DEMOCRACIA

O 'sacrifício' de candidatos de esquerda e centro para barrar direita radical na França

Mais de 200 candidatos de esquerda e centro resolveram desistir do segundo turno para reforçar chances da oposição de derrotar a direita radical.

Marine Le Pen e Jordan Bardella: direita radical conseguiu votação expressiva no primeiro turno com agenda focada no controle de imigração -  (crédito: GETTY IMAGES)
Marine Le Pen e Jordan Bardella: direita radical conseguiu votação expressiva no primeiro turno com agenda focada no controle de imigração - (crédito: GETTY IMAGES)

O prazo para confirmação de candidaturas para o segundo turno das eleições legislativas francesas a ser realizado no próximo domingo (7/7) terminou nesta terça-feira (3/7), com um grande número de candidatos de esquerda e de centro deixando de concorrer numa tentativa de bloquear uma possível vitória do Reunião Nacional, de direita radical.

Segundo o sistema eleitoral que regula as eleições para a Assembleia Nacional francesa, passam para o segundo turno todos os candidatos que conseguirem assegurar mais de 12,5% dos votos no primeiro turno.

Sem que tenha sido divulgada uma lista oficial, a mídia francesa estima que entre 214 e 218 candidatos, que chegaram em terceiro lugar em seus distritos eleitorais. desistiram da disputa.

Assim, os grupos de centro e de esquerda esperam que nestes distritos, o RN passe a enfrentar um oponente (segundo lugar no primeiro turno) mais fortalecido, capaz de aglutinar os votos conseguidos também pelos candidatos que chegaram em terceiro lugar no pleito de domingo passado (30/7) e que agora retiraram a candidatura.

Isso significa que agora a disputa com três candidatos se resumirá a apenas 108 distritos eleitorais (em dois distritos a disputa reunirá 4 candidatos), comparados a pouco mais de 300 no primeiro turno.

A estratégia de retirada em massa de candidaturas é uma tentativa de aumentar a chance da oposição ao RN — grande vencedor do primeiro turno — já que candidatos de centro e de esquerda deixariam de dividir entre eles a preferência dos eleitores.

Marine Le Pen e Jordan Bardella celebram vitória no primeiro turno em meio a apoiadores com bandeiras da França
GETTY IMAGES
Marine Le Pen e Jordan Bardella: direita radical conseguiu votação expressiva no primeiro turno com agenda focada no controle de imigração

O primeiro turno do último domingo produziu uma grande vitória para o RN, partido de Marine Le Pen, que, reforçado por aliados, obteve cerca de 33% dos votos.

A aliança ampla de esquerda — Nova Frente Popular (NPF) — ficou em segundo lugar com cerca de 28% dos votos, e os centristas do presidente Emmanuel Macron em terceiro com pouco menos de 21%.

Mas agora, as chances de Le Pen de conquistar a maioria absoluta na Assembleia Nacional — 289 de um total de 577 assentos — ficam prejudicadas pelas táticas de bloqueio dos adversários.

A NPF — que compreende desde social-democratas de centro-esquerda até anticapitalistas da esquerda radical — orientou todos os seus candidatos que chegaram em terceiro lugar que renunciassem e apoiassem um centrista na briga pelo voto anti-RN.

Por outro lado, François Ruffin, um candidato pró-Macron renunciou para apoiar o esquerdista radical na tentativa de derrotar o candidato do RN na cidade de Amiens, no norte do país.

O presidente do RN, Jordan Bardella, de apenas 28 anos, condenou a iniciativa dizendo que esses arranjos representam uma “aliança de desonra” entre partidos que até agora estavam brigando um com o outro.

Porém, as orientações para candidatos do bloco centrista de Macron têm sido mais ambíguas do que as do NPF. o que revela um certo desconforto de membros do partido do presidente de se alinhar com a esquerda mais radical, embora o próprio Macron e o primeiro-ministro Gabriel Attal tenham pedido o “não voto para o RN”.

Figuras importantes do partido de Macron como o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, e o ex-primeiro ministro Edouard Philippe — ambos originários da centro-direita — têm se recusado a pedir votos sistemáticos contra o RN.

Presidente da Franla, Emanuel Macron
Getty Images
Em terceiro lugar no primeiro turno, partido do presidente da França forja aliança para impedir vitória da direita radical no segundo turno

A liderança do RN declarou que o partido não tentará formar um governo a menos que obtenha maioria absoluta no Parlamento. O partido não quer ter um poder apenas aparente sem capacidade de aprovar legislação.

No entanto, na terça-feira, Marine Le Pen pareceu mudar levemente essa orientação ao dizer que uma maioria não absoluta já seria boa o suficiente — se não ficasse muito abaixo do limite de 289 membros (metade + 1).

Falando na rádio francesa, Le Pem disse que com algo em torno de 270 deputados o partido poderia negociar com parlamentares individualmente na esperança de convencê-los a firmar um acordo.

“Vamos dizer a eles: 'Vocês estão prontos para participar conosco na criação de uma nova maioria? Você está pronto para votar uma moção de confiança? Você está pronto para votar a favor do orçamento? '” disse ela.

Le Pen citou como possíveis aliados deputados independentes de direita e esquerda e parte do Partido Republicano conservador, que obteve 10% dos votos no primeiro turno.

Se o RN conseguir maioria absoluta no domingo, Bardella (ou alguém indicado pela cúpula do RN) seria convidado pelo presidente Macron a formar um governo — e então começaria um período tenso de “coabitação” com dois inimigos políticos compartilhando o poder.

De acordo com a Constituição da Quinta República Francesa, o poder fluiria de Macron para o gabinete do primeiro-ministro porque “o governo determina e conduz a política da nação”.

No entanto, Macron provavelmente procuraria manter o controle nas áreas de política externa e defesa, que, por precedentes — já que não está previsto na constituição - permaneceram na alçada do presidente em coabitações anteriores.

Marine Le Pen também acusou o presidente na terça-feira de dar um “golpe administrativo de Estado ” quando soube que Macron estaria preparando várias nomeações importantes na polícia e no Exército poucos dias antes da votação.

“Quando você quer contrariar os resultados de uma eleição nomeando seus aliados para cargos, e quando isso impede que [o governo] seja capaz de executar as políticas que o povo francês exige... isso é um golpe de Estado administrativo”, disse ela.

“Espero que seja só um boato”, acrescentou.

Esta reportagem foi traduzida e revisada por nossos jornalistas utilizando o auxílio de IA na tradução, como parte de um projeto piloto.

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postado em 03/07/2024 14:00 / atualizado em 03/07/2024 15:49
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