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Eleições legislativas na França: Macron faz apelo por 'escolha correta'

Partidos políticos iniciam negociações para o primeiro turno das eleições legislativas, antecipadas pelo presidente após a contundente vitória da ultradireita na composição do Parlamento Europeu. Imprensa francesa considera decisão arriscada

Ainda sob o impacto da contundente vitória da extrema direita entre os franceses nas eleições europeias, o presidente Emmanuel Macron fez, ontem, um apelo ao país para que faça a "escolha correta" nas urnas no fim deste mês. O excepcional desempenho do Reunião Nacional (RN), liderado pela ultradireitista Marine Le Pen, levou Macron a dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas antecipadas.

"Tenho confiança na capacidade do povo francês de fazer a escolha correta para si e para as gerações futuras", afirmou Macron em uma mensagem publicada na rede social X (antigo Twitter). Segundo um integrante da aliança centrista no governo, o presidente francês deve conceder hoje uma entrevista coletiva para tratar do terremoto político que abalou o país no fim de semana.

Inicialmente previstas para 2027, as eleições legislativas acontecerão nos próximos dias 30 de junho e 7 de julho, em consequência do Reunião Nacional, que obteve 31,37% dos votos nas europeias, um dos melhores resultados de sua história.

A 20 dias do primeiro turno das eleições antecipadas, os partidos multiplicaram seus contatos. O RN, que venceu em 93% dos municípios franceses, anunciou que seu candidato a primeiro-ministro será o líder da lista vitoriosa nas eleições europeias, o eurodeputado Jordan Bardella, de 28 anos.

Estratégia

"Vamos implementar a política que os franceses desejam, mas vamos preparar nossa ascensão à Presidência da França (em 2027)",afirmou Marine Le Pen à emissora TF1, reconhecendo que um governo de "coabitação" (com Macron) poderia "limitar" o alcance de suas políticas.

A vitória do último domingo confirmou a estratégia de Le Pen de estabelecer uma imagem mais moderada para a antiga Frente Nacional (FN) que ela herdou em 2018 de seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas. Finalista nas eleições presidenciais de 2017 e 2022, que ambiciona concorrer de novo daqui a três anos, a líder de ultradireita prega a defesa do poder aquisitivo, junto com os temas prediletos da extrema direita como a segurança e o controle da imigração.

Para tentar ampliar seu apoio, Le Pen se reuniu com a líder de lista nas eleições europeias do partido rival de extrema direita Reconquista!, sua sobrinha Marion Maréchal. Ao contrário das eleições europeias, de turno único e com uma lista por partido a nível nacional, os franceses escolhem os 577 deputados da Assembleia Nacional em seus respectivos distritos, em um sistema majoritário uninominal e com dois turnos.

Nero

A antecipação das legislativas dividiu a aliança no poder, liderada pelo partido de centro-direita Renascimento, de Macron. Alguns dos seus integrantes defendiam outra solução: um entendimento formal com Os Republicanos (LR, de direita), seu principal apoio parlamentar desde que perdeu a maioria em 2022. A imprensa francesa considerou a decisão de Macron uma aposta arriscada. "Assim como o imperador romano (Nero) incendiou a Roma antiga, Emmanuel Macron acendeu o fósforo que incendiará sua própria cidadela?", questionou o editorial do jornal liberal L'Opinion.

Nas principais cidades francesas, milhares de pessoas se manifestaram contra a perspectiva de um governo de extrema direita. "O que aconteceu ontem (domingo) foi um choque", reconheceu Marie, uma aposentada de 69 anos em Rennes. Diante da crise política aberta, a Bolsa de Paris abriu com queda de 2,37%, que depois se limitou a 1,35% no fechamento.

A vitória na França aconteceu no contexto do avanço da extrema direita em outros países da União Europeia (UE), como Alemanha, Áustria e Itália. Apesar disso, a coalizão governante nas instituições comunitárias — conservadores, socialistas e liberais — conseguiu manter a maioria absoluta.

O impacto mais forte aconteceu mesmo na França e na Alemanha, onde o chefe de governo, Olaf Scholz descartou a convocação de eleições antecipadas, apesar do revés de sua coalizão de social-democratas, ecologistas e liberais.

"Nunca esqueçamos os danos causados na Europa pelo nacionalismo e pelo ódio", alertou, ontem, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Ao lado de Macron, ele participou de uma cerimônia para relembrar o massacre de 643 pessoas pela Alemanha nazista em Oradour-sur-Glane, no sudoeste da França, em 1944.

 


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