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Cúpula do G7: política arcaica, eleitor insalubre

A conferência contou com as sete democracias mais ricas do mundo e foi concluída neste sábado (15/6)

Presidente Lula na sessão de trabalho do G7 -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula na sessão de trabalho do G7 - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

No sul da Itália, de frente para o Mar Adriático, num resort pomposo, reuniram-se  até o dia de ontem os líderes do chamado G7. No centro da pachorrenta Puglia, a cerca de uma hora de carro, ou 15 minutos de helicóptero de Bari, capital da região, o local transmite o perfeito sentimento de lenta decadência chique desse grupo de sete países que, outrora, foram as maiores economias do mundo, quando a civilização ocidental não era atacada em suas credenciais.

Não são mais nem as sete maiores economias nem os sete países mais influentes, muito menos os sete países mais relevantes ou poderosos. Tais convescotes anuais são um resquício da configuração do mundo em meados dos anos 1970. Fenômeno conhecido em sociologia econômica como "inércia ou resistência". Uma tendência de instituições não mudarem, mesmo diante de mudanças ou necessidade de adaptação.

Passadas cinco décadas de sua reunião inaugural, organizada por Valéry Giscard d'Estaing no Castelo de Rambouillet, na França, nenhum dos fundadores está mais vivo. O francês Giscard d'Estaing, o último a nos deixar, em 2020, aos 94 anos, morreu após contrair covid.

Na atualidade, por mais incongruente que possa parecer, quem empresta a essa cúpula alguma legitimidade e senso de relevância para os desafios do mundo contemporâneo são justamente os grandes países não membros que são convidados para participar de tais ocasiões. Neste ano, são os mandatários de Brasil e Índia que são coadjuvantes, peculiar situação para a Índia que anda mais famosa do que alguns dos principais.

Basta indagar ao FMI quais países têm, em 2024, os maiores PIBs baseados em Paridade de Poder de Compra, o potencial de padrão de vida e do bem-estar econômico das nações, que só vamos achar três dos sete integrantes do G7 na relação. Pela lista de PIB em dólares correntes dos EUA, encontramos apenas cinco dos sete países.

O Brasil ocupa, hoje, a oitava posição em ambas as listas. Já a Índia, é a terceira maior economia na primeira e a quinta maior na segunda.

Apesar das ponderações acima, há ainda quem afirme que o G7 é o grande fórum de concertação do poder global. Algumas mentes desatualizadas, herdeiras de uma época que se foi, insistem candidamente em apostar que basta que entrem em acordo EUA, Europa e Japão para que qualquer objetivo seja alcançado no planeta. De fato, essa trinca quando se articula é de sair de baixo. Todavia, não é mais suficiente.

Sua necessidade de adaptação não é apenas uma questão de boas maneiras, mas de sobrevivência. E esses são tópicos de uma encruzilhada, que estiveram à mesa na estância praiana da Puglia, tanto sobre conjuntura global como também por conta de preocupações com as tendências domésticas observadas no comportamento dos eleitores nesses países centrais.

Afinal, dentre os países do G7, a maioria está na Europa. E três — França, Alemanha e Itália — são justamente os membros principais da União Europeia (UE), que acabou de passar pelas eleições para seu parlamento, que se divide entre Estrasburgo e Bruxelas.

É fato que os países da UE ainda estão imersos num contexto de descontentamento com partidos tradicionais e a tendência mundial do eleitor transformar partido político em clube privado. Os resultados das eleições europeias mostram que os dois grupos partidários associados à direita radical somaram menos de 20% dos assentos (18,7% para ser preciso). Na legislatura que está terminando, eles têm 18%. Ou seja, um incremento nada avassalador. O que ocorreu foi um avanço da extrema direita dentro da França e da Alemanha, o que chamou a atenção, além de uma confirmação do prestígio eleitoral da italiana Giorgia Meloni, primeira-ministra do país que recepcionou o G7.

O que realmente cresceu bastante nesse pleito foi o número de eurodeputados não alinhados a grupos partidários refletindo a diversidade política e ideológica na Europa, com tendências nacionalistas e populistas.

De fato, os não alinhados podem influenciar o equilíbrio de poder no Parlamento Europeu, especialmente em votações onde os blocos principais (PPE, S&D e Renovar) estão divididos. De todo modo, o grupo Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), de Meloni, e o extremista ID, de Marine Le Pen, de França, ainda são secundários, principalmente em relação à centro-direita do Partido Popular Europeu (PPE) e à centro-esquerda da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D).

Sendo assim, o G7 ainda tem mais que se preocupar mesmo é com o que pode acontecer na eleição dos EUA, no próximo 5 de novembro. E comparecer em peso ao G20, um fórum muito mais adequado ao mundo atual.

*PAULO DELGADO, sociólogo.

 


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postado em 16/06/2024 06:01
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