As chuvas intensas que atingem o Rio Grande do Sul nos últimos dias deixam um rastro de destruição e mortes.
Segundo o último boletim divulgado pela Defesa Civil do Estado, o evento extremo já causou mais de 100 óbitos e deixou centenas de milhares de desalojados.
O governo gaúcho classifica a situação como "a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul".
Mas qual a dimensão da tragédia? Como o volume das chuvas e a extensão das enchentes se comparam às médias históricas? E quais as regiões mais afetadas até o momento?
A seguir, você confere os gráficos produzidos pela BBC News Brasil que ajudam a entender o tamanho do problema que acomete o RS.
O governo do Rio Grande do Sul estima que mais de 400 cidades foram afetadas pelos eventos.
"Os eventos meteorológicos são considerados de grande intensidade, classificados como desastres de Nível 3, que é caracterizado por danos e prejuízos elevados", diz um decreto do governo.
O decreto ainda detalha que "as situações de risco enfrentadas pelos municípios do Estado em função desses eventos meteorológicos estão ocasionando danos humanos, com a perda de vidas, e danos materiais e ambientais, com a destruição de moradias, estradas e pontes, assim como o comprometimento do funcionamento de instituições públicas locais e regionais e a interdição de vias públicas".
As chuvas que assolam o Estado superam — de longe — as médias históricas esperadas para esse período do ano.
A cidade de Santa Maria, por exemplo, registrou 533,3 milímetros de chuva em 10 dias, entre 26 de abril e 5 de maio.
O número é 3,5 vezes maior do que o esperado para o mês de abril inteiro.
Taxas parecidas podem ser observadas em algumas das principais regiões do Estado, como você confere abaixo.
Mas o que explica um volume tão grande de chuvas?
Meteorologistas ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil explicam que as chuvas intensas registradas no Rio Grande do Sul nos últimos dias são consequência de uma combinação de três fatores principais:
- Um cavado (corrente intensa de vento) em atuação na região proporcionando a formação de tempo bastante instável;
- Um corredor de umidade vindo da Amazônia, que potencializou a intensidade de precipitação;
- Uma onda de calor na região central do país.
"Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul, impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o Estado, causando chuvas intensas e continuas", explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.
Em Porto Alegre, o lago Guaíba superou todos os recordes anteriores de cheia.
Em situações normais, segundo a prefeitura do município, esse corpo hídrico tem 1,3 metro nos pontos de medição.
Quando ele fica entre 1,3 e 1,8m, considera-se que está num nível "alto".
Acima de 1,8m, as autoridades entendem que a situação exige atenção. Já quando o rio chega a 2,1m, é decretado nível de alerta.
O recorde anterior de cheia havia sido estabelecido em 1941, quando o Guaíba chegou a 4,76m.
Como você confere no gráfico a seguir, o rio ultrapassou essa marca na noite de 3 de maio, ao atingir 4,77m.
Já no domingo (5/5), ele chegou a 5,33m, o máximo observado até o momento.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul também divulgou um mapa das áreas de risco na região metropolitana (veja mais abaixo).
As autoridades orientam que os moradores desses locais procurem um local seguro — e fiquem atentos às atualizações sobre abrigos e rotas de fuga.
A Defesa Civil pede que ninguém atravesse alagamentos a pé ou de carro.
Imagens de satélites mostram como alguns dos principais rios gaúchos transbordaram e saíram das calhas onde seguem seu curso natural.
Em Canoas, cidade que fica na região metropolitana de Porto Alegre e tem quase 350 mil habitantes, as ruas de diversos bairros foram "engolidas" pelas águas.
Arraste as setas nas imagens a seguir para ver o antes e depois.
Um cenário parecido pode ser observado em Charqueadas, cidade de 41 mil habitantes que fica a oeste de Porto Alegre.
O município é banhado pelo rio Jacuí, que posteriormente desagua no lago Guaíba.
As fotografias mostram o mar de lama que tomou conta dos bairros.
As imagens de satélite começaram a ficar mais nítidas a partir de segunda-feira (6/5).
Antes disso, a forte presença de nuvens em muitas regiões do Rio Grande do Sul impossibilitava captar fotografias aéreas que permitiam entender a dimensão do estrago.
A seguir, é possível ver a cidade de Cruzeiro do Sul, que fica às margens do Taquari, um rio que mais para frente desemboca no Jacuí.
O governo do Rio Grande do Sul também realiza um monitoramento das barragens que estão em situação preocupante após as chuvas que caíram sobre o Estado nos últimos dias.
Algumas dessas estruturas, responsáveis por conter reservatórios de água para abastecimento, irrigação ou geração de energia elétrica, estão num nível de emergência.
Isso significa que elas apresentam um "risco de ruptura iminente, exigindo providências para preservar vidas", segundo um boletim assinado por representantes da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Confira a localização e o status de todas as estruturas monitoradas no mapa interativo a seguir:
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