O Partido Trabalhista deve vencer as eleições gerais britânicas com uma maioria esmagadora de assentos no Parlamento, de acordo com uma pesquisa boca de urna feita em parceria entre a BBC, ITV e Sky.
Se a pesquisa estiver correta, Keir Starmer se tornará primeiro-ministro com 410 deputados trabalhistas — pouco menos do que o total alcançado por Tony Blair, em 1997 —, alcançando maioria por uma margem de cerca de 170 assentos .
A previsão é que o número de conservadores no Parlamento caia para 131 deputados, o mais baixo na história do pós-guerra.
Os Liberais Democratas devem ficar, segundo a pesquisa, em terceiro lugar, com 61 deputados.
O Partido Nacional Escocês poderá ter seu número de deputados reduzido a 10 e o Reforma Reino Unido, de Nigel Farage, deverá chegar a 13 deputados, de acordo com a boca de urna.
A pesquisa aponta ainda que o Partido Verde da Inglaterra e País de Gales deve duplicar seu número de deputados para dois e o Plaid Cymru deverá ter quatro representantes. Outros partidos somados devem obter 19 assentos.
A pesquisa boca de urna, supervisionada por John Curtice e uma equipe de estatísticos, baseia-se em dados dos eleitores coletados em cerca de 130 assembleias de voto na Inglaterra, Escócia e País de Gales. A pesquisa não é feita na Irlanda do Norte.
Nas últimas cinco eleições gerais, a sondagem registou uma precisão entre 1,5 e 7,5 assentos.
O pleito aconteceu após o primeiro-ministro, Rishi Sunak, do Partido Conservador, ter convocado eleições gerais antecipadas em maio, e dissolvido o Parlamento britânico — algo que é sua prerrogativa legal.
Se as projeções se confirmarem, o rei pedirá ao líder do Partido Trabalhista que se torne primeiro-ministro e forme um governo.
O líder do partido com o segundo maior número de parlamentares se torna o líder da oposição.
O líder do Partido Trabalhista é Keir Starmer, de 61 anos. Ele foi eleito em 2020 para suceder Jeremy Corbyn na liderança da legenda. Anteriormente, foi chefe do Crown Prosecution Service (CPS), o Ministério Público do Reino Unido.
O mandato político dura cinco anos no Reino Unido e, como o Partido Conservador do país venceu as últimas eleições gerais em dezembro de 2019, o próximo pleito deveria ocorrer, por lei, até janeiro de 2025.
O Reino Unido possui um sistema parlamentar de eleição — ou seja, os eleitores vão às urnas apenas para escolher os seus parlamentares, e não um presidente.
O Reino Unido está dividido em 650 distritos eleitorais. Os eleitores em cada um destes distritos elegem um deputado para a Câmara dos Comuns para representar os moradores locais.
Um total de 4.515 candidatos divididos em 98 partidos concorreram a 650 vagas no Parlamento, sendo que 459 deles são candidatos independentes.
Mas por que as eleições foram antecipadas?
O Partido Conservador, de Rishi Sunak, vinha caindo nas pesquisas de opinião desde 2021.
Sunak, de 44 anos, tinha 42 quando se tornou primeiro-ministro em 2022, o que faz dele a pessoa mais jovem à frente do cargo nos tempos modernos. Ele também foi o primeiro britânico-indiano a ser primeiro-ministro.
Alguns políticos do partido "sentiram que as coisas poderiam não melhorar muito, e que o desejo percebido do eleitorado de ter voz logo poderia correr o risco de piorar qualquer derrota conservadora, se o compromisso com os eleitores fosse adiado", avalia Chris Mason, editor de polícia da BBC News.
"Em outras palavras, faça isso agora ou tudo pode piorar."
"O primeiro-ministro também pode destacar que pelo menos alguns dos seus objetivos foram cumpridos, ou aparentemente estão a caminho de serem cumpridos."
"Os números atuais da inflação podem ser considerados um sucesso. É claro que não se trata apenas das ações do governo. Mas os governos são responsabilizados quando (a inflação) está nas alturas, por isso é razoável esperar que tentem ganhar algum crédito quando ela cai — e caiu."
