A previsão de um grande volume de chuvas entre sexta-feira (10/5) e segunda (13/5) em todo o Rio Grande do Sul, segundo os serviços meteorológicos, pode agravar a situação dramática que já vive o Estado por causas das enchentes que já duram duas semanas.
Até 12h de sábado (11/5), as inundações já tinham deixado 136 mortos, 125 desaparecidos e 756 feridos.
Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas em 445 municípios, com 340 mil tendo que deixar suas casas e 71 mil pessoas alojadas em abrigos.
Embora o nível dos principais rios do Rio Grande Sul tenha caído até sexta-feira (10/5), a previsão de chuvas ao longo do fim de semana pode fazer com que o rio dos Sinos, o Gravataí e o Guaíba voltem a subir na semana que vem, segundo a empresa de meteorologia MetSul.
O nível do Rio Guaíba voltou a subir na manhã deste sábado (11/5) e estava em 4,71 metros às 12h.
O nível está abaixo do recorde de 5,3 metros que atingiu no auge da enchente – mas ainda bem acima do que é considerado o limite para causar inundação (3 m).
A força tarefa criada pelo governo federal com o estadual tem 27 mil pessoas trabalhando no resgate e salvamento, além de milhares de voluntários.
O governo federal anunciou a liberação de R$ 1,6 bilhão para ajudar na tragédia, entre repasses diretos e emendas parlamentares, e se articula com o Congresso e o governo estadual para aumentar o valor.
Uma previsão inicial do governo do RS estimou em R$ 19 bilhões o valor necessário para enfrentar os impactos das inundações.
Grande parte do Estado ainda está sem energia elétrica, água e telefonia.
E apesar de um grande volume de doações, a distribuição é dificultada pela situação das estradas.
Nesta sexta-feira, havia 82 pontos em 51 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
O aeroporto Salgado Filho, na capital Porto Alegre, está fechado sem previsão de retorno – mas a base aérea da cidade de Canoas está recebendo aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) que atuam no resgate e transporte de recursos e equipes de salvamento.
Situação grave no sul do Estado
A região mais ao sul do Estado deve ser a que terá maior volume de chuvas nos próximos dias.
A MetSul prevê que as enchentes vai piorar nos próximos dias na área das cidades de Pelotas e Rio Grande vai piorar nos próximos dias, com a água atingindo locais "em que jamais chegou".
"A quantidade de água que está descendo os cerca de 300 km entre o Guaíba e a parte Sul da Lagoa dos Patos, tecnicamente Laguna dos Patos, é colossal. Todos os rios que desaguam na lagoa tiveram enchente recorde ou histórica."
"A quantidade de água que avança pela Lagoa dos Patos é extraordinária e jamais vista", diz a MetSul.
"A água alcançará locais em Pelotas em que jamais chegou, inclusive no Centro. Grandes áreas da quarta cidade mais populosa do Estado e a maior da Metade Sul gaúcha vão ficar debaixo d'água. Em alguns locais, a inundação será de severa a extrema."
Segundo o serviço meteorológico, a situação será tão extraordinária que as lagoas Mirim e Patos poderão se unir pela inundação, "formando uma única e grande massa d'água".
Nesta sexta, a Lagoa dos Patos já estava 1 metro acima do normal.
Por que choveu tanto no Rio Grande do Sul?
Meteorologistas ouvidos pela BBC News Brasil explicam que as chuvas intensas registradas no Rio Grande do Sul nos últimos dias são consequência de uma combinação de três fatores principais:
- Presença de um cavado (corrente intensa de vento) na região, proporcionando a formação de tempo bastante instável;
- Presença do corredor de umidade vindo da Amazônia, que potencializou a intensidade de precipitação;
- Presença de uma onda de calor na região central do país.
Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, por conta da onda de calor, as temperaturas estão cerca de 5°C acima da média neste outono.
"Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul, impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o Estado, causando chuvas intensas e continuas", explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.
Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024 ainda tem influência do fenômeno El Niño, que é responsável por aquecer as águas do Oceano Pacífico, contribuindo para que áreas de instabilidade fiquem sobre o Estado.
Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas.
"Com a intensificação das mudanças climáticas globais, os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes", acrescenta Rafael de Ávila Rodrigues, professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT).
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