Para Joe Biden e Donald Trump — os dois candidatos mais velhos a concorrer à presidência dos Estados Unidos —, a idade é uma questão eleitoral da qual nenhum dos dois vai conseguir escapar
Nesta quinta-feira (27/6), o atual presidente democrata, de 81 anos, e seu antecessor republicano, de 78, vão se enfrentar em Atlanta, no Estado da Geórgia, no primeiro de dois debates antes da eleição de novembro.
Durante 90 minutos, sob os holofotes das câmeras de alta definição, Biden e Trump — que permanecem praticamente empatados nas pesquisas de intenção de voto — vão discutir temas que vão desde a questão econômica até as guerras internacionais, passando pela imigração e o futuro da democracia.
Qualquer deslize, tropeço ou erro verbal pode reforçar as preocupações sobre a idade avançada, e tem o potencial de reconfigurar a disputa presidencial já acirrada, à medida que os eleitores começam a prestar atenção.
Mas apresentar um desempenho vigoroso pode ser mais importante para Biden, o presidente mais velho do país, que tem sido perseguido por questões relacionadas à sua aptidão física e capacidade mental desde que assumiu o cargo.
"Não há como esconder o fato de que Biden tem 81 anos, não há como esconder o fato de que Trump tem basicamente a mesma idade", diz Jim Messina, estrategista democrata que gerenciou a campanha presidencial de Barack Obama em 2012.
"Não é uma disputa de idade, é uma disputa de política e caráter."
"Parte do que precisa acontecer na noite de quinta-feira é simplesmente começar a conversa sobre as diferenças entre eles", acrescenta.
As pesquisas mostram que os eleitores estão muito mais preocupados com a idade de Biden do que com a de seu oponente. Mas se Trump vencer, vai bater o recorde de Biden como presidente mais velho antes do final do seu mandato.
Uma pesquisa de março do New York Times/Siena College sugeriu que 73% dos eleitores registrados acreditavam que Biden era "velho demais para ser um presidente eficaz".
Eleitores de todas as faixas etárias manifestaram preocupação em relação à aptidão do presidente para o cargo, incluindo aqueles com 65 anos ou mais, de acordo com o levantamento.
Apenas 42% dos eleitores registrados disseram o mesmo sobre Trump, apesar da diferença de idade entre os dois ser de apenas três anos e meio.
"Deveria ser em relação aos dois, mas Biden parece ter a idade que tem", afirma Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia, nos EUA.
Biden foi declarado "apto para exercer suas funções" no início deste ano por um médico da Casa Branca, mas as preocupações com sua idade persistem desde que assumiu o cargo.
Os sinais do seu envelhecimento se tornaram mais evidentes ??nos últimos anos, incluindo a voz mais suave, os lapsos de memória eventuais e a "marcha rígida", que seu médico atribui parcialmente à artrite.
Como presidente, ele é "acompanhado pela imprensa quase sempre que está em público", o que significa que enfrenta mais escrutínio do que seu adversário, observa Sabato.
Vídeos de ações rotineiras — como subir e descer as escadas do avião presidencial Air Force One e atravessar um palco em eventos públicos — são assistidos de perto por espectadores na mídia online e tradicional.
Quando Biden tropeçou e caiu durante uma cerimônia de formatura da Academia da Força Aérea, em junho de 2023, a queda foi notícia nacional. Após receber ajuda para se levantar, ele ficou de pé e continuou a andar normalmente. Sua equipe disse que ele tropeçou em um saco de areia no palco.
Alguns democratas manifestaram publicamente e de forma privada suas reservas quanto à idade do presidente, mas se uniram para apoiá-lo em fevereiro, quando o conselheiro especial do Departamento de Justiça, Robert Hur, divulgou o resultado da sua investigação sobre o manuseio de documentos confidenciais por Biden após seu mandato como vice-presidente.
O relatório não recomendava processá-lo, mas a descrição que Hur fez do presidente como um "homem idoso com memória fraca" ganhou as manchetes dos jornais.
No entanto, quando Biden fez seu discurso do Estado da União — a mensagem anual do chefe de Estado ao Congresso — algumas semanas depois, os analistas o elogiaram pelo discurso proferido com vigor.
"O presidente sempre proporciona grandes momentos", disse o deputado Ro Khanna, representante da campanha de Biden, à rede americana NBC News na semana passada.
"Ele fez isso no Estado da União. E as pessoas vão perceber a diferença."
A campanha de Biden espera que o debate desta quinta-feira seja mais um momento em que o presidente demonstre que é capaz de enfrentar o rigor de governar, traçando um forte contraste com Trump em termos de política e temperamento.
Às vésperas do debate, Trump sugeriu que seu adversário poderia superar as expectativas, dizendo ao podcast All-In, em 20 de junho, que acreditava que Biden "seria alguém [que] seria um debatedor digno".
"Não quero subestimá-lo", acrescentou.
Em paralelo, Trump espalhou alegações infundadas de que o presidente vai tomar substâncias para melhorar a performance a fim de ter um bom desempenho no debate, o que a campanha de Biden descreveu como "mentiras desesperadas".
