"Eu não deveria estar aqui, poderia estar morto", afirmou Donald Trump, na primeira entrevista publicada desde o atentado de sábado, aos jornais Washington Examiner e The New York Post. O ex-presidente, oficializado candidato à Casa Branca no primeiro dia da Convenção Nacional Republicana, também escolheu o seu vice na chapa do partido: J.D. Vance, senador pelo estado do Ohio que, no passado, era crítico do magnata. "O médico disse que nunca viu algo assim, ele chamou isso de milagre", declarou Trump, que teria perdido um pedaço da orelha direita, atingida de raspão por uma bala do fuzil AR-15.
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Às 23h desta segunda-feira (hora de Brasília), ele fez a primeira aparição pública, ao comparecer ao evento, no Fiserv Forum, em Milwaukee, no estado de Wisconsin. "Senhoras e senhores, recebam o próximo presidente dos Estados Unidos", anunciou o locutor. Com uma bandagem cobrindo a orelha direita, ele entrou no local, cumprimentou Vance e sentou-se na tribuna, muito ovacionado pela multidão.
Mais cedo, na entrevista, Trump disse que reescreveu o discurso que fará na noite de quinta-feira. "Se isto não tivesse acontecido, este teria sido um dos discursos mais incríveis.Honestamente, será um discurso totalmente diferente agora",admitiu. Ontem, ele saboreou uma vitória judicial: a anulação do processo sobre a posse ilegal de documentos secretos.
O pré-candidato democrata e presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reagiu ao anúncio sobre o vice de Trump. "Aqui está a questão sobre J.D. Vance. Ele fala muito sobre os trabalhadores. Mas, agora, ele e Trump querem aumentar os impostos sobre a classe média, e, ao mesmo tempo, promover mais cortes de impostos para os ricos", escreveu em seu perfil na rede social X, o antigo Twitter. Em entrevista à emissora NBC, também na segunda-feira (15/7), Biden fez um mea-culpa sobre um pedido para que Trump fosse um "alvo". "Foi um erro usar a palavra. Queria dizer colocar o foco sobre ele, no que está fazendo."
Mais de 50 mil pessoas lotaram o Fiserv Forum, em Milwaukee, no estado de Wisconsin e proclamaram Trump como candidato. Ao escolher J.D. Vance, o ex-presidente usou a sua rede social Truth Social para anunciar que o senador era "a pessoa mais adequada para ser vice-presidente dos Estados Unidos". "J.D.! J.D.! J.D.!", gritava a multidão no auditório. Os eleitores republicanos também repetiram uma palavra que teria sido proferida por Trump segundos depois de escapar da morte: "Fight! Fight! Fight!" (Lutem!).
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Donald Trump Jr., filho do magnata, fez questão de dizer que Biden tem "a pior vice-presidente na história de nossa nação", ao se referir à Kamala Harris. Ao mesmo tempo, ele ponderou que o pai considera Vance "um dos jovens líderes mais dinâmicos dos EUA". Vance discursará, durante o evento, amanhã. Ele entra para a história como o candidato a vice mais jovem desde que Richard Nixon assumiu o cargo, em 1953.
"Policial! Policial!"
Um vídeo divulgado nesta segunda-feira reforça a tese de que o Serviço Secreto dos EUA e as autoridades policias de Butler, na Pensilvânia, cometeram erros gritantes. Nas imagens, testemunhas visualizam o atirador Thomas Matthew Crooks, 20 anos, deitado sobre o telhado de um silo. Eleitores de Trump alertaram sobre a presença do homem 86 segundos antes do primeiro tiro. "Policial! Policial! Ele está sobre o telhado", grita uma mulher. Crooks disparou oito vezes e, graças a um leve giro da cabeça de Trump, que buscava ler um painel com dados sobre a imigração ilegal, não conseguiu assassinar o republicano. Um repórter que entrevistou Trump, no domingo (14/7), relatou que o republicano perdeu uma parte da orelha.
