertiu.
John C. Coffee, professor de direito da Universidade Columbia, relativiza o poder de Obama sobre o presidente. "Não acho que ele tenha uma influência tão forte sobre Biden. Se o atual candidato democrata renunciar, será por conta do impacto coletivo de todos os seus antigos aliados", disse.
Além de Obama e de Pelosi, a candidatura de Biden enfrenta a desconfiança do deputado californiano Adam Schiff, o democrata mais influente a defender claramente a desistência do presidente. Na quarta-feira, ele pediu a Biden que "passe o bastão". De acordo com a emissora CNN, o também deputado Jamie Raskin, outro nome de peso, enviou carta pessoal a Biden, em 6 de julho, na qual afirmava que "não há vergonha em fazer uma reverência bem merecida" na eleição. Nos últimos dias, diversos membros da Câmara e um senador também imploraram para que ele desista.
EU ACHO...
"A complicação para os democratas é que não está claro quem se sairia melhor do que Biden contra Trump neste momento. Não parece existir um consenso em relação a uma alternativa a Biden. E o relógio está ligado. O tempo está se esgotando para que os democratas façam uma mudança e deem a uma equipe de sucessão prazo suficiente para montar uma campanha nacional viável."
Costas Panagopoulos, professor de ciência política da Northeastern University (em Boston)
Vance não empolga
O discurso de J.D. Vance, 39 anos, candidato a vice de Donald Trump, na noite de quarta-feira (17/7), durante a Convenção Nacional Republicana, parece ter decepcionado boa parte dos partidários, segundo a imprensa norte-americana. O senador conservador de Ohio afirmou que o governo republicano priorizará a classe trabalhadora e instou os países aliados dos EUA a compartilharem "o fardo de manter a paz no mundo". Vance dedicou parte de seu pronunciamento a reverenciar a história da própria família e homenageou a avó, que era dona de 19 armas. "Eu tinha um anjo da guarda ao meu lado. Ela era uma mulher idosa que mal conseguia andar, mas era dura como pregos", disse.
"Quando revisamos as coisas dela, encontramos 19 pistolas carregadas", afirmou, o que despertou gritos e aplausos dos correligionários reunidos em Milwaukee (Wisconsin). "Estavam escondidas por toda a casa dela, debaixo da cama, no armário, na gaveta dos talheres... Essa idosa frágil garantiu que, não importa onde estivesse, ela tivesse ao alcance de sua mão tudo que precisava para proteger sua família. É por isso que lutamos. Esse é o espírito americano", completou. A menção às armas provocou críticas, por ter sido feita cinco dias depois da tentativa de assassinato contra Trump, em Butler (Pensilvânia).
Professor de direito da Universidade Columbia, John C. Coffee afirmou ao Correio que Vance e Trump declararam uma posição política capaz de sobreviver para além de um mandato. "Os elementos-chave dos discursos de ambos são: pouca ou nenhuma imigração; o fim do livre-comércio e o retorno ao protecionismo, que ajudou a causar e prolongar a Grande Depressão; o enfraquecimento do dólar, para tornar os bens dos EUA mais baratos; o cancelamento dos compromissos internacionais ou mesmo a saída de organizações, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e o retorno ao isolacionismo; a redução de impostos para os ricos e alguns benefícios para os pobres", explicou. (RC)
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