Política Internacional

Falsos homossexuais fraudam cotas para cargos nas eleições mexicanas

Em 2021, o México aprovou leis que exigem cotas mínimas de candidatos LGBTQIAP+ para todos os partidos, sendo o número definido por cada estado

No domingo, serão realizadas as maiores eleições da história do México, em que serão eleitos presidente, parlamentares, governadores e mais de 20 mil funcionários locais -  (crédito: Daniel James/Unsplash)
No domingo, serão realizadas as maiores eleições da história do México, em que serão eleitos presidente, parlamentares, governadores e mais de 20 mil funcionários locais - (crédito: Daniel James/Unsplash)

Dezenas de candidatos foram inabilitados no México por suposta falsa representação de sua orientação sexual e identidade de gênero. Falsos candidatos trans, gays e lésbicas registraram-se como candidatos LGBTQIAP+ para cumprirem as cotas exigidas aos partidos nas eleições gerais de domingo (2), denunciam grupos e autoridades.

"Tem acontecido muitos casos, pessoas heterossexuais que tem ocupado cargos na comunidade (LGBTQIAP+) que não os pertencem, ocupando cargos que não são para eles", afirmou à AFP Yunuem Tena Calderon, uma mulher trans de 30 anos, em Merelia, capital do estado de Michoacán (oeste). 

Ao seu lado, um pequeno grupo de ativistas balançava uma bandeira com um arco-íris durante uma manifestação contra a homofobia. 

"Tem acontecido umas impugnações" através da Justiça eleitoral. "Espero que anulem as candidaturas desses que não pertencem à comunidade", afirmou a cabeleireira e trabalhadora sexual.

No domingo, serão realizadas as maiores eleições da história do México, em que serão eleitos presidente, parlamentares, governadores e mais de 20 mil funcionários locais. 

Dezenas de candidaturas registradas como sendo de "ação afirmativa", que são destinadas a populações discriminadas ou vulneráveis, foram contestadas por fraude. Só em Michoacan, já houve 26 impugnações.

Contudo, um funcionário da Defensoria Eleitoral admitiu à AFP, sem números consolidados, que há cerca cem impugnações de candidaturas LGBTQIAP+ em todo o país.

O presidente do Instituto Eleitoral de Michoacan, Ignacio Hurtado, afirmou que há falsos indígenas, pessoas com deficiência, homossexuais, mas o caso da comunidade LGBTQIAP+ é o mais espinhoso, porque a identidade de gênero é um "assunto sensível e privado" que é difícil de questionar.

No caso da diversidade sexual, é adotado o princípio da 'autodeclaração simples", ou seja, "basta eu me reconhecer como parte da diversidade', acrescentou Hurtado. "Como é que se diz ‘não é verdade’? É uma linha tênue", completa o funcionário.

Faca de dois gumes

Em 2021, o México aprovou leis que exigem cotas mínimas de candidatos LGBTQIAP+ para todos os partidos, sendo o número definido por cada estado.

Em um país conservador e de maioria católica, a exigência visa dar representação à diversidade sexual, que tem sido tradicionalmente marginalizada na política. Mas uma lei promulgada com boas intenções acabou por se revelar uma faca de dois gumes.

"Minam os esforços pela inclusão e a representação genuína da nossa população. Aqueles que usurpam essas candidaturas estão abusando do sistema e deturpam as conquistas da nossa comunidade", se queixou César Briseño, que é porta-voz do Coletivo pela Proteção de Todas As Famílias de Yucatán.

Suplantar ou usurpar o lugar de um homossexual não está "catalogado como crime eleitoral", explica Víctor Serrato, promotor para os crimes eleitorais em Michoacan.

"Certamente esse vai ser o motivo da próxima reforma eleitoral: como evitar ou como sancionar aqueles que usam o princípio de identidade de gênero para fraudar a lei e obter uma candidatura indevida", disse. 

"Mais protegidos"

Desde 2018 há registros de candidatos homens se passando por mulheres para atender à demanda por paridade eleitoral, entre outras fraudes.

Embora não seja novidade, os líderes da comunidade LGBTQIAP+ consideram que os métodos estão cada vez mais sofisticados. 

"Neste momento, em 2024, eles estão cada vez mais protegidos quando se trata de usurpar uma de nossas candidaturas. Eles já entenderam como reverter a regulamentação", diz Briseño, que se identifica como gay.

"Dois anos antes eles começam a fazer doações para organizações LGBTQIAP+, tiram uma foto (…). Simulam antecipadamente um vínculo com a comunidade", detalha. 

Os líderes de Michoacán e Jalisco (outro estado do oeste do México) denunciaram à AFP várias "usurpações" de candidaturas em 2024. 

"As ações afirmativas em nosso país, em nossos estados, foram uma farsa total sobre a questão dos gays, lésbicas e trans", lamenta em Guadalajara Jaime Cobián Zamora, de 59 anos, presidente do Congresso Nacional de  Mexicanas e Mexicanos Gays, Lésbicas e Pessoas Trans.

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postado em 31/05/2024 17:29