O Correio pediu à ativista palestina Walaa Najeh Hassan, 30 anos, que descrevesse como foram os 237 dias de bombardeios. Refugiada pela terceira vez, agora em Deir Al-Balah (centro da Faixa de Gaza), depois de fugir da Cidade de Gaza para Rafah e de abandonar o local nesta semana, ela respondeu: "Isso não é uma guerra, é um genocídio". Um pesadelo que pode se estender até o fim do ano, segundo uma alta autoridade israelense. "Podemos ter mais sete meses de combates para consolidar o nosso sucesso e alcançar o que definimos como a destruição do poder e das capacidades militares do (grupo extremista) Hamas", declarou Tzachi Hanegbi, conselheiro de Segurança Nacional do premiê Benjamin Netanyahu. "Para nós, a vitória significa destruir as capacidades militares do Hamas, trazer de volta todos os reféns e garantir que no fim da guerra não haja mais ameaças de Gaza", acrescentou. Por sua vez, as Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que assumiram o "controle operacional" do estratégico corredor da Filadélfia, ao longo da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.
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Walaa teme os próximos meses na Faixa de Gaza. De acordo com ela, a previsão de Hanegbi significa mais derramamento de sangue. "Haverá mais destruição, mais deslocamentos forçados, mais fome e prejuízos. Na condição de uma palestina submetida ao perigo de extermínio desde outubro passado, eu insisto se existe palavra mais descritiva do que genocídio", disse. Também em Deir Al Balah, Huda Al Assar, 57, lamentou à reportagem as perspectivas de um conflito longo. "Passaram-se oito meses, e os israelenses apenas conseguiram derrubar as casas e assassinar inocentes. Se a guerra continuar, o resultado será o mesmo", assegurou a professora de matemática, que viveu no Brasil entre 1995 e 2006 como refugiada.
Morador de Khan Yunis, a 9km de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, Khalil Abu Shammala afirmou ao Correio que o prognóstico de sete meses de guerra se insere no contexto da pressão exercida por Israel sobre o grupo extremista Hamas e os mediadores dos governos do Egito e do Catar. "Acredito que, depois que os israelenses controlarem a Faixa de Gaza e tomarem a fronteira, eles planejarão uma segunda fase da guerra. Veremos o fim das operações militares no terreno, mas haverá arranjos para a apropriação de Gaza e para impedir o Hamas de influenciar as decisões sobre o território. O Exército israelense tentará reabrir a passagem fronteiriça de Rafah, em coordenação com a Autoridade Palestina e o Egito", comentou o ativista palestino.
Contrabando
A tomada, por parte de Israel, do corredor da Filadélfia revelou pelo menos 20 túneis abertos pelo Hamas. "Estabelecemos um controle operacional" do corredor, de 14km de comprimento, admitiu um oficial das IDF a jornalistas. O corredor Filadélfia é uma área de segurança entre Gaza e o Egito, patrulhada até 2005 por tropas israelenses, que se retiraram do conjunto do território palestino naquele ano. Existia o temor de que o mesmo pudesse ser utilizado por facções armadas palestinas de Gaza para o contrabando de armamentos. Tzachi Hanegbi confirmou que Israel controla 75% da zona de segurança na fronteira egípcia.
Na terça-feira (28/5), três soldados israelenses morreram durante a explosão de um prédio repleto de bombas, em Rafah. Desde o começo da guerra, em 7 de outubro, 291 militares judeus morreram em Gaza. O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hama, estima em 36.171 palestinos mortos, incluindo 15.238 crianças; 10 mil presos sob os escombros e 81.420 feridos.
Uma fonte egípcia de alto escalão citada pela emissora Al Qahera News, vinculado aos serviços de segurança do país, afirmo que o Cairo considera que Israel utiliza as suspeitas de contrabando pelo corredor da Filadélfia "para justificar a continuação da operação na cidade palestina de Rafah e a prolongação da guerra com fins políticos". Na região de Nablus, na Cisjordânia, extremistas atropelaram e mataram dois israelenses.
EU ACHO...
"Quero que essa maldita guerra termine logo. Foram oito meses muito difíceis, sem energia elétrica, sem alimentos suficientes, sem água boa para beber ou até para tomar banho. Estamos sem estudos e sem trabalho. Enfim, é uma vida sem vida."
Huda Al Assar, 57, professora de matemática, moradora de Deir Al-Balah (centro de Gaza)