Imagens inéditas divulgadas nesta quinta-feira (18/7) mostram dezenas de indígenas que pertencem à comunidade isolada de Mashco Piro vagando pelas margens do rio Las Piedras, no sudeste do Peru.
Os Mashco Piro, considerados a maior comunidade indígena isolada do mundo, habitam a fronteira entre o Peru e o Brasil, na Floresta Amazônica.
O fato de saírem em grande número – cerca de 50 – pelas margens de um rio percorrido por outras comunidades chamou a atenção de organizações que se dedicam a apoiar os direitos indígenas na região.
Teresa Mayo, porta-voz da ONG Survival International – que divulgou as imagens – disse à BBC que esse comportamento é muito "incomum".
"Não é comum que tantos se reúnam." "Todos os que aparecem nas imagens são homens, por isso presumimos que saíram em busca de comida", disse Mayo.
Segundo a Survival International, a causa desse comportamento poderia ser as atividades de madeireiras que operam legalmente na mesma região e que estariam afetando o ecossistema em que vivem os Mashco Piro.
"Eles são caçadores-coletores e precisam de grandes áreas de mata para conseguir seu alimento. Portanto, essa reunião de vários grupos pode ser uma forma extrema de procura de alimentos devido ao impacto que isso (extração de madeira) está causando no território", disse Mayo.
Encontros mortais
Segundo os poucos dados de que dispõe o Ministério da Cultura do Peru, os Mashco Piro são uma comunidade indígena seminômade de cerca de 750 pessoas que habita principalmente as bacias dos rios Manu, Los Amigos, Pariamanu, Las Piedras, Tahuamanu e Acre, no sudeste do Peru.
É um dos grupos indígenas que vivem em condições de isolamento voluntário no mundo. Muitos desses grupos habitam na Amazônia.
Os Mashco Piro também são conhecidos por seu desinteresse em ter contato com a sociedade envolvente e pela defesa de seu território contra invasores.
Em 2011, foi relatado um ataque com flechas por parte de membros da comunidade contra um grupo de turistas que passava por um de seus territórios.
Também naquele ano foi noticiada a morte de Nicolás "Shaco" Flores pelas mãos de membros do Mashco Piro.
Flores pertencia a uma comunidade vizinha que há anos tentava entrar em contato com os Mashco Piro.
Em 2015, ocorreu episódio semelhante, quando Leonardo Pérez morreu em decorrência de um ferimento de flecha no peito disparado por um integrante do Mashco Piro durante um passeio pela floresta.
Um relato dos ataques de 2015, feito pelo antropólogo Glenn Shepard, ressalta o fato de a comunidade temer estabelecer ligações com o mundo exterior.
Além da atuação das madeireiras, esses indígenas enfrentam a ameaça de traficantes de drogas que invadiram suas terras.
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