Quando o príncipe William entregou o troféu da Copa da Inglaterra de futebol masculino no estádio de Wembley, no último dia 25 de maio, ele deve ter imaginado como sua vida pôde mudar com tanta rapidez – em comparação com a mesma cerimônia no ano passado.
Um ano atrás, com a coroação do rei Charles 3º, ele se tornava o príncipe de Gales e havia desempenhado papel central na cerimônia, não apenas prestando apoio a seu pai, o rei. O par havia sido visto brinca do um com o outro durante os ensaios num clima muito amistoso, leve e alegre.
Mas, após ultrapassar o inverno britânico de 2024, pressões imensas e inesperadas ocorreram.
Afinal, no quarteto central da monarquia – o rei Charles, a rainha Camilla, o príncipe William e a princesa Katherine – o rei e a princesa de Gales foram ambos diagnosticados com câncer.
"Não deve haver muita gente que tenha recebido o diagnóstico de câncer do pai e da esposa em intervalo de tempo tão curto", afirma o comentarista real Richard Palmer. "Ele, às vezes, deve se sentir sozinho."
A situação fez com que o príncipe William concentrasse grande parte da sua atenção nos cuidados com a esposa e com sua jovem família. É compreensível que muitos dos seus outros compromissos tenham sido colocados de lado.
A necessidade de evitar assuntos políticos, devido à proximidade das eleições gerais britânicas, também levou o príncipe a limitar ainda mais os seus planos, como ocorreu em uma visita que seria dedicada a tratar da questão da falta de moradia.
O rei já voltou ao trabalho com sua energia renovada. Mas é inevitável que ainda sejam necessários certos ajustes para o bem da sua saúde.
Isso significa que o príncipe William será ainda mais claramente convocado para dividir os encargos e desempenhar seu papel de herdeiro do trono.
"Ele deve sentir que o peso do mundo está nas suas mãos. O futuro da monarquia está sobre seus ombros", declarou a escritora real Pauline Maclaran.
O oceano de distância que separa o príncipe William do seu irmão, o príncipe Harry, também aumenta as dificuldades.
E ainda circula, em torno da doença da princesa de Gales, uma nuvem tóxica de fofocas na imprensa e especulações absurdas, enquanto ela prossegue com seu tratamento contra o câncer.
A sensação deve ter sido de que o mundo da realeza, acostumado a viajar com a tranquilidade de uma carruagem, passou a girar no ritmo de uma corrida em velocidade assustadora.
Quais serão os objetivos do príncipe William, agora que ele está no olho do furacão?
Se você desligar todo o ruído de fundo em torno da família real, o que ele quer fazer do seu cargo?
Fontes próximas ao príncipe indicam que a palavra chave é "impacto". Em vez de cortar fitas de inauguração, tirar fotos e desempenhar tarefas fáceis, ele deseja oferecer projetos que façam a diferença de forma tangível e mensurável.
"Sua pergunta é: 'Como posso usar minha plataforma para o bem, para criar mudanças positivas?'", segundo uma fonte da realeza. "Ele tem grandes ambições sobre o que pode oferecer."
Na prática, isso significa tocar seus projetos de reduzir a falta de moradia, promover questões de saúde mental e apoiar iniciativas ambientais – como seu projeto Earthshot, um prêmio concedido aos autores de ideias inovadoras sobre o meio ambiente.
O príncipe William descreveu seu papel como de "liderança social" e suas visitas são chamadas de "dias de impacto para a comunidade".
Esta é uma visão millennial da monarquia: tirar a gravata e promover ativamente uma agenda social, com uma linguagem que não ficaria fora de contexto em nenhuma campanha beneficente.
Um microcosmo das suas intenções foi observado no mês passado. O príncipe, agora responsável pelo Ducado da Cornualha, ajudou na preparação do terreno de um novo centro de saúde nas ilhas Scilly, no sudoeste da Inglaterra.
