Joe Biden subiu ao palco na noite de quinta-feira (11/7) para uma dar uma entrevista coletiva com muitas coisas por um fio — sua presidência, sua esperança de ser reeleito e sua vida política.
Tudo isso está em jogo, mas ele praticamente não admitiu na coletiva de uma hora que marcou o fim da reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Foi a sua primeira aparição de improviso depois de um debate desastroso com o seu adversário na eleição de novembro, Donald Trump, que levou a apelos de vários políticos e doadores democratas para que ele desistisse da corrida à presidência.
Embora tenha minimizado as preocupações sobre sua campanha na tão aguardada coletiva de imprensa, após repetidos questionamentos de jornalistas, duas gafes excruciantes, que não ajudam em nada sua situação, vão ser lembradas por quem assistiu.
Na sua primeira resposta, Biden chamou sua própria vice-presidente, Kamala Harris, de "vice-presidente Trump" — um tropeço doloroso em rede nacional.
Isso aconteceu apenas uma hora depois de outro deslize que ganhou as manchetes dos jornais em um evento da cúpula da Otan, quando Biden apresentou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como "presidente Putin", arrancando fortes suspiros da plateia.
Ele corrigiu rapidamente o primeiro escorregão verbal envolvendo o líder da Ucrânia. O segundo ele não percebeu, mesmo quando alguns jornalistas na sala murmuraram surpresos, e vários dos seus principais secretários de gabinete, sentados na primeira fileira, ficaram impassíveis.
Esses momentos — os únicos grandes tropeços numa aparição que até então poderia se dizer estável, se não vigorosa — certamente vão levar os democratas que estão apreensivos a se perguntar se vai haver mais gafes pela frente, se o presidente prosseguir com a campanha.
Biden, de 81 anos, tem enfrentado questionamentos constantes sobre sua idade e capacidade de cumprir outro mandato, que se intensificaram após o debate.
Mas, durante a entrevista, ele assegurou que estava lutando não pelo seu legado, mas para terminar o trabalho que começou quando assumiu o cargo em 2021.
"Se eu desacelerar, e não conseguir fazer o trabalho, é um sinal de que não deveria estar fazendo", ele disse.
"Mas não há indicação disso ainda."
Dependendo da perspectiva, esta atitude pode ser vista como um sinal de determinação obstinada ou como um homem em estado de negação sobre o quão terrível se tornou sua situação.
Minutos após o término da entrevista, vários outros membros democratas do Congresso pediram publicamente para Biden desistir da disputa, se juntando a pelo menos uma dúzia de outros legisladores do partido que já haviam feito isso.
A questão para a campanha de Biden é se as comportas vão se abrir agora ou se a maré vai se manter.
Pelo menos por enquanto, Biden parecia um combatente feliz, insistindo que seguiria em frente. Ele riu e sorriu ao ser bombardeado com perguntas, e disse que poderia acompanhar Vladimir Putin, da Rússia, e Xi Jinping, da China, mesmo que a rouquidão e a tosse que apareceram durante o debate, há duas semanas, ainda parecessem persistir.
Ele insistiu novamente que não precisava de testes cognitivos, dizendo aos jornalistas que mesmo que ele consultasse "dois médicos ou sete", seus críticos não ficariam satisfeitos.
A campanha eleitoral, ele acrescentou, mal começou — e voltou a repetir que estava confiante de que poderia derrotar Trump nas eleições de novembro.
Os delegados democratas que vão apoiá-lo oficialmente como candidato do partido na convenção do próximo mês têm liberdade para mudar de ideia, ele afirmou, antes de sussurrar: "Isso não vai acontecer".
Biden disse que consideraria sair da disputa se sua equipe fornecesse a ele dados mostrando que não seria capaz de vencer, mas que as pesquisas ainda sugerem um empate na disputa.
Neste aspecto, ele está bem respaldado. Uma pesquisa do instituto Ipsos divulgada na quinta-feira, por exemplo, mostrou Biden apenas um ponto atrás do adversário — dentro da margem de erro. Se tem algo que ficou claro desde o início do ano, é que o apoio aos dois candidatos se manteve notavelmente estável, apesar do drama sem precedentes que ronda os dois.
Mas as pesquisas por si só não vão apaziguar o pânico que se instalou entre muitas autoridades democratas, e as nuvens de tempestade que pairam sobre a campanha de Biden não vão ser dissipadas tão facilmente.
Há outros políticos democratas aguardando nos bastidores, segundo relatos, prontos para anunciar seu rompimento com o presidente, tendo esperado até a conclusão da reunião de cúpula da Otan para manifestar suas preocupações.
E essa é apenas a primeira rodada de testes para o presidente na berlinda. Ele tem outra entrevista de destaque, com o apresentador Lester Holt, da rede americana NBC, na segunda-feira (15/7). Os doadores estão ansiosos e, no início de quinta-feira, várias reportagens sugeriam que até integrantes da própria campanha do presidente estavam planejando rotas para conduzir seu candidato à saída da disputa.
Apesar de tudo isso, Biden deixou claro que vai ser uma missão desafiadora retirar a nomeação dele. O homem de 81 anos que, algumas vezes, segurou o púlpito com as duas mãos e insistiu que era a "pessoa mais qualificada" para governar o país, não vai sair de cena quieto.
- Kamala Harris poderia vencer Trump se substituísse Biden como candidata presidencial?
- O que Partido Democrata perde e ganha se substituir Biden na eleição dos EUA
- Projeto 2025: o detalhado plano para Trump mudar os EUA que mobiliza democratas
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br