* Esta é uma versão atualizada de um texto originalmente publicado em 12 de abril 2017.
O leitor Miguel Aguilera perguntou à BBC News Brasil sobre o gerúndio: quando se usa e quando não se usa?
Trata-se da raiz do verbo acrescida da terminação “ndo”. Exemplos: pegando, dormindo, estudando.
Nesta série da BBC News Brasil sobre dúvidas de português, o professor Pasquale Cipro Neto lembra que o uso excessivo do gerúndio até ganhou um nome: o "gerundismo".
“Eu imagino que isso tenha surgido das traduções literais quando começou a importação, nos anos 90", conta.
"No Brasil até então pouco se importava, a gente não tinha aqui grande quantidade de produtos importados. Então vieram vários e vários produtos importados com os manuais traduzidos, sabe Deus por quem, ao pé da letra”, explica o professor.
O gerúndio em inglês foi então traduzido literalmente para o português, apesar de eles cumprirem papéis diferentes.
“O que em inglês é ‘I will be sending’, por exemplo, em português não é ‘Eu vou estar enviando’, é ‘Eu vou enviar’”, diz Pasquale.
“Alguém começou a traduzir isso ao pé da letra e, meu Deus do céu, isso infestou o teleatendimento, virou um inferno, né?”
De acordo com o professor, o gerúndio usado fora do lugar traz a ideia de uma “coisa que não vai ser resolvida nunca”.
Exemplo do que não se deve dizer: “O senhor vai ter que estar esperando”.
“Eu não posso só esperar?”, pergunta o professor.
Outro exemplo de gerúndio sem necessidade: “O senhor precisa estar pegando uma senha”.
O correto é: “O senhor precisa pegar uma senha".
De acordo com Pasquale, o gerúndio pode ser empregado em ações contínuas, que têm um curso. Exemplo: “Não me ligue nessa hora, porque eu vou estar dormindo”.
“Então nada de condenar o gerúndio por si só, coitado. Gerúndio maldito, você veio ao mundo para ser excomungado, amaldiçoado - nada disso”, afirma.
“O gerúndio é da língua, é perfeito, não há nenhum problema. Desde que ele faça o papel dele.”
Reportagem: Paula Reverbel
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