O presidente francês, Emmanuel Macron, apresentou o adiantamento das eleições como uma forma de conter a extrema direita, porém os resultados do primeiro turno indicam uma aposta perdida e um final de mandato enfraquecido, além de uma imagem a ser reconstruída.
O partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen conquistou mais de 34% dos votos e poderia alcançar uma maioria simples ou até absoluta no segundo turno, marcado para 7 de julho, segundo as primeiras estimativas após o primeiro turno.
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"É uma aposta perdida", afirmou Adelaïde Zulfikarpasic, diretora-geral do instituto de pesquisas BVA, para quem Macron "enfrenta dificuldades", apesar de ter se apresentado como um obstáculo para a extrema direita desde sua primeira eleição em 2017.
"A dissolução é um dos gestos mais imprudentes da história da Quinta República, baseado em projeções extremamente equivocadas", acrescentou o cientista político da École Polytechnique, Vincent Martigny.
O presidente contava com uma esquerda dividida e com sua aliança de centro-direita ficando em segundo lugar atrás do RN.
No entanto, uma esquerda unida na Nova Frente Popular (NFP) ultrapassou o oficialismo no primeiro turno, o que obrigará a aliança de Macron a retirar candidatos da disputa para conter a extrema direita no segundo turno.
"Isso acelera consideravelmente a queda de Macron. As consequências para ele serão devastadoras. Ele perde tudo", avaliou Martigny.
As projeções mais pessimistas indicam que ele poderá obter apenas 60 dos 577 assentos da Assembleia Nacional (Câmara Baixa). Na legislatura anterior, ele tinha uma maioria simples de 250.
- Legitimidade -
Seu ex-primeiro-ministro Édouard Philippe (2017-2020) já se apresentou como alternativa a Macron, acusando-o de ter "assassinado" a aliança oficialista.
O presidente também perdeu a autoridade dentro de seu próprio campo, enfrentando "exasperação e ódio" desde sua decisão inesperada de dissolver a Assembleia em 9 de junho, afirmou Martigny. "Estamos muito irritados", disse um membro ressentido do oficialismo.
Segundo um ex-ministro, Macron, cujo mandato termina em 2027, enfrenta o fim de uma presidência hiperativa desde 2017 e poderá ser forçado a compartilhar o poder com um governo de outro pensamento político.
O futuro primeiro-ministro terá sua própria legitimidade.
Macron "passará por um período de fraqueza. A questão é até que ponto ele será consciente disso e saberá gerenciar", prognosticou um de seus primeiros aliados.
E tudo isso a menos de um mês dos Jogos Olímpicos de Paris, alertou esse político, temendo manifestações e caos diante dos olhos do mundo.
- "Vida impossível" -
Nos últimos sete anos, Macron mostrou autoconfiança e destreza, sendo muitas vezes audacioso. "Ele acredita que sempre é possível reverter a situação e que, no fundo, é para isso que ele foi feito", resumiu outro líder centrista.
Diante da adversidade, o presidente tentará se apresentar como o guardião das instituições e dos valores, especialmente se tiver que compartilhar o poder com Jordan Bardella, o candidato a primeiro-ministro de Marine Le Pen.
"[Macron] poderá tentar reconstruir sua imagem durante um ano e então dissolver novamente a Assembleia, sob qualquer pretexto, para obter uma maioria mais favorável", previu Mathilde Philip-Gay, professora da Universidade Lyon 3.
Macron precisará esperar 12 meses para convocar novas eleições legislativas. Se quiser evitar que Marine Le Pen chegue à presidência em 2027, essa será sua única opção se Bardella se tornar primeiro-ministro.
Um ex-ministro que o conhece bem não tem dúvidas: "Ele tornará a vida impossível para o campo adversário e tentará posicionar alguém de sua confiança como seu sucessor".
"Se o RN fracassar nos próximos dois anos, ele poderá ser visto como aquele que deu à França um presidente não extremista em 2027", garantiu essa fonte. "A menos que a extrema direita se recuse a soltar o poder quando o obtiver".