Rússia-Coreia do Norte

Vladimir Putin e Kim Jong-un prometem defesa mútua em caso de agressão

Em visita a Pyongyang, Putin e Kim Jong-un assinam tratado de associação global e planejam assistência mútua, se forem atacados por uma terceira nação. Norte-coreano expressa "pleno apoio" a Moscou na invasão à Ucrânia

Vladimir Putin (E) cumprimenta Kim Jong-un depois de cerimônia de assinatura de acordos bilaterais, em Pyongyang  -  (crédito: Kristina Kormilitsyna/AFP)
Vladimir Putin (E) cumprimenta Kim Jong-un depois de cerimônia de assinatura de acordos bilaterais, em Pyongyang - (crédito: Kristina Kormilitsyna/AFP)

Milhares de norte-coreanos seguravam buquês de flores e sacudiam balões, enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o ditador Kim Jong-un chegavam à Praça Kim Il-sung, em Pyongyang, para uma parada militar. As ruas da capital estavam repletas de fotos do líder do Kremlin. Ao fim da cerimônia de recepção repleta de pompa, os dois seguiram em carro aberto até o Palácio Kumsusan, onde assinaram acordos bilaterais, inclusive de defesa mútua, e confirmaram uma cooperação estratégica. "O tratado de associação global assinado hoje (quarta-feira, 19/6) prevê, entre outras coisas, uma assistência mútua em caso de agressão a uma parte", declarou Putin.

O russo destacou que "não descarta" uma cooperação militar-técnica com a Coreia do Norte. Logo depois da assinatura, ele mandou um recado ao Ocidente, especialmente para os Estados Unidos: "Rússia e Coreia têm uma política externa independente e não aceitam a linguagem da chantagem". Mais tarde, durante festa de gala em sua homenagem, avaliou que Moscou e Pyongyang lutam, juntos, contra as práticas hegemônicas e neocolonialistas dos EUA e de seus satélites.

Por sua vez, Kim explicou que o tratado "garantirá, de forma confiável", a aliança entre os dois países " contribuirá, plenamente, para a manutenção da paz e da estabilidade na Península Coreana". O anfitrião fez questão de sublinhar que o documento tem "natureza defensiva" e chamou Putin de "melhor amigo da Coreia do Norte". Durante a visita de Putin, Kim declarou que "a Coreia do Norte expressa pleno apoio e solidariedade ao governo" em sua ofensiva na Ucrânia, que motivou uma série de sanções contra Moscou. Depois de permanecer cerca de 24 horas em Pyongyang, o presidente da Rússia embarcou, na noite de quarta-feira, rumo ao Vietnã, saudado por uma multidão e por uma banda militar. 

Mikhailo Podolyak, assessor da Presidência ucraniana, acusou o regime de Kim de ajudar militarmente a Rússia e exigiu medidas mais contundentes para isolar os dois países. "A Coreia do Norte coopera hoje ativamente com a Rússia na esfera militar e fornece-lhe deliberadamente recursos para o assassinato em massa de ucranianos", criticou. Na terça-feira, a Casa Branca admitiu preocupação com o "aprofundamento da relação" entre Moscou e Pyongyang. 

"Armadilha"

Em entrevista ao Correio, o norte-americano Bruce Bennett — especialista em defesa e em Coreia do Norte pela Rand Corporation (Califórnia) — disse que Kim "caiu na armadilha de Putin". Ele considera o compromisso de defesa mútua politicamente importante para ambos, e especialmente para fortalecer a doutrinação imposta pelo norte-coreano à população contra os EUA e a Coreia do Sul. "Em termos militares, os Estados Unidos não têm razão para invadir a Coreia do Norte, e o mesmo vale para a Coreia do Sul. Por isso, o compromisso de Putin é político, não militar. Por outro lado, o russo anexou quatro províncias da Ucrânia e agora as trata como parte da Rússia. Se a Ucrânia realizar um contra-ataque para tentar retomá-las, Putin pode alegar que seu país está sob agressão e pedir a Kim que envie 100 mil soldados para defender a Rússia", observou.

Bennett reconhece que Kim enfrenta instabilidade interna. Segundo o especialista, em dezembro passado, Kim renunciou à unificação negociada e chamou os sul-coreanos de principais inimigos da Coreia do Norte. "Kim sempre se preocupou com o fato de o exemplo da Coreia do Sul fazer com que seus conterrâneos questionem por que não têm uma melhor condição de vida e coloquem em xeque o próprio regime", explicou. "Além disso, Kim está vendendo seus estoques de reserva de armas para a Rússia. Com o dinheiro obtido, compra comida, petróleo e outros bens que possam ajudá-lo a suprir as necessidades da população. Acredito que, com isso, ele espera reduzir essa instabilidade interna. No entanto, há um limite de tempo nesse processo, pois Kim pode vender à Rússia apenas uma parte de seu equipamento bélico."

Limusine e conjunto de chá entre os presentes

Limusine Aurus Senat, de fabricação russa
Limusine Aurus Senat, de fabricação russa (foto: Matti Blume)

A primeira visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte em 24 anos rendeu presentes luxuosos e típicos. O chefe do Kremlin deu ao anfitrião, o ditador Kim Jong-un, nada menos do que uma limusine Aurus Senat, de fabricação russa, estimada em US$ 443 mil (cerca de R$ 2,4 milhões). Os dois chegaram a dar uma volta no carro, em Pyongyang. Putin também presenteou Kim com um conjunto de chá e uma adaga. Por sua vez, o norte-coreano ofereceu ao visitante obras de arte, inclusive bustos com a imagem do próprio Putin. Em fevereiro passado, Kim tinha ganhado do presidente russo outra limusine sedã.

 

 

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postado em 20/06/2024 06:00
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