Democracia

França decide futuro de Macron em segundo turno marcado pela tensão

Adversários do Reagrupamento Nacional, de extrema direita, apostam em "cordão sanitário" para impedir partido de obter maioria absoluta no Parlamento. Especialistas avaliam rumos da política francesa

Macron firmou acordo com adversários para impedir o ultraconservador Bardella de se tornar premiê -  (crédito: Aurelien Morissard/AFP)
Macron firmou acordo com adversários para impedir o ultraconservador Bardella de se tornar premiê - (crédito: Aurelien Morissard/AFP)

Neste domingo (7/7), as atenções se voltam para Paris, 4.200km a noroeste de Teerã. Em clima de tensão, os franceses vão às urnas, no segundo turno das eleições legislativas, para decidir se a extrema direita governará o país pela primeira vez na história. O Reagrupamento Nacional (RN), partido de Marine Le Pen, aposta as fichas em Jordan Bardella, 28 anos, que pode se tornar premiê de Emmanuel Macron, caso a legenda ultraconservadora conquiste a maioria absoluta dos assentos da Assembleia Nacional (Parlamento). Para barrar o avanço dos ultraconservadores, um cordão sanitário — ou "frente republicana" — foi criado pela coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e a aliança de Macron.

A julgar pelas mais recentes pesquisas, a estratégia parece ter sido bem-sucedida. Dois institutos preveem que o RN e aliados terão entre 170 e 210 cadeiras, bem abaixo da maioria absoluta de 289. Em vídeo divulgado na sexta-feira, Bardella pediu aos franceses para que não deixem que a vitória lhes seja roubada. "Não se deixem intimidar. Abram espaço para a alternância e a mudança. Convido vocês a se mobilizarem. Deem-nos uma maioria absoluta para governar e restaurar a França", declarou. Se o RN contrariar as sondagens e controlar a Assembleia Nacional, Macron precisará acordar um improvável governo de coabitação com Bardella.

Fragmentação

Em entrevista ao Correio, o cientista político Bruno Cautrès, professor do Instituto Sciences Po (em Paris), explicou que, caso o RN e a centro-direita formem uma coalizão, garantirão a maioria dos assentos. "Atualmente, apenas uma minoria de deputados dos Republicanos (centro-direita) escolheram essa opção. O partido está bem dividido sobre a estratégia a seguir. Até agora, sua posição é por 'nem um, nem outro': nem Macron nem Bardella." A depender do resultado das urnas, a França poderá ser jogada no limbo político.

Jordan Bardella: esperança de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez
Jordan Bardella: esperança de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez (foto: Bertrand Guay/AFP)
 

De acordo com Cautrès, a frente republicana consiste em candidatos de outros grupos políticos (o partido de Macron e seus aliados, mais à esquerda) se retirando da disputa para apoiar o melhor nome cotado para derrotar o RN. "O partido Republicanos não queria se unir às desistências de candidaturas. As pesquisas mostram que a tática não evitará a vitória do RN, mas impedirá que ele obtenha a maioria absoluta. A esquerda ficaria em segundo lugar, com o partido de Macron em terceiro."

Diretora do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Cornell (EUA), Mabel Berezin disse ao Correio que não se pode falar em derrota do RN, à medida que as pesquisas indiquem a liderança da coalizão de esquerda, com a extrema direita um pouco atrás. "Nesse cenário, Bardella não será premiê", observou.

Ela alerta que Le Pen e Bardella não abandonarão a cena política. "Ambos assumirão qualquer poder que puderem ter e pavimentarão o caminho para as eleições presidenciais, em 2027. Como os franceses têm inclinação pela ordem, encontarão uma solução para evitar o caos." 

EU ACHO...

Bruno Cautrès, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e professor no instituto Sciences Po (em Paris)
Bruno Cautrès, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e professor no instituto Sciences Po (em Paris) (foto: Arquivo pessoal)

"O mais provável cenário é o de um limbo político. Poderá haver dois resultados, se ninguém obtiver a maioria absoluta dos assentos no Parlamento: uma solução ao 'estilo italiano', com um governo 'técnico' liderado por um alto funcionário apolítico; ou uma solução ao 'estilo alemão', com uma coligação entre o partido de Macron, a centro-direita e a centro-esquerda. A não ser que o Reagrupamento Nacional surpreenda e obtenha maioria absoluta."
Bruno Cautrès, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e professor no instituto Sciences Po (em Paris)

  • Jordan Bardella: esperança de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez
    Jordan Bardella: esperança de levar a extrema direita ao poder pela primeira vez Foto: Bertrand Guay/AFP
  • Bruno Càutres, cientista político francês
    Bruno Cautrès, especialista do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) e professor no instituto Sciences Po (em Paris) Foto: Arquivo pessoal
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postado em 07/07/2024 06:05
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