Paz

A cúpula de paz na Suíça que vai discutir saídas para Guerra na Ucrânia

Mais de 90 países e instituições globais participam do evento, que tem como objetivo discutir princípios básicos para dar um fim ao conflito na Ucrânia.

Durante este final de semana, um resort suíço localizado nas proximidades do Lago Lucerna será transformado com a chegada de dezenas de líderes mundiais, além de milhares de soldados e policiais.

Mais de 90 países e instituições globais participam do evento, que tem como objetivo discutir os princípios básicos para acabar com a guerra na Ucrânia.

Os suíços esperam que a cúpula possa produzir os primeiros esboços de um processo de paz, cerca de 28 meses depois de a Rússia ter invadido o país vizinho.

Trata-se da maior reunião sobre o assunto desde o início do ataque em grande escala.

O evento é marcado pelo afastatamento de atores importantes nesse processo, como é o caso da China. Além disso, o presidente russo, Vladimir Putin, emitiu recentemente um novo ultimato — em que exige a capitulação da Ucrânia — e as expectativas de qualquer progresso concreto são baixas.

A Rússia não foi convidada para a cúpula.

Para a Ucrânia, o simples fato de esta reunião acontecer já é positivo.

Os políticos em Kiev têm saudado cada participante confirmado como um gesto de apoio.

Para eles, uma reunião desse tamanho pode demonstrar à Rússia que o mundo está do lado da Ucrânia — e do direito internacional.

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O presidente russo emitiu um novo ultimato que exige a entrega de territórios ucranianos à Rússia

A cúpula na Suíça acontece em um momento difícil.

As últimas semanas foram marcadas por uma nova ofensiva russa no nordeste, perto de Kharkiv. Mísseis atingem casas e centrais elétricas em toda a Ucrânia com uma intensidade renovada.

Portanto, num evento desse tipo, o número de convidados confirmados importa — assim como o resultado do que for discutido.

"É importante estabelecer um quadro político e jurídico para uma paz futura. Também será preciso mostrar que essa paz só pode ser alcançada a partir do plano de dez pontos estabelecidos por Zelensky", analisa o deputado ucraniano Oleksandr Merezhko.

"Isso inclui a integridade territorial da Ucrânia e a soberania do país", complementa ele.

O político se refere a um plano de paz apresentado no final de 2022 pelo presidente da Ucrânia, que insiste em obrigar a Rússia a devolver todas as terras ocupadas durante a invasão.

A Ucrânia quer agora reunir o maior número possível de países em torno dessa demanda, colocando uma "pressão psicológica" sobre a Rússia, para que o país aceite tais termos, caso chegue a essa fase.

No momento, esse cenário parece improvável.

A realização de uma cúpula foi discutida pela primeira vez quando a situação no campo de batalha parecia mais promissora para Kiev: um momento nobre para tentar definir os termos de qualquer futuro acordo de paz.

Desde então, a dinâmica da guerra mudou.

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Kharkiv (foto) foi afetada por ataques aéreos russos nas últimas semanas

"Sinto que cresce um sentimento de que a guerra não pode ser vencida pela Ucrânia", argumenta Sam Greene, do Centro de Análise de Política Europeia (Cepa).

O especialista aponta para uma "parcela significativa" do grupo da política externa dos EUA que acredita que a Ucrânia deveria "diminuir os prejuízos".

Ele também observa que há um aumento do apoio na Europa aos partidos de direita que são mais simpáticos à Rússia.

"Penso que uma coisa que este evento pretende fazer é reanimar o apoio à visão da Ucrânia de que existe uma saída aceitável", diz Greene.

Mas a participação de figuras importantes na cúpula é menos promissora do que Ucrânia e Suíça esperavam de início.

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O presidente dos EUA não irá ao evento, mas a vice-presidente confirmou presença

Joe Biden não comparecerá pessoalmente, numa decisão que incomodou Zelensky.

As tentativas de conseguir a adesão de países-chave do "Sul Global"— que não são aliados instintivos da Ucrânia — foram apenas parcialmente bem-sucedidas.

Índia, Brasil e China não vão comparecer, ou enviarão apenas representantes de baixo nível hierárquivo.

As autoridades russas têm reforçado que consideram o evento insignificante. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, classificou a cúpula como "inútil" e "insignificante". Mesmo assim, Moscou tem pressionado aliados a boicotarem o evento.

"Parece que a China decidiu apoiar sem limites o seu parceiro estratégico, a Rússia, e não o processo de paz. Eles apoiam o agressor, não a paz", lamenta Oleksandr Merezhko.

Na véspera do evento, Vladimir Putin tentou lançar outro obstáculo ao definir as suas próprias condições para um suposto processo de paz: ele deseja a capitulação da Ucrânia.

Entre outras coisas, Putin exige que a Ucrânia entregue todas as quatro regiões que a Rússia afirma ter anexado, incluindo áreas que permanecem sob o controle do governo de Kiev.

A Ucrânia considerou as exigências russas "ridículas".

A reunião no Lago Lucerna, na Suíça, abordará três dos pontos menos controversos da fórmula de paz de Zelensky: as questões da segurança nuclear, o envio de alimentos para os mercados globais e a entrega de crianças e prisioneiros ucranianos que foram capturados.

Avançar além desses pontos provavelmente não será produtivo — nem agora, nem quando Ucrânia e Rússia estiverem prontas para desistir da luta.

"Penso que, da perspectiva ucraniana, ao olhar para o que se passa nas linhas da frente, o que eles realmente precisam não é de um compromisso com a paz, certamente não a qualquer custo", argumenta Sam Greene, referindo-se ao papel dos aliados de Kiev.

"Eles necessitam de um compromisso para vencer a guerra", conclui ele.

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