Corrida à Casa Branca

Estados Unidos: Trump e Biden reforçam apelo à união nacional

Presidente democrata e adversário republicano conversaram ao telefone, depois de tentativa de assassinato do magnata. Especialistas avaliam impacto nas campanhas eleitorais

Em pronunciamento à nação, na noite de ontem, Joe Biden pediu pela diminuição da temperatura política  -  (crédito: Erin Schaff/AFP)
Em pronunciamento à nação, na noite de ontem, Joe Biden pediu pela diminuição da temperatura política - (crédito: Erin Schaff/AFP)

A Convenção Nacional Republicana começa hoje, em Milwaukee (Wisconsin), à sombra do atentado contra Donald Trump. Antes de embarcar rumo ao principal evento do Partido Republicano, que deve confirmar sua candidatura, o ex-presidente creditou a "Deus" o fato de estar vivo e repetiu o discurso da véspera, feito pelo democrata Joe Biden, sobre a necessidade de união nos Estados Unidos. "Deus impediu o impensável de acontecer", escreveu Trump em sua rede social Truth Social, na manhã de ontem. "Neste momento, é mais importante que nunca que permaneçamos unidos e mostremos o nosso verdadeiro caráter como americanos, permanecendo fortes e determinados, para não permitir que o mal vença."

Biden tornou a falar em "união" neste domingo, ao confirmar que teve uma conversa "breve, mas boa" com Trump depois do incidente. "Devemos nos unir como nação para mostrar quem somos", declarou, em uma aparente trégua na campanha presidencial marcada por forte polarização. Às 21 deste domingo (14/7) (hora de Brasília), ele fez um pronunciamento à nação em que pediu para "baixar a temperatura" na política. "Não devemos descer por essa estrada", afirmou, em alusão à violência. Biden disse esperar que as eleições serão "um período de teste". Especialistas consultados pelo Correio avaliam que o ataque a tiros deve reforçar a campanha de Trump e impingir-lhe a imagem de político quase indestrutível.  

Com sangue no rosto, Trump cerra os punhos e agita os simpatizantes, em Butler (Pensilvânia): imagem se tornou símbolo do atentado
Com sangue no rosto, Trump cerra os punhos e agita os eleitores (foto: Rebecca Droke/AFP)

Professora de relações internacionais da ESPM-SP, Denilde Holzhacker avalia que o episódio dará ainda mais força para o discurso de Trump de que ele irá reconstruir a sociedade norte-americana. "Trump usará a lógica de que é um herói, que superou uma crise e conseguiu sobreviver a um atentado. Isso tornará sua retórica ainda mais messiânica, mas é preciso esperar a investigação para saber o perfil do atirador", disse. "O atentado vai fragilizar a campanha de Biden e aumentará a pressão sobre o pré-candidato democrata. Trump culpará o discurso democrata, a tentativa de demonizá-lo como um todo" 

A estudiosa acredita que o Partido Republicano aproveitará a Convenção Nacional Republicana para relacionar os democratas ao atentado. "Os republicanos enfatizarão que o modo com que os democratas associam uma possível vitória de Trump a um risco à democracia e à sociedade norte-americana criou uma percepção de temor. Eles dirão que isso levou à violência perpetrada pelo atirador. Será uma maneira de culpar a narrativa e a retórica de Biden", explicou Holzhacker. "O atentado de sábado funcionará quase que como um passe livre para Donald Trump. Todos os temores por conta dos processos na Justiça e da condenação ficam em segundo plano. Ele sairá como alguém que superou um momento de grande crise, com vitalidade, o que representaria um contraste com Biden", acrescentou. 

Denilde entende que o atentado lança a campanha de Biden em uma grande crise. "O democrata não tem mais possibilidade de embate direto com Trump. Ele terá que trazer o debate sobre a necessidade de uma maior proibição de acesso às armas", observou Holzhacker. Segundo ela, o desafio de Biden será o de de contrapor a Trump, mas sem atacá-lo diretamente. "A questão da segurança deverá ser colocada em xeque. O erro no evento em Butler cai na conta do governo. Será preciso identificar as falhas que possibilitaram a ação do atirador." 