"O cenário econômico mais amplo também parece um pouco mais promissor."
O primeiro-ministro pediu formalmente ao rei Charles 3° que "dissolvesse" o Parlamento — termo oficial para fechá-lo antes de uma eleição.
O Parlamento foi dissolvido no dia 30 de maio.
Com isso, os parlamentares perderam seu status, e para continuar na função, teriam que concorrer à reeleição.
Mais de 100 disseram que não concorreriam.
O governo também entrou num período pré-eleitoral, que restringe a atividade ministerial e de repartições durante a campanha. Cerca de 46 milhões de eleitores estavam aptos a participar da primeira eleição geral no país desde 2019.
Desafios do Reino Unido
Nos últimos anos, o Reino Unido passou por grandes transformações e desafios.
Em 2014, o povo da Escócia — que é uma das quatro nações que compõem o Reino Unido (junto com Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte) — rejeitou se separar do país e se tornar independente, com 55,3% dos votos em um referendo popular.
Em 2016, o povo do Reino Unido decidiu abandonar a União Europeia, com 51,89% dos votos também em um referendo. A saída de fato aconteceu no dia 31 de janeiro de 2020.
Recentemente, o Reino Unido vem enfrentando diversos desafios: a economia está demorando para retomar seu crescimento após a pandemia, com inflação dando sinais de queda apenas nos meses recentes; existe um grande fluxo de imigrantes tentando chegar ao país; e o sistema público de saúde está enfrentando uma grande crise, com atrasos e longas filas de espera para tratamentos emergenciais.
A eleição deste ano marca uma grande virada política no país.
O Reino Unido vinha sendo governado desde 2010 pelo Partido Conservador — inicialmente em coalizão com o Partido Liberal Democrata e desde 2015 com maioria no Parlamento. Foram cinco primeiros-ministros em 14 anos de governo: David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak.
Quais são as principais preocupações dos britânicos?
Dados da empresa de pesquisa de opinião YouGov sugerem que as principais preocupações do eleitorado giram em torno da economia, imigração, saúde e habitação.
A economia tem tido um papel central nestas eleições. Analistas acreditam que Sunak dissolveu o parlamento e convocou as eleições justamente por acreditar que neste momento houve uma melhora da economia britânica — e que isso poderia favorecer seu partido nas urnas, algo que a boca de urna indica não ter ocorrido.
A economia britânica vem enfrentando desde o fim da pandemia uma crise de custo de vida por causa da inflação — que esteve no seu maior patamar nas últimas quatro décadas.
A economia britânica segue com crescimento anualizado abaixo de 1% — e chegou recentemente a enfrentar uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento zero ou negativo).
Mas na mesma semana do anúncio de Sunak sobre as eleições, as autoridades divulgaram que a inflação britânica está agora no menor patamar dos últimos três anos.
Ao lançar sua campanha, Sunak disse: "Dias melhores estão no horizonte, mas só se seguirmos com o plano para melhorar a segurança econômica e as oportunidades para todos".
Os conservadores disseram em sua campanha que suas medidas foram importantes para navegar a economia pelos choques globais quase em sucessão — a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação. O governo respondeu à pandemia e à crise do custo de vida com subsídios e incentivos para empresas e trabalhadores.
Já os trabalhistas atribuem parte dos problemas econômicos do país à gestão conservadora — sobretudo devido a medidas de orçamento público anunciadas no curto governo de Liz Truss.
Sunak e os conservadores haviam prometido diminuir o tamanho do Estado — depois da expansão ocorrida durante a pandemia. Uma redução na quantidade de servidores civis permitiria também um corte de impostos, que traria maior dinamismo para a economia.
Já os trabalhistas, agora eleitos segundo a boca de urna, propuseram um plano de investimento em energias sustentáveis para alavancar a economia — semelhante ao que foi feito pelo presidente americano Joe Biden após ganhar as eleições americanas.
O crescimento da economia provocado por esse plano aumentaria a arrecadação — permitindo mais gastos do governo, segundo a lógica do partido de Keir Starmer.
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