O FBI — a polícia federal dos Estados Unidos — vasculha o celular de Crooks, à procura de uma motivação para o atentado. Um parente do atirador relatou ao jornal The Washington Post que a arma do crime tinha sido comprada legalmente pelo pai de Crooks em 2013. Na manhã do ataque, o jovem comprou 50 cartuchos em uma loja de munições. Há pelo menos um ano, Crooks era membro do clube de tiro Clairton Sportsmen's Club, em Bethel Park, cidade onde nasceu. Na sexta-feira, véspera do atentado, ele praticou tiro ao alvo no local.
Professor de direito da Universidade Columbia (em Nova York), John C. Coffe Jr. disse ao Correio apostar que Trump adotará uma retórica mais moderada em seu discurso. "Acho que o ex-presidente se sente confiante o bastante de que lidera a corrida à Casa Branca, em piloto automático", afirmou. Ele crê que a empatia direcionada a Trump, depois da tentativa de assassinato, compensará as críticas ao republicano. "Além disso, seu punho cerrado, segundos depois dos disparos, fará com que ele seja visto como forte e corajoso pelos eleitores. Ante a divisão no seio do Partido Democrata, Trump tem forte vantagem na disputa. As teorias da conspiração, sempre populares entre os aliados de Trump, irão se proliferar."
O atentado contra Trump começa a impactar a campanha de Biden, forçado a reduzir a intensidade dos ataques contra o republicano e deixar de lado o papel de pré-candidato para exercer a função de chefe de Estado e conclamar a nação a se unir, em repúdio à violência política. No domingo, o presidente pediu para democratas e republicanos "baixarem a temperatura". Apesar de sinalizar uma trégua nas críticas diretas ao antecessor, Biden prometeu "falar com firmeza em defesa da democracia e da Constituição".
PERSONAGEM DA NOTÍCIA
De inimigo a escudeiro leal
"Corajoso, unido e desafiador. Isso é liderança", escreveu James David Vance (ou J.D. Vance), senador pelo estado de Ohio, na rede social X, ao republicar uma mensagem de Donald Trump sobre o atentado de sábado. Em seu perfil, o político de 39 anos e novo escolhido pelo magnata como vice-presidente da chapa republicana se revelou "cristão, marido e pai". Até 2016, Vance criticava Trump e foi humilhado publicamente pelo ex-presidente em17 de setembro de 2022, durante um comício em Youngstown (Ohio). "J.D. está beijando meu traseiro, ele quer tanto o meu apoio", declarou Trump.
Com uma agenda populista, Vance chegou ao Senado, em janeiro de 2023, para se mostrar um defensor contumaz de Trump e um político leal aos interesses do magnata. Ele se opôs a um projeto de lei para ajudar a Ucrânia, posicionou-se contrário ao aborto, mostrou reservas em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e se aproximou de Donald Trump Jr., filho do ex-presidente. Ex-militar, Vance também tornou-se famoso por EUA por ter pubicado um livrosobre a classe trabalhadora branca do país.
"Tenho boa memória. Se, hoje, você luta politicamente contraTrumpe os candidatos que ele apoia, não venha pedir minha ajuda dentro de um ano para aprovar sua legislação ou os projetos que você valoriza", advertiu o congressista no início do ano. Certa vez, Vance afirmou que era "umcara que nunca estará a favor deTrump" e também descreveu o magnata como "idiota" e "nocivo", chegando a se preocupar que ele pudesse ser "o Hitler dos Estados Unidos".
Chama atenção principalmente sua capacidade de arrecadar grandes somas de dinheiro para seu partido. Algo importante em uma naçãoonde as vitórias políticas são conquistadas à base de bilhões de dólares. Formado em direito pela Universidade Estadual de Ohio, Vance concluiu o doutorado na Universidade Yale, em 2013, aos 29 anos. Casado, é pai de três filhos.
Foto icônica estampa camisetas
A imagem de Donald Trump com o braço direito erguido, o punho cerrado, o rosto sujo de sangue e a postura altiva, enquanto era cercado pelos agentes do Serviço Secreto dos Estados Unidos, tornou-se estampa de camisetas vendidas durante a Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee. O rapper Forgiato Blow ostentava uma dessas camisetas e tornou-se uma das atrações do evento. No site Amazon, outros modelos, com a foto de autoria de Evan Vucci, chege de fotografia da agência Associated Press, em Washington, eram comercializadas a preços que variavam de US$ 17 a US$ 25 (entre R$ 92 e R$ 136).
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