Embora o escrutínio em torno da idade de Trump não seja tão intenso, o ex-presidente enfrenta questões sobre sua própria aptidão para o cargo.
Em um comício em janeiro, Trump pareceu confundir sua rival republicana nas primárias, Nikki Haley, com a ex-presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, por vários minutos durante seu discurso.
Ele alegou, incorretamente, que Haley era "responsável pela segurança" na época do ataque de 6 de janeiro ao Congresso. Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU na gestão de Trump, fez um apelo para a realização de "testes de capacidade cognitiva" por políticos com mais de 75 anos durante sua fracassada campanha presidencial.
O médico pessoal de Trump emitiu um comunicado em novembro atestando que seus "exames cognitivos estavam excepcionais".
Em comício no último sábado na Pensilvânia, Trump reclamou da suposta diferença no tratamento que a mídia concede a ele e a Biden.
"Se eu disser uma palavra ligeiramente equivocada, eles vão falar: 'Ele tem declínio cognitivo'", declarou Trump aos seus apoiadores.
"Enquanto Biden pode bater nas paredes. Pode cair do palco. Pode cair das escadas. Ele sai por cima."
Ambas as campanhas tentam moldar a narrativa em torno do candidato adversário por meio das redes sociais, recorrendo a fragmentos de vídeos de gafes verbais, memes e, em alguns casos, imagens editadas de forma enganosa.
Mais recentemente, os republicanos e a mídia de direita intensificaram os ataques à capacidade mental de Biden, divulgando uma enxurrada de vídeos editados, incluindo um do presidente parecendo vagar durante a cúpula do G7, grupo de sete dos países mais ricos do mundo, na Itália. A filmagem não editada mostrava que Biden estava caminhando para cumprimentar os paraquedistas durante uma demonstração de paraquedismo.
Dias depois, críticos conservadores compartilharam vídeos do presidente em um evento de arrecadação de fundos em Los Angeles, no qual ele aparece parado no palco até que Barack Obama pega seu braço, e eles saem juntos. Trump e outros republicanos alegaram que era uma prova de que Biden havia "travado", e precisou ser conduzido para fora do palco. Mas os aliados do presidente apresentaram vídeos mais longos que pareciam mostrar Biden sorrindo e recebendo os aplausos da plateia.
A campanha de Biden respondeu rapidamente nas redes sociais, compartilhando conteúdos que parecem levantar questões semelhantes sobre a capacidade mental de Trump. Eles postaram vídeos de Trump parecendo sair do palco antes do esperado, e sendo redirecionado por outras pessoas, incluindo o ex-vice-presidente Mike Pence e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Eleitores jovens não se vêm representados
Mas mesmo que alguns destes vídeos sejam facilmente refutados, a reserva dos eleitores em relação à idade de Biden continua a ser uma das suas maiores vulnerabilidades.
Isso é particularmente verdade no caso dos eleitores mais jovens, que são tradicionalmente um grupo demográfico mais importante para os democratas do que para os republicanos nas eleições nacionais.
Assistir ao debate pode ser uma "experiência reveladora" para os eleitores mais jovens, afirma Amanda Litman, estrategista democrata e fundadora da Run For Something, organização que treina e apoia a próxima geração de candidatos democratas.
"Acho que é indicativo de uma estrutura política que privilegiou uma geração mais velha a permanecer no poder durante muito tempo", diz Litman sobre a idade dos candidatos.
"É uma das muitas razões pelas quais, especialmente os eleitores mais jovens, se sentem desconectados. Eles não se veem refletidos na liderança."
Brandt Williams, um contador de 23 anos de Connecticut, disse que vai apoiar Biden novamente em 2024. Ele vê o presidente como um estadista que tem um forte controle sobre a política externa, e apoia as políticas econômicas do democrata.
"A única questão é bastante comum", acrescenta Williams.
"A idade dele."
Embora planeje acompanhar o debate desta quinta-feira, Williams disse que gostaria de poder votar em uma "pessoa mais jovem, não só pela vitalidade, mas para representar todos os americanos, tanto jovens quanto idosos".
No Estado potencialmente decisivo da Geórgia, onde vai acontecer o primeiro debate, os democratas disseram à BBC que sentem apatia entre os jovens eleitores do partido, sendo a idade um ponto de discórdia para muitos.
"Biden está em uma posição na qual a geração mais jovem quer ação… eles não querem um discurso sobre como somos melhores como nação", afirma Titus Nichols, um advogado de 39 anos atuante no Partido Democrata no condado de Cobb, na Geórgia.
Embora o presidente "seja uma pessoa mais madura e estável, não é isso que os eleitores estão procurando", acrescenta.
Na noite desta quinta-feira, milhões de pessoas vão estar sintonizadas não apenas para ouvir as ideias e argumentos dos candidatos, mas também para julgar por conta própria o vigor de ambos.
Para Biden, golpear é fundamental se ele quiser acabar com os temores em relação à sua idade, de acordo com Litman, a estrategista democrata.
"Acho que ele precisa mostrar competência e confiança", diz ela.
"E um pouco de embate.”
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