Os líderes do Vietnã e da Rússia disseram nesta quinta-feira (20/6) que querem reforçar os laços entre os países em uma reunião na capital vietnamita, Hanói.
O presidente do Vietnã, To Lam, elogiou muito o russo Vladimir Putin, parabenizando-o por sua recente reeleição.
Putin disse que o fortalecimento de uma parceria estratégica com o país do sudeste asiático é uma das prioridades da Rússia.
A viagem de Putin ao Vietnã, que acontece imediatamente após sua passagem pela Coreia do Norte , está sendo interpretada como uma demonstração do apoio diplomático que a Rússia ainda possui na região.
"Parabéns ao nosso camarada por receber um apoio esmagador durante as recentes eleições presidenciais, ressaltando a confiança do povo russo", disse Lam ao receber Putin com tapete vermelho.
Os Estados Unidos criticaram o Vietnã por oferecer uma plataforma a Putin para promover a sua guerra contra a Ucrânia.
O Vietnã valoriza os laços históricos que tem com a Rússia, ao mesmo tempo que trabalha para melhorar a sua relação com a Europa e os EUA.
Em um pequeno parque em Ba Dinh, o bairro político de Hanói, uma estátua de Lênin com cinco metros de altura retrata o revolucionário russo em pose heróica. Todos os anos, no seu aniversário, uma delegação de altos funcionários vietnamitas deposita flores e se curva diante da estátua — um presente da Rússia do tempo da União Soviética.
Os laços do Vietnã com a Rússia são estreitos e remontam a muitas décadas, desde o vital apoio militar, econômico e diplomático dado pela União Soviética ao novo Estado comunista no Vietnã do Norte na década de 1950.
O Vietnã descreveu a sua relação como “repleta de lealdade e gratidão”. Depois de o Vietnã ter invadido o Camboja em 1978 para expulsar o regime do Khmer Vermelho, o país ficou isolado e foi sancionado pela China e pelo Ocidente, passando a depender fortemente da assistência soviética. Muitos vietnamitas de gerações mais antigas, incluindo o poderoso secretário-geral do partido comunista, Nguyen Phu Trong, estudaram na Rússia e aprenderam o idioma.
Hoje, a economia do Vietnã foi transformada pela sua integração nos mercados globais. A Rússia ficou muito atrás da China, da Ásia, dos EUA e da Europa como parceiro comercial. Mas o Vietnã ainda utiliza principalmente equipamento militar fabricado na Rússia e depende de parcerias com empresas petrolíferas russas para a exploração de petróleo no Mar do Sul da China.
A invasão da Ucrânia apresentou ao Vietnã um dilema diplomático.
O país optou por se abster nas várias resoluções das Nações Unidas que condenam as ações da Rússia, mas manteve boas relações com a Ucrânia e até enviou alguma ajuda a Kiev. Os dois países têm um legado comum da era soviética: milhares de vietnamitas trabalharam e estudaram na Ucrânia.
Tudo isto está de acordo com os princípios de longa data da política externa do Vietnã de ser amigo de todos os países, mas evitando alianças formais — o que a liderança do partido comunista chama de “diplomacia de bambu”, curvando-se aos ventos da rivalidade entre grandes potências sem ser forçado a tomar lados.
É por isso que o Vietnã melhorou as suas relações com os EUA — um país contra o qual os seus líderes mais antigos travaram uma guerra longa e destrutiva — com o interesse de procurar mercados lucrativos para as exportações vietnamitas e de equilibrar os seus laços estreitos com o seu vizinho gigante, a China.
Os EUA criticaram a visita oficial de Putin ao Vietnã, alegando que ela prejudica os esforços internacionais para isolá-lo, mas não se disseram surpresos. Além das ligações históricas especiais com a Rússia, o sentimento público no Vietnã sobre a guerra na Ucrânia é mais ambivalente do que na Europa.
Há alguma admiração por Putin como um homem forte que desafia o Ocidente.
Isto também se aplica a outros países asiáticos, onde a guerra na Ucrânia é vista como uma crise distante.
Na Tailândia, por exemplo, um aliado militar histórico dos EUA que esteve do lado oposto da Rússia durante a Guerra Fria, a opinião pública está tão dividida como no Vietnã.
Os tailandeses também valorizam os laços mais antigos entre a sua monarquia e os czares pré-revolucionários da Rússia, e o governo tailandês mantém hoje relações estreitas com a Rússia — valorizando a contribuição que milhões de russos dão à sua indústria turística.
Por quanto tempo o Vietnã manterá a sua camaradagem com Putin é incerto. O país já está à procura de fontes alternativas de equipamento militar, mas acabar com a sua atual dependência da Rússia levará anos.
Uma série de recentes demissões de alto nível dentro do partido comunista sugere intensas rivalidades internas sobre a próxima geração de líderes e, potencialmente, sobre a direção que o país irá tomar.
Mas ainda não se fala no Vietnã em abandonar o projeto de ser amigo de todos — e inimigo de ninguém.
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