Divisão

Para Barbara McQuade, professora de direito e ex-procuradora federal chefe para o Distrito Leste de Michigan, a preocupação é com a violência política. "Tenho esperança de que os americanos aproveitem este momento para renovar o nosso compromisso com um processo eleitoral pacífico. Precisamos que os nossos líderes apelem à unidade em vez da divisão", afirmou, por e-mail, horas antes de Biden e Trump tomarem essa iniciativa.

Vista do palco do Fiserv Forum, em Milwaukee, no estado de Wisconsin, local da Convenção Republicana
Local da Convenção Republicana, em Milwaukee: segurança máxima (foto: Angela Weiss/AFP)

John C. Coffee, professor de direito da Universidade Columbia (em Nova York), admitiu que o atentado de sábado deve aumentar a chance de eleição de Trump. "Se outras pessoas estivessem envolvidas no ataque, isso provocaria teorias da conspiração que se arrastariam por anos. E poderia ser usado por Trump e seus aliados para apoiarem uma restrição das liberdades civis nos EUA", afirmou.

Cientista político da Universidade de Iowa, Timothy Hague concorda com Coffee sobre os efeitos na campanha de Trump. "Não acho que Trump encarnará a vítima. Ele fará como fez depois do atentado, ao cerrar os punhos e gritar à multidão: 'Lutem!'. Manter a campanha e não se curvar ante um ato contra a sua vida mostaria coragem. Isso seria visto como uma comparação gritante com Biden", previu.

Hague aposta que o atentado impulsionará Trump nas pesquisas. "Em termos práticos, creio que a segurança será reforçada nas campanhas republicana e democrata. O Serviço Secreto provavelmente aconselhará Trump a limitar a campanha em alguns aspectos, possivelmente a não fazer comícios ao ar livre. Meu palpite é que Trump rejeitaria isso, pelo menos até certo ponto."

EU ACHO...

14/10/2016. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM São Paulo.
Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM São Paulo (foto: Francisco Emolo)

"A longo prazo, será preciso ver a motivação do atentado. Também avaliar o quanto a desinformação vai causar impacto na eleição de 5 de novembro. Isso inclui as teorias conspiratórias e as tentativas de desviar o foco. Isso pode gerar uma mobilização maior dentro do Partido Republicano para a campanha, mas também temores no lado democrata, capazes de desestimular eleitores."

Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP 

Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte
Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte (foto: Arquivo pessoal )

"Trump e seus simpatizantes acreditavam, antes mesmo do atentado, que o 'sistema' está disposto a apanhá-los a todo o custo. A tentativa de assassinato irá encorajar essa crença. Isso motivará seus eleitores a saírem para votar a e a se voluntariar na campanha. As percepções do crime e do caos sempre ajudam o candidato e o partido da 'lei e ordem'."

Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte

James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island)
James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island) (foto: Arquivo pessoal )

"O atentado vai reforçar Trump, fortalecer sua candidatura e tornar o república uma 'vítima'. Trump usará o atentado contra os democratas e fará avançar sua nomeação para a Presidência dos Estados Unidos."

James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island)

 Timothy Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa
Timothy Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa (foto: Arquivo Pessoal)

"O atentado, provavelmente, minará as chances de vitória de Biden. A tentativa de assassinato de Trump fará com que os simpatizantes do republicano o apoiem ainda mais fortemente, mas também tenderá a fazer com que alguns eleitores que estão em cima do muro se inclinem na direção do magnata."

Tim Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa

  • Com sangue no rosto, Trump cerra os punhos e agita os eleitores
    Com sangue no rosto, Trump cerra os punhos e agita os eleitores Foto: Rebecca Droke/AFP
  • Local da Convenção Republicana, em Milwaukee: segurança máxima
    Local da Convenção Republicana, em Milwaukee: segurança máxima Foto: Angela Weiss/AFP
  • Em pronunciamento à nação, na noite de ontem, Biden pediu pela diminuição da temperatura política
    Em pronunciamento à nação, na noite de ontem, Biden pediu pela diminuição da temperatura política Foto: Erin Schaff/AFP
  • 14/10/2016. Crédito: Arquivo Pessoal. Mundo. Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM São Paulo.
    Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM São Paulo Foto: Arquivo pessoal
  • Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte
    Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte Foto: Arquivo pessoal
  • James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island)
    James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island) Foto: Arquivo pessoal
  • Crédito: Arquivo Pessoal. Timothy Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa
    Timothy Hagle, professor de ciência política da Universidade de Iowa Foto: Arquivo Pessoal
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postado em 15/07/2024 06:05
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