William trabalhou com a prefeitura local para iniciar o projeto do Hospital Comunitário St. Mary.
"Ele arregaçou as mangas e desempenhou papel fundamental para garantir que os trabalhos começassem o mais breve possível", segundo uma fonte real. O impacto é que "as pessoas não precisarão sair do arquipélago em busca de assistência médica".
Existe ainda um novo projeto habitacional em Nansledan, perto de Newquay, também na Cornualha, para combater a falta de moradia.
Não é algo muito ostentoso. Os ativistas contra a monarquia já descreveram a família real como "reality show de TV financiado pelo Estado". Mas os tipos de projetos apoiados pelo príncipe William, muitas vezes, são muito menos glamourosos e chamam menos a atenção da imprensa.
Talvez isso se enquadre em outra característica da sua personalidade. Ele nem sempre gosta de seguir o caminho mais fácil.
É como seu time de futebol de coração, o Aston Villa. As pessoas afirmam que ele tomou deliberadamente a decisão de não torcer para os vencedores costumeiros e aborrecidamente previsíveis.
William prefere os "emocionantes momentos de montanha-russa" oferecidos pelos times que, às vezes, sobem e, às vezes, descem.
É preciso lembrar que seu pai foi mais além nesta filosofia futebolística. Ele torce para o Burnley, que foi rebaixado na temporada terminada recenetemente.
Mas a visão do príncipe William também se arrisca a sofrer críticas. O grupo antimonarquista, intitulado República, chamou os projetos do príncipe de habitação de "crassos e hipócritas... considerando o excesso de riqueza que oferecemos a ele".
Existe também a acusação de que eventuais ambições de resolver problemas de habitação sempre dependerão, por fim, de intervenções políticas que estão fora da sua alçada.
"Isso não é fácil e não está totalmente claro como ele irá conseguir", segundo Richard Palmer. "Mas muitas pessoas acreditam que ele deve ser aplaudido por tentar."
Outro ponto de atrito constante é a tensão entre o "time" William e o príncipe Harry e Meghan Markle, que quase parecem ser uma equipe adversária baseada na Califórnia.
Enquanto William cavava na Cornualha, Harry e Meghan eram recebidos como astros do rock na Nigéria.
O príncipe William tem à sua frente o desafio de fazer ideias sérias acontecerem, ao mesmo tempo em que está preso no que parece um improvável roteiro de uma novela de TV.
Existe também outra pressão geracional sobre o príncipe William, que provavelmente só irá aumentar.
Uma parte significativa da popularidade da monarquia perante o público agora depende do príncipe e da princesa de Gales. Eles são como aqueles políticos que são mais populares do que o seu partido.
Recentemente, uma pesquisa reveladora do instituto YouGov concluiu que o príncipe William e Katherine detêm índices de aprovação de mais de 70%, enquanto o apoio à monarquia como instituição ficou em 56%.
Entre os mais jovens, o apoio à monarquia é de apenas 34% – e a única faixa etária em que a maioria dos entrevistados vê a monarquia de forma positiva é entre as pessoas com mais de 50 anos de idade.
A importância da popularidade do príncipe William e sua esposa é que ela cobre todas as faixas etárias e diferentes regiões do país, em um momento em que uma minoria significativa demonstra ceticismo em relação à monarquia.
"A monarquia precisa ser relevante e ele quer modernizá-la", afirma Maclaran. E, como herdeiro do trono, William também precisará olhar em longo prazo, para o seu próprio reinado.
"Nos próximos anos, iremos vê-lo pensar qual tipo de monarca ele quer ser e de qual tipo de monarca o país irá precisar em meados do século 21", afirma o historiador Anthony Seldon.
"Ele vem definindo sua própria agenda, grande parte dela sobreposta aos interesses e paixões do seu pai", acrescentou Seldon.
Mas este é um momento de muitas incógnitas para o príncipe William. Ele tem uma enorme plataforma pública, mas precisa encontrar sua própria voz.
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